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Donald Trump tenta cartada final para anular sua derrota

Presidente pressiona bancada republicana para rejeitar certificação de resultado em sessão conjunta do Congresso.

Em seu comício na Geórgia na noite de segunda-feira, Donald Trump rapidamente se voltou ao argumento defendido desde que perdeu as eleições de 3 novembro: "Nós nunca perdemos a Geórgia. Não tem como". Enquanto sua viagem ao Estado tinha o objetivo de apoiar os candidatos republicanos ao Senado que disputavam o segundo turno, Trump aproveitou para reforçar uma pressão que tem dividido o partido: não certificar a vitória de Joe Biden nesta quarta-feira, 5, no Congresso.

A Geórgia foi um dos Estados que deram a vitória ao democrata, um resultado que o presidente republicano nunca aceitou e tenta até o último momento mudar. Hoje, o Congresso deve confirmar certificar a votação do colégio eleitoral, procedimento basicamente cerimonial que ganhou agora outro peso.


Nos últimos dias, Trump vem aumentando sua pressão sobre aliados e colegas do Partido Republicano a subverter a ordem democrática usual e barrar a eleição vitoriosa de um adversário. Nesse esforço, seu vice, Mike Pence, como presidente do Senado, virou o principal alvo.

Na Geórgia, Trump sugeriu que Pence poderia não reconhecer a vitória de Biden na sessão conjunta do Congresso. O argumento voltou em uma postagem do presidente no Twitter ontem. “O vice-presidente tem o poder para rejeitar eleitores escolhidos de modo fraudulento”, escreveu Trump. Um pouco antes, ele havia postado que os dois candidatos que disputavam o segundo turno na Geórgia, Kelly Loeffler e David Perdue, decidiram se juntar ao grupo de congressistas que pretende obstruir a certificação hoje.

Segundo o jornal Washington Post, Trump está efetivamente sabotando o Partido Republicano em seu caminho para deixar a Casa Branca. Na avaliação do jornal, assim como fez em seus quatro anos de governo, Trump criou uma divisão profunda e apaixonada dentro do partido, com legisladores forçados a escolher entre certificar os votos de seus constituintes ou satisfazer um presidente em sua cruzada sem fundamento.

Enquanto alguns republicanos tomavam partido, outros expressavam raras críticas a Trump por sua tentativa de pressionar as autoridades eleitorais da Geórgia a mudarem os votos durante uma ligação, no sábado, ao secretário de Estado, Brad Raffensperger. Ontem, um juiz federal anulou mais um processo do presidente que tinha o objetivo de reverter o resultado no Estado.

As lutas internas estão colocando um holofote nas divisões do partido e criando um cenário que o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, queria evitar quando alertou aos membros para que não se opusessem à certificação. Em vez disso, em um raro ato de desafio ao líder, pelo menos 13 senadores republicanos decidiram uma objeção aos votos, oferecendo um vislumbre das ambições políticas rumo a 2024, como avaliaram os sites Politico e The Hill.

Enquanto os senadores Josh Hawley e Ted Cruz se posicionam como os principais porta-vozes para contestar a certificação, alinhando-se com Trump, os senadores Tom Cotton e Ben Sasse tentam capitalizar do lado oposto. Outros republicanos, como os senadores Marco Rubio e Tim Scott e o próprio vice tentam se manter em uma posição segura e falam pouco.

“Tem pessoas que querem se candidatar à presidência, então sua prioridade não é necessariamente a mesma que a de McConnell. E tem aqueles que estão morrendo de medo de serem subservientes. ... É isso o que McConnell queria? Não, claro que não”, disse o estrategista republicano Doug Heye, ex-diretor de comunicações do Comitê Nacional Republicano, ao The Hill.

O debate, de acordo com o Politico, ressalta como a fidelidade a Trump – que pode concorrer novamente em 2024 – emergiu como a linha de batalha definidora na luta pelo futuro do Partido Republicano. O site lembra que, embora as primárias anteriores tenham girado em torno de questões polêmicas, como saúde ou imigração, as próxima poderão girar em torno de quão leal alguém foi a Trump.

“Parece muito com o processo de abertura de uma campanha das primárias presidenciais republicanas, pelo menos um teste muito precoce sobre aonde os candidatos em potencial estão em uma questão muito importante para os eleitores republicanos”, disse Lanhee Chen, um conselheiro na campanha presidencial de 2012 de Mitt Romney.

Pretensões para 2024

De acordo com a imprensa americana, é quase certo que o esforço fracassará no final, com as maiorias bipartidárias da Câmara e do Senado determinadas a rejeitar a tentativa de Trump de anular a eleição. Mas a investida forçará um debate público que permitirá projeções a nomes que com pretensões para 2024.

A jogada, de acordo com o New York Times, garantirá um confuso confronto ao final da era Trump, sobre o qual os líderes republicanos temem que possa dividir o partido em dois e abrir uma luta sangrenta e destrutiva sobre seu futuro. Em um editorial, o jornal Wall Street Journal acusou Hawley e Cruz de atuarem de acordo com seus próprios cálculos presidenciais às custas do país.

“Dar crédito à falsa alegação de Trump de que a eleição foi roubada é um ataque altamente destrutivo ao nosso governo constitucional”, disse o republicano veterano John C. Danforth, que ajudou a projetar a carreira política de Hawley, em um comunicado. “Isso é o oposto de ser conservador; é ser radical.”

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