A Índia registrou quase 315 mil novos casos de covid-19 em 24 horas, um recorde mundial que deixa os hospitais de Nova Délhi no limite de suas capacidades e diante de uma preocupante escassez de oxigênio medicinal.
A segunda onda da covid-19, atribuída sobretudo a uma "dupla mutação" do vírus, mas também à recente celebração de grandes eventos, mostra, mais uma vez, as falhas do sistema de saúde do país.
O ministério da Saúde indiano informou nesta quinta-feira, 22, que o país contabilizou 314.835 novos casos em apenas um dia, o maior balanço em 24 horas registrado até agora por uma nação.
Desde o início da pandemia, a Índia registra 15,9 milhões de infectados, o que significa que é o segundo país com o maior número de casos, atrás apenas dos Estados Unidos e à frente do Brasil (14,12 milhões de casos).
Mas o Brasil, com 212 milhões de habitantes, tem um balanço de 381 mil mortos, o dobro da Índia, onde vivem 1,3 bilhão de pessoas.
Nas últimas 24 horas o país também registrou 2.074 mortes, o que eleva o balanço oficial da epidemia no país a quase 185 mil vítimas fatais.
O número de casos e mortes na proporção por sua população, no entanto, continua sendo consideravelmente menor na Índia que em vários países.
"Por quê o governo não acorda"?
Vários hospitais e clínicas de Nova Délhi fizeram um apelo desesperado ao governo central para que proporcione urgentemente oxigênio a centenas de pacientes em estado grave.
Na quarta-feira, a capital do país recebeu 500 toneladas de oxigênio medicinal, uma quantidade inferior às 700 toneladas diárias que a cidade precisa.
O governo da megalópole de 25 milhões de habitantes acusou os estados vizinhos governados pelo BJP, o partido do primeiro-ministro Narendra Modi, de adiar o abastecimento.
Na quarta-feira, o Tribunal Superior de Nova Délhi ordenou ao governo que garanta o abastecimento de oxigênio aos hospitais de todo o país.
"Não podemos deixar que as pessoas morram por falta de oxigênio [...] Implorem, peçam emprestado e roubem, mas forneçam", afirmaram os juízes, que questionaram: "Por que o governo não acorda para a gravidade da situação?"
Mercado clandestino de medicamentos
Parentes de pacientes são obrigados a pagar preços exorbitantes por medicamentos e oxigênio no mercado clandestino, ao mesmo tempo que os pedidos de ajuda proliferam nas redes sociais.
Na cidade Lucknow, norte do país, Ahmed Abas, de 34 anos, comprou um cilindro de 46 litros por 45 mil rupias, nove vezes acima do preço habitual.
Em Patna, no nordeste, Pranay Punuj recebeu uma ligação durante a madrugada do hospital em que sua mãe estava internada com o alerta de que não havia oxigênio suficiente para o tratamento.
"Várias horas depois, conseguimos, com um preço muito elevado, um leito em um hospital particular, para onde a levamos", disse à Agência France-Presse.
Os hospitais do estado de Maharashtra, no oeste, e de sua capital, Mumbai, epicentro do surto de coronavírus, também enfrentam uma escassez de medicamentos.
"Estamos pagando pela má gestão do governo", declarou à Agência France-Presse Ananya Bhatt, estudante de 22 anos. "Que tipo de país deixa que seus cidadãos sufoquem assim?".
Nas redes sociais, dezenas de influencers criaram uma campanha para ajudar pessoas necessitadas, como a ativista pelo clima Disha Ravi e a estrela do YouTube Kusha Kapila.
Os Estados do país adotaram medidas diferentes de restrições: desde segunda-feira à noite Nova Délhi está em confinamento por uma semana, todas as lojas não essenciais estão fechadas no estado de Maharashtra, enquanto em Uttar Pradesh, que tem 200 milhões de habitantes, um confinamento entra em vigor durante o fim de semana.
O governo dos Estados Unidos desaconselha viagens à Índia, o Reino Unido incluiu o país na "lista vermelha" e Hong Kong e Nova Zelândia suspenderam os voos procedentes do país.
A Índia aplicou mais de 130 milhões de doses de vacinas até o momento e a partir de 1º de maio todos os adultos poderão ser vacinados.
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