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Filipinas enfrentam rastro de destruição após passagem de tufão

Tempestade tocou território filipino levando chuvas torrenciais e ventanias de até 270 quilômetros.

"As árvores quebraram como se fossem palitos de fósforo", afirmou Ed Boysillo, de 54 anos, funcionário municipal de Ubay, na província filipina de Bohol, no centro do país, descrevendo o avassalador poder do supertufão Rai. A tempestade tocou o território filipino em 16 de dezembro, levando chuvas torrenciais e ventanias de até 270 quilômetros por hora, comparável à intensidade de um furação de categoria 5.

O tufão destruiu prédios, fez rios transbordarem e forçou o mais de 7 milhões de pessoas a deixar suas residências — também cortou o fornecimento de eletricidade, de água e as redes de comunicações; e danificou infraestruturas cruciais no país.


Até a manhã de segunda-feira, 27, a tempestade havia matado 389 pessoas, ferido outras 1.146 e deixado 65 desaparecidos, segundo registros oficiais. Mais de meio milhão de pessoas ainda estavam em centros para desabrigados ou nas casas de parentes e amigos.

O cheiro da morte pairava sobre Bohol, onde uma família revirava destroços tentando salvar uma porta ornamentada com enfeites de Natal. Um Papai Noel inflável que havia resistido à cortante ventania vagueava pelo ar desamparado, seu rosto afetuoso contrastando marcadamente com a destruição.

Antero Ramos, de 68 anos, natural do vilarejo de Casare, em Ubay, perdeu para a tempestade sua mulher, Tarsila Ramos, de 61, e as duas filhas, Nita, de 37, e Nenita, de 28. "Minha mulher decidiu que tínhamos de deixar nossa casa, então decidimos nos abrigar na bodega que usávamos para armazenar arroz", afirmou ele. "Mas assim que entramos, a bodega desabou sobre nós", afirmou ele.

O zelador da bodega também morreu. "É um Natal muito triste", afirmou Ramos. “Tivemos de enterrá-los imediatamente, porque os agentes funerários não conseguiam chegar na bodega, porque ainda há escombros interrompendo as estradas.”

O Rai (nome internacional para a tempestade, localmente chamada de Odette), foi o 15.º tufão a atingir as Filipinas este ano. A passagem da tempestade atingiu múltiplas regiões do país, em oito momentos.

Calamidades não são novidade em Bohol. Em outubro de 2013, um poderoso terremoto destruiu uma igreja e danificou severamente infraestruturas locais. Houve poucas mortes porque o tremor ocorreu durante um feriado.

Um mês depois, o supertufão Haiyan, a tempestade mais poderosa a atingir as Filipinas segundo os registros históricos, devastou enormes regiões do país e deixou 6,5 mil mortos ou desaparecidos. Frederic Soupart, dono do resort Fox and the Firefly, em Bohol, disse acreditar que o Rai foi pior do que o Haiyan.

Rai espalhou destruição ao sair das Filipinas pela Ilha Palawan, no oeste do país. Partes do resort dele ficaram enterradas por uma camada de lama que chegava à altura da cintura. "Nunca vi uma inundação como esta", afirmou ele, estimando que os reparos para a destruição causada pela tempestade custarão milhões de pesos filipinos.

O resort dele é próximo do Rio Loboc, e ele e seus funcionários teriam de retirar com pás a lama que cobria sua propriedade. "Nem parece Natal", afirmou Soupart. "Eu fui comprar umas coisas na loja de material de construção, e as canções de Natal que tocavam lá me incomodaram."

As operações de limpeza têm sido vagarosas, apesar de o Exército filipino ter acionado batalhões de engenharia para ajudar na reconstrução. Redes de eletricidade e telecomunicações não haviam sido restabelecidas em Bohol e muitas outras regiões.

Em Siargao -- região que atrai surfistas, na ponta nordeste da Ilha Mindanao, a leste de Bohol — não restou nenhuma estrutura em pé ou sem danos. O governo retirou de lá dezenas de turistas estrangeiros e filipinos em um avião militar. Mas alguns escolheram ficar para ajudar na reconstrução.

A vice-presidente filipina, Leni Robredo, que foi uma das primeiras autoridades nacionais a visitar as regiões devastadas, afirmou na sexta-feira em uma mensagem de Natal: “A esperança está em nossa união”. Muitos filipinos buscaram conforto na igreja. Padres pediam calma, enquanto o governo nacional enfrentava dificuldades para levar ajuda aos habitantes.

Fiéis de Bohol usaram lanternas e velas para iluminar uma missa ao amanhecer. Donn De Lima, de 44 anos, estava entre as dezenas de membros da Paróquia de Santo Niño, em Ubay, que compareceram à Missa de Natal. Chovia forte, e goteiras pingavam do teto da igreja. “Este Natal foi triste, porque minha casa ficou muito danificada”, afirmou ele. Depois da missa, sua família planejava compartilhar uma ceia simples, sob a luz de uma lanterna recarregável.

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