O norte-coreano Timothy Cho, de 30 anos, é uma das raras pessoas que conseguiram escapar da opressão na Coreia do Norte, governada pelo ditador Kim Jong-in. O mais surpreendente é que ele não conseguiu escapar apenas uma vez, mas sim duas. Na primeira tentativa, foi capturado na China e deportado de volta para seu país natal. Já na segunda tentativa, foi preso dentro de uma escola americana e posteriormente enviado para as Filipinas.
Durante entrevista concedida à Crusoé, Timothy Cho compartilhou a experiência sobre a falta de liberdade na ditadura de Kim Jong-in. "Na Coreia do Norte, a liberdade de escolha é inexistente. Tudo é controlado e ditado pelo regime e pelo governo. Ao concluir o ensino médio, não há opção nem ambição para decidir o que você quer ser. O governo determina: 'Você vai para o Exército', 'Você deve trabalhar nessa fábrica', 'Você precisa se juntar a esse grupo'. Tudo é ordenado, desde as roupas que você veste até os sapatos que calça. Eles buscam igualdade promovendo a pobreza", lamentou Timothy Cho.
Durante sua detenção na China, Cho teve a oportunidade de conversar com um prisioneiro sul-coreano que o apresentou ao cristianismo. Mais tarde, ao retornar à Coreia do Norte e discutir o assunto com seu pai, ele descobriu que sua avó também era cristã. No entanto, essa informação precisava ser mantida em sigilo, pois compartilhá-la com colegas de escola poderia resultar na prisão de toda a família. Na Coreia do Norte, quando um crime é cometido, o estigma se estende às gerações seguintes, criando um fardo duradouro.
Quanto à proibição de qualquer religião em um país que já foi um centro do cristianismo (Pyongyang já foi conhecida como a Jerusalém do Oriente), Cho tentou fornecer uma explicação. "O regime proibiu rigorosamente a prática da fé, pois consideram os membros da família Kim como deuses. Os retratos da família Kim são pendurados em todas as casas, e cada casa possui essas imagens nas paredes. Do lado de fora, existem centenas e até milhares de monumentos dedicados à família Kim", revelou Cho.
De acordo com o ranking da organização não governamental Portas Abertas, que mede a perseguição aos cristãos em todo o mundo, a Coreia do Norte ocupa o primeiro lugar. Atualmente cidadão do Reino Unido, Cho, que também é crítico do regime norte-coreano, sente a responsabilidade de dar voz às vidas daqueles que ainda vivem sob opressão.
Timothy Cho visitou São Paulo a convite do Portas Abertas e compartilhou sua história com a equipe da Crusoé. "Sinto que tenho a responsabilidade de falar em nome dessas vidas [dos norte-coreanos que permanecem no país], pois eles não têm voz", afirmou.
"Quando conseguimos escapar de um país como aquele, precisamos compartilhar nossa história", finalizou.
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