A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos acusará formalmente o ex-presidente Donald Trump nesta segunda-feira, 25, de incitar uma insurreição em um discurso incendiário a seus seguidores antes do ataque deste mês ao Capitólio que deixou cinco mortos, marcando o início do segundo processo de impeachment do republicano.
Nove deputados democratas da Câmara que atuarão como procuradores irão ao Senado perto das 19h (21 horas de Brasília) desta segunda-feira levando o artigo de impeachment ao Senado, onde Trump será julgado, apesar de já ter deixado o cargo após a derrota para o democrata Joe Biden nas eleições presidenciais do ano passado.
A ação marcará dois acontecimentos inéditos: Trump é o único presidente norte-americano a sofrer impeachment na Câmara duas vezes e será o primeiro a ser julgado depois de deixar o cargo. Uma condenação no Senado pode resultar em uma votação para impedi-lo de voltar a ocupar cargos públicos.
Líderes do Senado, que está dividido pela metade entre democratas e republicanos, mas onde os democratas têm maioria por causa do voto de desempate da vice-presidente da República e presidente da Casa, Kamala Harris, concordaram em não iniciar o julgamento antes de 9 de fevereiro. Isto dá a Trump mais tempo para preparar uma defesa, e permite à Câmara se concentrar nas prioridades iniciais do presidente Biden, inclusive indicações ao gabinete.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos de sexta-feira revelou que 51% dos norte-americanos acreditam que o Senado deveria condenar Trump. O número se dividiu essencialmente de acordo com as filiações partidárias, já que menos de dois em 10 republicanos concordam.
Divisão entre republicanos
O segundo julgamento de impeachment do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump sob a acusação de incitar a invasão do Capitólio agravou uma disputa entre seus colegas republicanos.
Um republicano, o senador Mitt Romney, disse acreditar que o julgamento, que pode proibir Trump de se candidatar no futuro, foi uma resposta necessária ao apelo inflamado do ex-presidente a seus partidários para “combater” sua derrota eleitoral na invasão do dia 6 de janeiro.
Dez republicanos se juntaram nesta segunda, 25, à Câmara dos Deputados no voto pelo impeachment de Trump sob a acusação de incitar insurreição. Os líderes do Senado, atualmente dividido entre os partidos, concordaram em iniciar o julgamento em duas semanas, ganhando tempo para confirmar alguns dos indicados ao gabinete do presidente Joe Biden e, possivelmente, discutir seu pedido para uma nova rodada de auxílio financeiro para a população atingida pelo coronavírus.
“O artigo de impeachment enviado pela Câmara sugere conduta impugnável”, disse Romney, crítico frequente de Trump e que votou pela condenação durante o primeiro julgamento de impeachment, à Fox News neste domingo. “Está bastante claro que durante o ano passado e agora houve uma tentativa de corromper a eleição dos Estados Unidos e não foi pelas mãos do presidente Biden, e sim pelo presidente Trump.”
Na noite após a invasão dos apoiadores de Trump ao Capitólio vários republicanos condenaram a violência. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, culpou Trump pelo ocorrido, dizendo que ele “provocou” a multidão.
Mas um número significativo de parlamentares republicanos, preocupados com a fervorosa base de eleitores de Trump, suscitaram objeções ao impeachment. Trump é o primeiro presidente dos Estados Unidos a sofrer impeachment após deixar o cargo.
O senador Tom Cotton, também republicano, disse que o Senado estava agindo além de sua autoridade constitucional ao conduzir o julgamento. “Acho que muitos americanos vão achar estranho que o Senado esteja gastando seu tempo tentando condenar e destituir um homem que deixou o cargo há uma semana”, disse Cotton à Fox News neste domingo.
Romney disse que concordou com o que chamou de preponderância da opinião jurídica de que um julgamento de impeachment ainda é apropriado depois que alguém deixa o cargo. Ele disse que a prestação de contas exigia o julgamento, porque Trump havia liderado uma tentativa de “corromper” a eleição nacional vencida por Biden.
Nem todos concordam. “Acho que o julgamento é estúpido”, disse o senador republicano Marco Rubio à Fox News neste domingo, dizendo que votará contra o impeachment na primeira oportunidade. “Eu acho que é contraproducente. Já temos uma fogueira neste país e é como pegar um monte de gasolina e jogá-la sobre o fogo.”
O líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, disse que o julgamento será justo, mas em um ritmo relativamente rápido. “Será um julgamento justo, mas relativamente rápido”, disse Schumer em entrevista coletiva em Nova York. Ele disse que não deverá tomar muito tempo porque “temos muito mais o que fazer”.
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