Há 63 anos, a União Soviética colocou seu primeiro satélite no espaço. Quase quatro anos depois, colocou o primeiro homem em órbita, Yuri Gagarin. Acabou ficando atrás da Nasa na corrida espacial que se seguiu, mas mesmo após a queda da União Soviética, a Rússia permaneceu uma potência espacial confiável, juntando-se aos EUA para construir e operar a Estação Espacial Internacional nas últimas duas décadas.
Agora, o futuro do programa russo está nas mãos da nova potência espacial mundial, a China. Após anos de promessas e uma limitada cooperação, a Rússia e a China começaram a traçar planos ambiciosos para missões que competirão diretamente com as dos EUA e seus parceiros e inaugurando uma nova era de competição espacial que poderá ser tão intensa quanto a primeiro.
Eles se uniram para uma missão robótica a um asteroide em 2024. E estão coordenando uma série de missões lunares com o objetivo de construir uma base de pesquisa permanente na lua até 2030. A primeira dessas missões, uma espaçonave russa chamada Luna, nome revivido da era soviética, está programada para ser lançada em outubro com o objetivo de localizar gelo que poderia fornecer água para futuras visitas humanas.
“A China tem um programa ambicioso, tem recursos e tem um plano”, disse Alexander Gabuev, pesquisador sênior do Carnegie Moscow Center. A Rússia, por outro lado, “precisa de um parceiro”.
A nova parceria reflete a atual geopolítica. China e Rússia têm se aproximado cada vez mais e seus líderes, Xi Jinping e Vladimir V. Putin, vêm suavizando décadas de desconfiança e criando uma aliança potente – apesar de não ser oficial – contra o que eles percebem como o comportamento hegemônico dos EUA. O espaço se tornou uma extensão natural dos laços entre os dois países em meio a relações cada vez mais tensas com os EUA.
Funcionários russos indicaram que seu país pode sair da Estação Espacial Internacional assim que o atual acordo terminar em 2024. O lançamento no ano passado da cápsula tripulada SpaceX já havia encerrado a função da Rússia de enviar astronautas americanos à órbita.
A Rússia citou várias questões para sua saída, mas a política parece ser a principal. Na semana passada, o diretor da agência espacial russa, Dmitri O. Rogozin, disse que a Rússia se retirará se os EUA mantiverem as sanções que afetaram o programa espacial russo.
“A cooperação EUA-Rússia na estação espacial foi elogiada como um símbolo da capacidade dos países de trabalharem juntos, mesmo em tempos de estresse, mas esse estresse chegou a um ponto em que todas as apostas estão canceladas”, disse Joan S. Johnson-Freese , professor de segurança nacional no Naval War College, dos EUA.
A Rússia vem tentando manter um histórico programa espacial que tem lutado contra a obsolescência e a corrupção em meio a uma economia estagnada. Já a China, que estava atrasada na exploração espacial, saltou para o topo das potências espaciais com missões que a Rússia e a União Soviética não conseguiram cumprir, incluindo pousar em Marte no mês passado.
A China diz que transformou a necessidade em virtude, desenvolvendo as próprias capacidades espaciais, apesar de também ter comprado equipamentos dos russos para ajudar a construir duas estações espaciais temporárias em 2011 e 2016. A terceira, chamada Tiangong, ou “Palácio Celestial”, foi projetada a ser concluída em 2022 e deverá orbitar a Terra por pelo menos uma década.
Trabalhar com a China agora deu à Rússia a possibilidade de buscar o tipo de viagem científica ambiciosa que não conseguiu por conta própria na era pós-soviética, enquanto lutava com orçamentos em declínio e corrupção.
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