Manifestantes saíram às ruas para protestar contra o domínio do Talibã pelo segundo dia seguido, nesta quinta-feira, 19, desta vez marchando em Cabul, inclusive perto do palácio presidencial, de acordo com o vídeo feito por jornalistas locais e testemunhas. Em uma manifestação na capital do Afeganistão, cerca de 200 pessoas haviam se reunido antes que o Taleban as dispersasse violentamente.
Há relato de mortes na cidade de Asadabad, no oeste do país, de acordo com uma testemunha citada pela Reuters. Segundo o relato, combatentes Talibã atiraram contra os manifestantes que agitavam a bandeira nacional em um comício pelo Dia da Independência, comemorado no dia 19 de agosto. Não ficou claro se as mortes ocorreram pelos tiros ou pelo corre-corre que eles provocaram, de acordo com a fonte ouvida, Mohammed Salim.
A nova onda de rebeldia ocorre apenas um dia depois de a violência eclodir com protestos em duas outras cidades, também com relatos de repressão por parte do Talibã contra populares e jornalistas.
Foi também mais uma prova de que enquanto dezenas de milhares estão agora procurando deixar o país, muitos mais ficaram para trás, determinados a ter uma voz sobre o tipo de Estado em que vivem.
Um dia antes, alguns protestos tornaram-se violentos na cidade de Jalalabad, no leste do país, quando os manifestantes tentaram derrubar a nova bandeira do Talibã e substituí-la pela bandeira da República Afegã.
"Saúdem aqueles que carregam a bandeira nacional e assim representam a dignidade da nação e do país", escreveu no Twitter um alto funcionário do governo afegão deposto, Amrullah Saleh.
Na quinta-feira, uma procissão de carros e pessoas transportou bandeirolas pretas, vermelhas e verdes em homenagem ao Afeganistão nas proximidades do aeroporto de Cabul. A bandeira afegã tornou-se um símbolo de rebeldia, já que os militantes talibã têm sua própria bandeira.
Ao longo de mais de duas décadas, o Talibã provou que eles sabiam como fazer uma insurgência. Nos últimos cinco dias, surgiram sinais ameaçadores de que ainda não aprenderam a governar um país.
Muitos temem que o Talibã seja bem-sucedido em, refazer o país, apagar duas décadas de esforços para expandir os direitos humanos e conquistas das mulheres.
Depois de chegar tão rapidamente ao poder, a realidade de governar uma nação está se mostrando tão difícil para o Talibã quanto sua blitz militar nas províncias do país.
Muitos trabalhadores críticos estão se escondendo em suas casas, temerosos de represálias apesar das promessas de anistia. E serviços essenciais como eletricidade, saneamento e água limpa podem ser afetados em breve.
Enquanto o Talibã, por enquanto, tem o monopólio do uso da força, não existe um serviço policial funcional em qualquer sentido tradicional. Em vez disso, ex-combatentes estão patrulhando postos de controle e —em muitos casos, segundo relatos de testemunhas — administrando a lei como julgam conveniente.
A sugestão da liderança do Talibã, esta semana, de que a brutalidade que definiu sua regra há duas décadas era coisa do passado, nem sempre foi igualada pelas ações dos soldados nas ruas.
Os membros do Talibã estão intensificando a busca por pessoas que eles acreditam ter trabalhado com as forças dos EUA e da OTAN, inclusive entre as multidões de afegãos no aeroporto de Cabul, e ameaçaram matar ou prender seus familiares se não conseguissem encontrá-los, de acordo com um documento confidencial das Nações Unidas.
Os afegãos, fugindo do país, enfrentam a violência do Talibã no perigoso caminho para o aeroporto, onde o exército dos EUA tem tentado conter o caos contínuo. O som dos caças que rugem sobre Cabul foi quase constante na quinta-feira, quando mais forças americanas e internacionais correram para evacuar os estrangeiros, muitos ainda presos fora do aeroporto.
Finanças congeladas
O Talibã tomou o poder falando em combate à corrupção e recuperação econômica, mas para isso dependerá de ajuda internacional. O Banco Mundial permanece em silêncio, mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse na quarta-feira que bloquearia o acesso do Afeganistão a cerca de US$ 460 milhões em reservas de emergência, uma decisão que se seguiu à pressão da administração Biden.
Um acordo alcançado em novembro entre mais de 60 países para enviar ao Afeganistão US$ 12 bilhões nos próximos quatro anos também está em dúvida.
Enquanto lutam contra a crise imediata, o Talibã enfrenta ameaças à estabilidade a longo prazo do Estado.
A assistência é crítica em um país onde o Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas estima que muitos estão passando fome.
"São 14 milhões de pessoas, incluindo 2 milhões de crianças subnutridas", disse a organização.
O Afeganistão, uma nação com uma história brutal, mas também lar de belas maravilhas naturais e uma colcha de culturas, é agora o Emirado Islâmico do Afeganistão.
O Talibã reafirmou seu novo regime em uma mensagem publicada no Twitter na quinta-feira, comemorando o aniversário da independência do domínio britânico há mais de um século.
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