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Variante põe em xeque estratégia de ‘covid zero’ da China

A mutação é vista como uma ameaça para economias que tentam recuperar as perdas dos últimos 17 meses.

A disseminação da altamente contagiosa variante Delta desafia até mesmo os países com as medidas anticovid mais duras do planeta. A mutação é vista como uma ameaça para economias que tentam recuperar as perdas dos últimos 17 meses e caminhar rumo à vida pós-pandemia.

Um surto que teve origem em um aeroporto de Nanjing, cidade no leste da China, está testando as medidas de tolerância zero do país, algumas das mais rigorosas do mundo. Novas infecções estão se multiplicando e causando surtos localizados em outras partes do país, apesar do sistema de testagem em massa e de quarentenas.


A capital, Pequim, registrou ontem sua primeira infecção por transmissão local em seis meses. O caso é associado a um surto na Província de Hunan, no sul do país, entre pessoas que estiveram recentemente em Nanjing.

A variante, detectada inicialmente na Índia, que é cerca de 60% mais contagiosa que outras cepas, desafia algumas das defesas mais incisivas contra o vírus, com lugares “covid zero” – ou seja, países que haviam conseguido expurgar a doença de suas fronteiras – vendo novos surtos. Tudo isso apesar de políticas sanitárias bastante restritivas.

Entre os mais duramente afetados está a Austrália, onde a Delta vem conseguindo escapar do sistema de quarentena obrigatória em hotéis sanitários com muito mais facilidade do que cepas anteriores, aproveitando-se da baixa taxa de vacinação no país.

Um surto causado pela Delta forçou Sydney, apesar da sua eficiente infraestrutura de rastreio de contatos e testagem, a prolongar nesta semana uma quarentena imposta no fim de junho. Desde meados daquele mês, mais de 3 mil casos foram registrados na cidade.

No Reino Unido, apesar de a Delta também ser responsável pela maioria dos casos, o número de infecções vem caindo, atraindo a atenção do mundo. Mais de 70% dos adultos no Reino Unido estão totalmente imunizados e 88% receberam a primeira dose, uma das melhores situações no mundo. Entre os que não foram vacinados, muitos tiveram covid-19 ou foram assintomáticos, contribuindo para a imunidade natural.

Na China, os primeiros diagnósticos foram realizados em nove zeladores do aeroporto de Nanjing. O surto rapidamente se expandiu para seus contatos próximos e, em seguida, para outras regiões do país. Até ontem, as infecções associadas ao aeroporto já eram mais de 200, todas pela variante Delta. Este é um dos maiores surtos na China desde uma onda no início do ano no noroeste do país, quando mais de 2 mil pessoas contraíram a doença.

Muitas das pessoas infectadas na China, incluindo os funcionários do aeroporto de Nanjing, já estavam completamente vacinadas, mas apenas quatro desenvolveram casos graves da doença. Os números indicam que a resposta imunológica gerada pelas vacinas chinesas, eficazes para conter quadros críticos da covid, é menor para prevenir a transmissão da variante.

Nanjing está endurecendo suas medidas anticovid diante do surto, que registrou 18 novos casos ontem. Todos os complexos residenciais foram postos em quarentena e a cidade está começando uma terceira rodada de testes PCR em mais de 9 milhões de pessoas. O aeroporto cancelou a maior parte de seus voos e os funcionários foram postos sob restrições.

Terceira dose

Segundo estudos, a eficácia das vacinas chinesas em prevenir casos sintomáticos de covid-19 varia entre 50% e 80%, inferior aos mais de 90% das doses que usam a tecnologia de RNA mensageiro, como a da Pfizer-BioNTech e da Moderna. Ambas são altamente eficazes em conter casos graves, mortes e evitar a sobrecarga de hospitais.

Países como a Tailândia e os Emirados Árabes Unidos, que iniciaram suas campanhas com as vacinas chinesas, decidiram oferecer doses de reforço para algumas pessoas perante a variante Delta. Globalmente, a cepa já forçou os EUA a voltarem a recomendar o uso de máscara em áreas com altas taxas de contágio e atrasou a reabertura em Cingapura.

Israel decidiu começar a oferecer uma terceira dose da vacina da Pfizer para pessoas com mais de 60 anos. No país, 57% da população já foi totalmente imunizada, mas os casos aumentaram da média de 15 por dia no início de junho para mais de 1.600 agora.

Os surtos na China, mesmo que mínimos quando comparados com epidemias vistas nos EUA e no Sudeste Asiático, põem pressão para que as autoridades repensem suas campanhas de vacinação para possivelmente incluir doses de reforço. A vacinação chinesa, a mais rápida do mundo, conseguirá inocular 75% de sua população de 1,4 bilhão de pessoas com duas doses em um mês, caso mantenha seu ritmo atual.

A Sinovac, que no Brasil recebeu o nome de CoronaVac, disse na quarta-feira que uma terceira dose de suas vacinas aumenta o nível de anticorpos entre três e cinco vezes. As conclusões sobre o inoculante feito com o vírus inativado, a espinha dorsal da campanha de vacinação chinesa, constroem um argumento mais forte para dar injeções de reforço naqueles com mais risco de contrair o vírus.

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