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Política

Chefe de milícia se beneficiava de rachadinha no gabinete de Flávio, diz MP

‘Capitão Adriano’ afirmou à ex-mulher, que trabalhava no gabinete do então deputado estadual, que também contava com o dinheiro do esquema.

O Ministério Público do Rio concluiu que o ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como Capitão Adriano, era beneficiado pelo dinheiro do suposto esquema de “rachadinha” que existia no gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual no Rio.

Os promotores chegaram a essa conclusão depois de analisar conversas via WhatsApp e dados de transações financeiras do ex-PM, segundo pedido do MP do Rio à Justiça para embasar mandados de busca e apreensão cumpridos na quarta, 18. Adriano é apontado por outro grupo do MP como chefe do Escritório do Crime, milícia que atua na zona oeste da cidade. Ele está foragido desde janeiro deste ano.


A mãe e a ex-mulher dele, Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, respectivamente, foram nomeadas assessoras no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, (Alerj), durante o período investigado. A nova etapa da investigação, que resultou na operação da quarta-feira, mostra que elas transferiram para Fabrício Queiroz, então assessor parlamentar e considerado o operador do esquema, parte de seus salários, além de terem feito saques que poderiam indicar repasses em espécie para a “organização criminosa”. O dinheiro ‘vivo’ seria uma forma de não deixar rastros no sistema financeiro.

Adriano “também era beneficiado por parte dos recursos desviados por seus parentes na Alerj”, afirmam os promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) no documento. Em um trecho da conversa dele com Danielle, o ex-capitão do Bope diz que “contava com o que vinha do seu também”, referindo-se ao salário dela que era repassado.

Em outro ponto da conversa, depois de ser exonerada do gabinete, no dia 6 de dezembro do ano passado, Danielle procurou o ex-marido para cobrar explicações e pedir que ele intercedesse para evitar sua demissão. O dia foi o mesmo em que o Estado revelou com exclusividade a investigação em curso no MP. “As coisas mudam”, disse Adriano à ex-mulher, que cobrara dele uma explicação.

Um mês depois, no dia 6 de janeiro, ele admitiu que também contava com o dinheiro dela. Adriano também indica sabia correr risco de ser preso por integrar o Escritório do Crime e passava a maior parte do tempo fora do Rio.

“As coisas não estão fáceis para mim. Só vim no Rio pra passar o fim de ano com minha mãe e ajeitar umas coisas. Amanhã já tô indo de novo”, disse, via WhatsApp.

Os dois voltaram a se falar no dia 15 do mesmo mês, quando Adriano informou que havia conversado com o “amigo” (Queiroz, segundo o MP). O ex-assessor de Flávio na Alerj teria recomendado a Danielle que não comparecesse ao depoimento para o qual havia sido convocada.

Uma tabela inserida no documento do MP, assinado no dia 5 deste mês pelo Gaecc, detalha os repasses e os saques feitos por Danielle e Raimunda. Enquanto foram lotadas no gabinete de Flávio, elas receberam cerca de R$ 1 milhão. Desse montante, 40% foram transferidos para Queiroz ou sacados em espécie, segundo a investigação.

Entre os repasses de Danielle, os promotores observaram que parte deles foi feita por meio de empresas controladas por Adriano: o Restaurante e Pizzaria Tatyara (R$ 45,3 mil) e o Restaurante e Pizzaria Rio Cap (R$ 26,9 mil).

Queiroz e Capitão Adriano são amigos há muitos anos. Os dois se conheceram em 2003, quando trabalharam no 18.º Batalhão de Polícia Militar (Jacarepaguá). Eles respondem juntos, inclusive, a um registro de ocorrência datado daquele ano. São investigados pelo suposto homicídio de Anderson Rosa de Souza, na Cidade de Deus, favela na zona oeste. O caso foi registrado como “auto de resistência” e não foi julgado até hoje.

Adriano, expulso da Polícia Militar por envolvimento com grupos criminosos, está foragido desde janeiro. Na ocasião, foi deflagrada a Operação Os Intocáveis, com foco no Escritório do Crime. Ele é acusado de ser o líder do grupo.

Em 2005, Flávio Bolsonaro homenageou o então policial com a Medalha Tiradentes, a maior honraria da Alerj. Adriano estava preso na ocasião, acusado de matar um guardador de carros. O grupo de policiais do qual ele fazia parte foi acusado de alterar a cena do crime para alegar que o caso configurava um auto de resistência.

Os diálogos de WhatsApp obtidos pelo Ministério Público foram capturados no âmbito da Operação Os Intocáveis, na qual foi apreendido o celular de Danielle. Analisadas, as conversas serviram para auxiliar no Caso Queiroz.

Ao conversar com a ex-mulher de Adriano, o suposto operador de Flávio Bolsonaro afirmou que retinha os contracheques dos funcionários do gabinete para prestar contas a terceiros, de acordo com o relatório dos promotores.

Flávio: ‘Por que o MP não denunciou ainda?’

Após a operação do MP, Flávio Bolsonaro entrou com um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar suspender novamente as investigações. O caso, que tramita sob sigilo, está sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Flávio desafiou o MP a apresentar uma denúncia contra ele como prova de que ele teria cometido irregularidades.

“Se tem tudo comprovado, tem a convicção de que eu tenho algum problema, por que (o MP) não denunciou ainda? Não denunciou porque não tem o que falar de mim, não tem do que me acusar”.

As defesas de Adriano e Danielle não foram localizadas para comentar o caso.

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