O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, assinará na manhã da quarta-feira, 20, um novo protocolo que ampliará as diretrizes de utilização da cloroquina, inclusive na fase inicial de contágio do novo coronavírus.
Em entrevista ao jornalista Magno Martins, o presidente brincou com o tema, alvo de divergências devido aos possíveis efeitos colaterias. As diretrizes do governo sobre o medicamento também provocaram o pedido de demissão do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich. "Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína", repetiu várias vezes ao fazer piada com o assunto.
Apesar de incentivar o uso do fármaco de forma irrestrita, Bolsonaro admitiu, na mesma entrevista, que o medicamento pode se mostrar ineficaz no futuro para o tratamento da covid-19, mas prefere arriscar até que haja resultados conclusivos.
O presidente ressaltou que o documento não obrigará nenhum paciente a ser medicado com a substância, mas dará a liberdade para que ele faça uso do remédio caso julgue necessário. “O que é a democracia? Você não quer? Você não faz. Você não é obrigado a tomar cloroquina, agora, quem quiser tomar que tome”, disse.
As declarações de Bolsonaro sobre o assunto ocorrem no mesmo dia em que o País bateu recordes em números de mortes e novos casos de coronavírus. Foram mais de mil óbitos decorrentes da doença em apenas 24 horas, totalizando quase 18 mil vítimas fatais. Além disso, com 17,4 mil diagnósticos em apenas um dia, o Brasil chegou a cerca de 270 mil casos registrados de covid-19 nesta terça-feira.
"Quem sabe, né? Pode ser que lá na frente digam que a cloroquina foi um placebo, ou seja, não serviu para nada. Mas, pode ser que daqui a dois anos digam 'olha, realmente curava'. E o Romero (Rodrigues, prefeito de Campina Grande) e eu não vamos ter o peso na consciência 'ó, morreu e podia ter salvo. Na minha consciência e do Romero não vai ter isso. E outra, toma quem quiser, quem não quiser não toma. "Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína", disse.
O elogio ao prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) ocorre após a cidade decidir adotar protocolo que autoriza o uso da hidroxicloroquina em pacientes em estágios iniciais de covid-19.
Diante dos novos casos de novo coronavírus, o Brasil é o terceiro País com maior número de diagnósticos no mundo. Ainda assim, Bolsonaro continuou a defender o isolamento social parcial, apenas para aqueles que fazem parte do grupo de risco. "Por volta de 70% das pessoas vão contrair o vírus. Você tem que tomar medidas para evitar? Sim. Em especial para a minha mãe que tem 93 anos de idade. Se ela contrair vai ser complicado para ela", afirmou.
O presidente afirmou, ainda, que por enquanto não estuda nomear um novo ministro da Saúde. “Por enquanto, deixa lá o general Pazuello. É um tremendo de um gestor”, disse.
Ele também contou mantém contato com o ex-ministro Nelson Teich e que ele, inclusive, passa orientações ao general Pazuello. “Gosto dele (Teich), estou quase apaixonado por ele”, brincou.
Redes sociais
Alvo de polêmicas, o presidente Jair Bolsonaro admitiu que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) é um dos principais responsáveis por gerenciar as suas redes sociais. Apesar das especulações desde o início do governo, Jair Bolsonaro evitou comentar diretamente o tema em outras ocasiões. "É o meu filho Carlos que basicamente conduz (a minha mídia social)", disse o presidente em entrevista ao jornalista Magno Martins, na noite desta terça-feira, 19.
Assim como fez na campanha presidencial, Jair Bolsonaro creditou ao filho o sucesso de sua estratégia de comunicação digital. O presidente brasileiro é o terceiro chefe de governo mais popular do mundo nas redes sociais. Ele fica atrás apenas de Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, e do presidente dos EUA, Donald Trump, segundo o Índice de Popularidade Digital (IPD) elaborado pela consultoria Quaest, a pedido do Estadão, em fevereiro.
"Por que a minha mídia social, que é o meu filho Carlos que basicamente a conduz, né, é a que mais interage no mundo? Porque a gente procura trazer, levar a informação como ela é, e a opinião fica com quem está do outro lado da linha, diferentemente da mídia tradicional", disse Bolsonaro.
O presidente considera ter sido o responsável por implementar "uma nova maneira de fazer política" e acredita que não teria conseguido sem a comunicação através das redes sociais. "Sem as mídias sociais, eu tenho certeza que não estaria aqui. As mídias sociais foram a nossa liberdade, onde as pessoas podem realmente ter uma informação real", afirmou.
Bolsonaro utiliza as suas contas em redes sociais para comunicar atos de governo, atacar adversários e criticar a imprensa. A autoria de publicações na conta oficial do presidente, no entanto, foi alvo de dúvidas desde o início do governo.
Em outubro do ano passado, Bolsonaro teve que pedir desculpas por um vídeo divulgado no Twitter que comparava instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) a hienas. Na época, Carlos negou ser o autor da postagem, apesar das informações que indicavam o contrário. O vídeo acabou sendo excluído.
No mesmo mês, Carlos pediu desculpas por outra publicação feita na conta do pai em defesa da prisão em segunda instância. Na época, o vereador disse que escreveu "sem a autorização do Presidente". "Me desculpem a todo! A intenção jamais foi atacar ninguém", disse Carlos.
Em abril do ano passado, ao ser questionado sobre o tema, Jair Bolsonaro afirmou que quem possui a senha de suas redes sociais possui a sua confiança, mas não revelou quem era os responsáveis pelas postagens. "No meu Twitter, é responsabilidade minha. Quem tem minha senha tem minha confiança. Não sou eu que posto, mas dou o aval", disse Bolsonaro na ocasião.
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