O presidente da Rússia, Vladimir Putin, negou neste sábado, 13, que Moscou tenha ajudado a orquestrar uma crise que deixou centenas de migrantes do Oriente Médio bloqueados na fronteira entre Belarus e Polônia.
"Quero que todo o mundo saiba. Não temos nada a ver com isto", declarou o presidente em uma entrevista ao canal Vesti, depois que a Polônia e outros países ocidentais acusaram Moscou de ter orquestrado com Minsk o envio de migrantes à fronteira.
O presidente russo responsabilizou os países ocidentais pela crise, ao afirmar que suas políticas no Oriente Médio estimulam o desejo dos imigrantes de viajar ao continente europeu.
Para resolver a crise, Putin recomendou que os líderes europeus conversem com o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, como, segundo ele, estava disposta a fazer a chanceler alemã Angela Merkel.
"Não devemos esquecer de onde vem as crises associadas aos imigrantes...foram criadas pelos próprios países ocidentais, incluindo os europeus", disse.
Belarus afirma que quase 2 mil pessoas - incluindo mulheres e crianças - permanecem na área de fronteira. A Polônia diz, no entanto, que o número varia entre 3 e 4 mil e alega que a cada dia chegam mais imigrantes.
Barracas e aquecedores
Os imigrantes, curdos em sua maioria, estão bloqueados na fronteira entre Polônia e Belarus sob temperaturas próximas de zero grau. Para enfrentar o frio, eles aguardam em barracas e queimam lenha.
A situação é cada vez mais preocupante. A Polônia não permite que atravessem a fronteira e acusa Belarus de impedir a saída do grupo da região.
Neste sábado, as autoridades bielorrussas anunciaram a entrega de barracas e aquecedores às pessoas bloqueadas, uma medida que pode prolongar a presença dos migrantes na fronteira da União Europeia (UE).
"A parte bielorrussa está fazendo todo o possível para proporcionar o que precisam. Entregamos água, lenha e ajuda humanitária", disse Igor Butkevich, diretor adjunto do comitê estatal de fronteiras, à agência estatal Belta.
Há vários meses os imigrantes tentam atravessar a fronteira, mas a crise foi agravada na última segunda-feira, 8, quando centenas de pessoas tentaram entrar ao mesmo tempo na Polônia e foram impedidas pelos guardas.
Neste sábado, a polícia polonesa informou que encontrou o corpo de um jovem sírio na floresta próxima da fronteira. "As causas da morte ainda não foram determinadas", afirma um comunicado.
Este óbito elevaria a 11 o número de vítimas fatais da crise migratória, segundo diversas ONGs. A polícia também informou que mais de 100 pessoas tentaram cruzar a fronteira de maneira irregular durante a noite.
A UE acusa Belarus de organizar os deslocamentos de migrantes, com a emissão de vistos e até voos fretados, com o objetivo de provocar uma crise migratória na Europa, em resposta às sanções internacionais contra o governo de Lukashenko.
Novas sanções
De fato, na próxima semana, o bloco europeu pretende ampliar as sanções.
O vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro que as sanções serão "aprovadas e aplicadas".
Ele explicou que as medidas serão adotadas, entre outros, contra a companhia aérea estatal Belavia, acusada de fretar voos para migrantes da Turquia para Minsk.
Na sexta-feira, a UE afirmou que registrou "progressos" para frear o fluxo de migrantes na fronteira entre Belarus e Polônia, depois que a Turquia proibiu o embarque de cidadãos da Síria, Iraque e Iêmen em voos para a capital bielorrussa.
O principal conselheiro de política externa do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou à Agência France-Presse que Ancara não pode ser culpada.
"Parece que um número significativo de migrantes e viajantes segue para Belarus e depois para Lituânia, Polônia e outros Estados europeus. Culpar a Turquia ou a Turkish Airlines é simplesmente errado e inapropriado", disse Ibrahim Kalin.
"Esta crise não tem nada a ver com a Turquia", insistiu.
A tensão é cada vez maior na fronteira e os dois países mobilizaram suas tropas. Na sexta-feira, Belarus advertiu que responderia a qualquer ataque contra seu território.
Apesar da pressão do Ocidente, Lukashenko pode contar com o apoio da Rússia. Tropas aéreas dos dois países organizaram na sexta-feira "exercícios de combate" perto da fronteira entre Belarus e Polônia.
Porém, o apoio de Moscou a Minsk costuma ser cauteloso. Em uma entrevista, Putin disse que Lukashenko atuava por conta própria quando ameaçou durante a semana cortar o trânsito do gás russo através de Belarus com destino a Europa.
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