O Ministério das Relações Exteriores emitiu nota oficial para celebrar o aniversário de 30 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Ucrânia, às vésperas da viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia, país em tensão com Kiev. O comunicado ressalta o que chama de “múltiplos contatos de alto nível” entre os mandatários brasileiros e ucranianos.
Apesar da pressão da ala política do governo e de diplomatas americanos, Bolsonaro embarca na próxima segunda-feira, 14, para Moscou, onde terá um encontro bilateral com o presidente Vladimir Putin e empresários locais.
Rússia e Ucrânia vivem uma escalada de tensões após Moscou direcionar tropas para a fronteira com o país vizinho, na tentativa de frear a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos, sobre a região. A chance de um conflito armado não é descartada.
A nota do Itamaraty vem em meio a críticas de que a viagem de Bolsonaro pudesse ser interpretada como um endosso à Rússia em detrimento da Ucrânia e do Ocidente. “Desde que o governo brasileiro reconheceu a independência ucraniana, em dezembro de 1991, Brasil e Ucrânia mantiveram múltiplos contatos de alto nível entre seus mandatários”, diz o Ministério.
“Como indicativo da importância das relações bilaterais entre os dois países, pouco tempo após o estabelecimento de relações diplomáticas, foram abertas embaixadas residentes, da Ucrânia em Brasília, em 1993, e do Brasil em Kiev, em 1995”, acrescenta a pasta.
A ida de Bolsonaro à Moscou em meio à crise no Leste Europeu tem sido observado por aliados ocidentais e pela própria Ucrânia. No começo da semana, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, afirmou que Washington espera que o presidente brasileiro transmita "valores compartilhados" com os Estados Unidos no encontro em Moscou, em resposta a questionamento do Estadão durante coletiva de imprensa na capital americana.
No fim de janeiro, o atual responsável pela Embaixada da Ucrânia em Brasília, o conselheiro Anatoliy Tkach, afirmou que faltava "um posicionamento do Brasil" em relação à crise geopolítica envolvendo seu país e a Rússia. Tkach ainda disse não ver a visita como um sinal de apoio à Rússia, mas advertiu que "seria interessante equilibrar a visita à Rússia com uma visita à Ucrânia".
Veja a nota do Itamaraty na íntegra:
“Aniversário de 30 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre o Brasil e a Ucrânia
Brasil e Ucrânia celebram hoje, 11 de fevereiro de 2022, o aniversário de trinta anos do estabelecimento das relações diplomáticas.
Como indicativo da importância das relações bilaterais entre os dois países, pouco tempo após o estabelecimento de relações diplomáticas, foram abertas embaixadas residentes, da Ucrânia em Brasília, em 1993, e do Brasil em Kiev, em 1995.
Desde que o governo brasileiro reconheceu a independência ucraniana, em dezembro de 1991, Brasil e Ucrânia mantiveram múltiplos contatos de alto nível entre seus mandatários.
Em 2009, os dois países estabeleceram parceria estratégica, com importantes desdobramentos nos setores espacial, de defesa e saúde. O comércio bilateral, equilibrado nas vendas de lado a lado, praticamente triplicou, em 2021, na comparação com o período inicial das relações diplomáticas, na década de 1990.
O Brasil celebra a valiosa contribuição da comunidade de ucranianos e seus descendentes em nosso País - estimada em quinhentas mil pessoas - para o desenvolvimento nacional, há mais de cento e trinta anos. Nomes célebres, como a escritora Clarice Lispector, nascida na Ucrânia, marcaram a formação cultural do povo brasileiro.”
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