Os israelenses vão às urnas nesta terça-feira, 23, pela quarta vez em menos de dois anos. O cenário mudou desde as últimas eleições, há um ano. Na época, o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, enfrentava protestos por acusações de corrupção. Seu grande apoiador, Donald Trump, estava à frente da Casa Branca e a pandemia estava no início. Mas, mesmo liderando um programa-modelo de imunização, o premiê luta para se manter no cargo.
Netanyahu liderou a imunização, negociando diretamente com a Pfizer para que as vacinas chegassem a Israel antes de outros países. Quase três meses após o início da campanha eleitoral, quase metade da população de 9 milhões de habitantes já tomou as duas doses (dois terços do eleitorado) e os testes positivos caíram para menos de 2%. O número de casos graves baixou para menos de 600 pela primeira vez em dois meses.
Na semana passada, diante do bom resultado, o governo divulgou uma lista de flexibilização das medidas restritivas, como o aumento da participação de vacinados em eventos culturais e esportivos. De acordo com a analista Rajel Leghziel, o sucesso da campanha pode aparecer nas urnas. “Muitas pessoas estão contentes com a vacinação e podem votar no Likud, partido de Netanyahu. E ele está se aproveitando disso”, disse. “Ele tentou usar o slogan do Ministério da Saúde, ‘Voltando à Vida’, mas foi impedido pela Justiça, e agora decidiu usar a frase ‘Voltando a sorrir’.”
Eleitora de Netanyahu, Esther Mizrahy está confiante na vitória. “Se você olhar outros países que não estão vacinando tanto, como a França, que vai entrar em confinamento de novo, isso certamente vai favorecê-lo”, avalia. Por outro lado, ela critica os custos com a realização de uma nova eleição. “Estão gastando milhões em mais uma eleição. Sou contra. Acho que todo esse dinheiro deveria ir para o comércio e para quem perdeu o emprego durante o surto.”
As eleições foram convocadas após a dissolução do Parlamento, em dezembro. De acordo com o cientista político Gideon Rahal, isso não é necessariamente um problema em um sistema parlamentarista como o de Israel. “Do ponto de vista democrático, para governar, o premiê precisa ser esperto o suficiente para construir uma boa coalizão com partidos que tenham diferentes pontos de vista”, afirma.
Em Israel, onde o voto não é obrigatório, conquista o poder o partido que conseguir a maioria das 120 cadeiras no Parlamento. As vagas são alocadas de maneira proporcional aos partidos que ultrapassarem a cláusula de barreira de 3,25% dos votos. Nas últimas três eleições, o Likud terminou quase empatado com o Azul e Branco, partido de centro-direita do ex-general Benny Gantz. Um acordo de divisão do poder entre os dois líderes permitiria que Netanyahu se segurasse no cargo até outubro de 2021, quando os dois trocariam o posto.
Mas, antes disso acontecer, um impasse orçamentário – muitos dizem que provocado pelo próprio Netanyahu – causou o rompimento dos dois e forçou uma nova eleição. Isso deu ao premiê a chance de formar um novo governo sem precisar mais ceder poder a Gantz, que considerou a estratégia uma traição.
Netanyahu, que está há 12 anos no poder, agora não tem apenas um oponente, mas três: o centrista Yair Lapid, o conservador Gideon Saar e o radical de direita Naftali Bennett. Pesquisas apontam que o Likud deve obter entre 27 e 30 cadeiras. Seria a formação mais votada, mas longe da maioria de 61 deputados. Ele precisaria, portanto, de construir uma coalizão com os partidos religiosos.
Leghziel acredita que os eleitores estejam cansados de comparecer às urnas em tão pouco tempo. “A mensagem que o governo tem passado à população é de ingovernabilidade. Os eleitores passam a acreditar que as negociações no Parlamento não estão indo bem, o que pode fazer com que desistam de votar”, disse.
A assistente social Frances Hollander concorda. “Depois de dois anos, ficou claro que o premiê não consegue manter um governo estável. Ele deveria ser substituído pelo seu partido, mas se tornou tão poderoso que as pessoas têm medo de perder seus assentos, caso se rebelem. Infelizmente, acredito que tudo continuará como está, e teremos de fazer uma quinta eleição em breve.”
O medo de contaminação durante a votação também pode afugentar quem ainda não se vacinou ou aqueles que não querem perder tempo na fila. Para resolver o impasse e atrair eleitores, Netanyahu garante que adotará medidas de segurança, como a diluição no número de eleitores em cada urna, distanciamento social – indicado por meio de fitas de marcação –, barreira transparente entre o eleitor e o mesário, higienização e obrigatoriedade do uso da máscara.
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