O Reino Unido disse no último sábado, 22, que tem informações confiáveis sobre os movimentos russos para instalar um líder pró-Rússia em Kiev à medida que crescem os temores de que Moscou possa lançar uma invasão à Ucrânia. Neste domingo, 23, o Reino Unido prometeu retaliar com sanções econômicas se Moscou instalar "um regime fantoche" em Kiev.
De acordo com uma declaração do Ministério das Relações Exteriores, os serviços de inteligência russos tiveram contato com vários políticos ucranianos, e o ex-deputado Yevhen Murayev é visto como um líder em potencial da antiga república soviética, embora não seja o único.
A Rússia rejeitou a versão e acusou Londres de espalhar "desinformação". "A desinformação circulada pelo governo britânico é outro sinal de que os países da Otan, liderados por nações anglo-saxônicas, são os que provocam tensões sobre a Ucrânia", disse o Ministério das Relações Exteriores russo no Twitter.
A ministra britânica das Relações Exteriores Liz Truss, citada na declaração, diz que o relatório revela "a escala da atividade russa destinada a desestabilizar a Ucrânia". Truss exorta a Rússia a se engajar na desescalada e a acabar com suas campanhas de agressão e desinformação, seguindo o caminho da diplomacia.
"Haverá consequências muito sérias se a Rússia tomar essa medida para tentar invadir, mas também instalar um regime fantoche", disse o vice-primeiro-ministro britânico Dominic Raab à Sky News.
Yevhen Murayev respondeu às acusações, caracterizando como "absurdas". Em entrevista à Associated Press via Skype, ele disse que a alegação britânica “parece ridícula e engraçada” e que sua entrada na Rússia foi negada desde 2018 por ser uma ameaça à segurança russa.
Segundo ele, a sanção foi imposta após um conflito com Viktor Medvedchuk, o político pró-Rússia mais proeminente da Ucrânia e amigo do presidente russo Vladimir Putin.
O partido Nashi de Murayev - cujo nome ecoa o antigo movimento juvenil russo que apoiou Putin - é considerado simpático à Rússia, mas Murayev no domingo recuou ao caracterizá-lo como pró-Rússia. “O tempo dos políticos pró-ocidentais e pró-russos na Ucrânia se foi para sempre”, disse ele em um post no Facebook.
“Tudo o que não apoia o caminho pró-ocidental de desenvolvimento da Ucrânia é automaticamente pró-Rússia”, disse Murayev à AP.
Escalada das tensões
Estas acusações do Reino Unido vêm no dia seguinte ao encontro dos chefes diplomáticos russo e americano Sergey Lavrov e Antony Blinken em Genebra para tentar diminuir as tensões na fronteira russo-ucraniana e concordaram em continuar suas conversações "francas" na próxima semana.
Para os EUA, as acusações do Reino Unido são profundamente preocupantes. "O povo ucraniano tem o direito soberano de determinar seu próprio futuro, e nós apoiamos nossos parceiros democraticamente eleitos na Ucrânia", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Emily Horne.
Os países ocidentais acusam a Rússia de enviar tanques, artilharia e cerca de 100.000 soldados para a fronteira ucraniana em preparação para um ataque. O Kremlin nega qualquer intenção bélica, mas faz depender a desescalada de tratados que garantam a não expansão da Otan, particularmente na Ucrânia, bem como a retirada da Aliança Atlântica da Europa Oriental, algo que os ocidentais consideram inaceitável.
No início da terça-feira, a Casa Branca alegou que o presidente russo Vladimir Putin poderia ordenar o ataque "a qualquer momento" e advertiu que o Ocidente "não descarta nenhuma opção".
Na declaração de sábado, Truss disse que "qualquer incursão militar na Ucrânia seria um grande erro estratégico" e teria "custos sérios" para a Rússia.
O chefe da marinha alemã Kay-Achim Schönbach descartou o cenário de uma invasão russa na Ucrânia como "bobagem". Estas declarações motivaram sua demissão no sábado, anunciou o Ministério da Defesa alemão.
Com um nome e um sobrenome
A lista de pessoas - mencionadas pelo nome na declaração britânica - que foram sondadas pelos serviços russos também inclui o ex-primeiro ministro Mykola Azarov, que fugiu para a Rússia com o então presidente Viktor Yanukovic em 2014, após uma revolta popular em Kiev.
Os outros são o ex-chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa Vladimir Sivkovich (sancionado esta semana pelos EUA junto com outros três políticos ucranianos por suposta cooperação com os serviços de inteligência russos), o ex-primeiro ministro Serhiy Arbuzov e o ex-chefe de gabinete presidencial Andriy Kluyev.
A acusação britânica também vem poucas horas depois que o Ministro da Defesa russo Sergey Shoigu aceitou um convite para encontrar-se com seu homólogo britânico Ben Wallace para discutir a crise na fronteira ucraniana. A reunião acontecerá em Moscou.
O encontro bilateral, que seria o primeiro desde 2013, visa "explorar todas as vias para alcançar a estabilidade e a resolução da crise ucraniana", disse no sábado uma fonte do Ministério da Defesa britânico.
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