O Banco do Brasil está nos ritos finais para o lançamento de um concurso público para atrair jovens profissionais que desejam construir carreira em diferentes áreas da tecnologia, apurou o Estadão/Broadcast. A iniciativa é inédita na instituição e se conecta a outros movimentos em curso de preparação para a transformação digital pela qual passa o setor financeiro, com a propagação de fintechs e o desembarque de gigantes de TI, as chamadas "big techs".
O edital do concurso público do BB está previsto para ser divulgado ainda no terceiro trimestre, segundo fontes que concordaram em falar na condição de anonimato. Serão 120 vagas e a meta do banco é preenchê-las ainda em 2020, aumentando a já aquecida disputa por profissionais de TI no País.
Com as medidas de isolamento para conter a pandemia no País e o home office mandatório, a oferta de vagas neste segmento se multiplicou. Recentemente, os rivais Santander Brasil e Itaú Unibanco, além de gigantes como Magazine Luiza e Ambev saíram à caça de talentos para posições em TI.
"A demanda por desenvolvedores, que já era alta antes da pandemia, vem aumentando consideravelmente", diz o sócio da consultoria de recursos humanos Exec, Marcus Giorgi. "Os setores que mais têm demandado esses profissionais são os de varejo, serviços financeiros, incluindo bancos, e o de saúde como um todo".
Disputa
A maior procura contribui para elevar a escassez de mão de obra tecnológica. O Brasil forma por ano entre 40 mil e 50 mil desenvolvedores, conforme estimativas de especialistas. O número não só é insuficiente para atender à demanda das empresas, como coloca o País numa posição muito aquém na formação de talentos de TI. Nos Estados Unidos, por exemplo, são cerca de 600 mil por ano. Enquanto isso, na China, são um milhão de novos profissionais em TI a cada ano.
No caso do BB, o projeto de criar uma carreira em TI estava em gestação antes da pandemia. Engessado para contratar e reter talentos, o banco aposta no concurso público 'sob medida' como um novo modelo de atração dos profissionais que precisa. A ideia é torná-lo uma agenda anual em seu calendário, por meio de uma porta de entrada 'pequena e seleta', dizem fontes próximas à instituição.
Nesta primeira seleção, o BB quer atrair jovens talentos para vagas em diferentes áreas da tecnologia, tais como analytics, inteligência artificial, desenvolvimento de software e aplicativos (apps), dentre outras. Para recrutar a moçada que entende de transformação digital, o BB também inovou na forma de divulgar o concurso. Pela primeira vez, o banco vai às redes sociais, além de webinars e faculdades de tecnologia em busca de jovens talentos.
Em contrapartida, os interessados terão de comprovar conhecimento na área. Uma prova com conteúdo exclusivamente tecnológico está sendo preparada para o concurso, cuja abrangência será nacional.
Imersão tecnológica
Os 120 novatos selecionados devem passar por uma imersão tecnológica no banco. Para atrair os geeks, os antigos nerds, o BB oferecerá salário inicial de cerca de R$ 3,8 mil, somando benefícios. Mais do que isso, quer monitorá-los de perto. O grupo será acompanhado por executivos, que farão um trabalho de mentoria e capacitação, ajudando-os a construir a perspectiva de uma carreira de longo prazo. A intenção é desenvolver um processo nos moldes dos programas de trainees da iniciativa privada.
O apadrinhamento dos escolhidos terá duração de seis meses, conforme fontes familiarizadas com o tema. Concluída essa etapa, os profissionais aprovados terão a chance de já 'dar um up' em termos financeiros.
O salário inicial poderá ser praticamente dobrado em um esforço do banco para se tornar mais atrativo para os jovens talentos em TI. Eles também terão a chance de escolher o local de trabalho, uma vez que o BB quer manter o home office mesmo após a pandemia. Hoje com 33 mil funcionários em home office, a ideia é ter ao menos dez mil pessoas trabalhando de suas casas ou de onde desejarem.
A abertura de uma porta de entrada para talentos de TI, que antes só existia via a carreira de escriturário, é mais um passo da estratégia do BB para enfrentar a arena digital do setor financeiro. Recentemente, o banco anunciou que vai aportar R$ 200 milhões em startups, com as quais busca parcerias, e ainda aprovou um orçamento adicional de R$ 2,3 bilhões para tecnologia para os próximos três anos.
"O banco tem se modernizado, acompanhado tudo o que tem acontecido em termo de inovação bancária", disse o presidente do BB, Rubem Novaes, de saída da instituição, durante a última divulgação de resultados do banco.
Além do concurso público, o banco também pretende reforçar sua mão de obra em TI com talentos internos e que hoje estão 'escondidos' em departamentos ou agências. Para isso, uma ação online está sendo organizada, de acordo com fontes, para selecionar aqueles que tiverem interesse em uma promoção e na mudança de área. Ao fim de junho, o BB somava 92,474 mil funcionários.
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