Pressionado pelo aumento de casos de coronavírus, o governo britânico já cogita estabelecer uma segunda quarentena no Reino Unido, conforme relatou uma fonte com acesso a decisões da administração de Boris Johnson. Geralmente, as definições sobre como conter o surto são tomadas individualmente pelos quatro países que fazem parte da união: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Como ocorreu na primeira decisão sobre o lockdown, em março, no entanto, os governantes dos quatro países devem fechar um acordo sobre o período de maior restrição de mobilidade novamente.
Estudo da Imperial College of London e a Ipsos Mori revelou nesta quinta-feira, 29, que o número de casos na Inglaterra tem dobrado a cada nove dias. “São dias bem difíceis na Europa, que está entrando na segunda onda de contaminações e o governo britânico está agindo em várias frentes para tentar conter o vírus”, considerou a fonte. Até agora, já foram reimplantadas medidas de restrições à mobilidade em três níveis diferentes e o governo considera agora um novo lockdown em nível nacional.
Apesar de os casos estarem aumentando, a mortalidade até o momento está mais baixa do que no período da primeira onda, mas o governo está preocupado com a superlotação do NHS, como é conhecido o Sistema Nacional de Saúde britânico. Por isso, uma estratégia de Downing Street tem sido o de ampliar a quantidade de testes ao máximo possível. “Temos uma das maiores testagens do mundo”, enfatizou a fonte.
Entre as economias desenvolvidas, o Reino Unido foi o país que mais sofreu o baque econômico da pandemia, tendo registrado um recuo de quase 20% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano. O país também foi um dos últimos da Europa a adotar a quarentena, em março, e só o fez após pressão de vizinhos, como a França, que temia a “importação” da doença.
Vacinas
Por causa das respostas diferentes conhecidas até o momento pelas vacinas em desenvolvimento contra o coronavírus, é provável que o governo britânico oriente sua população a se imunizar com várias delas. “As vacinas têm se mostrado mais eficazes em uma área do que em outras. Umas têm efeito nos mais jovens e não tanto em idosos. Outra tem resposta imunológica forte no início, mas perde força ao longo do tempo. Pode haver a recomendação do governo britânico de combinar uma vacina com outras”, explicou.
O país tem atuado em diferentes frentes em busca de uma vacina contra a covid-19. Até o momento, o Reino Unido garantiu a entrega de 340 milhões de doses para a sua população. Essas vacinas poderão até ser usadas internacionalmente, se o desenvolvimento das pesquisas for bem sucedido, já que a população é de pouco menos de 68 milhões de pessoas.
Os acordos firmados para a entrega dessas doses representam seis vacinas diferentes, de quatro tipos plataformas (BioNTech/Pfizer, Oxford Astrazeneca, GSK/Sanofi Pasteur, Novavax, Janssen e Valneva). “A maioria das vacinas falha, então a ideia é diversificar o portfólio para aumentar as chances de termos uma vacina boa”, explicou a fonte. “Há a certeza de que as seis não serão bem sucedidas. Com sorte, uma”, acrescentou.
Até o momento, a estratégia do governo britânico de vacinação para quando começar a receber as doses é dar prioridade aos profissionais que trabalham em asilos e casas de repouso. Depois, receberão a imunização funcionários de hospitais. Na sequência, devem ser vacinados os grupos considerados como os mais vulneráveis, como o de idosos, por exemplo. Espera-se começar com as pessoas acima de 80 anos e depois criar faixas de diminuição de idade a cada cinco anos. Também terão prioridade junto com os idosos, pessoas com condições de saúde que possam ter complicações com a covid-19. “É possível que, em algumas dessas vacinas, seja preciso mais de uma dose. Só depois de sabermos isso é que veremos quantas pessoas vão poder receber.”
Apesar de as medidas contra o coronavírus serem tomadas de forma individual pelos quatro países do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte), no caso da estratégia de vacinação, a medida será tomada para todos, conforme a fonte. “Em relação à vacina, será tudo igual para o Reino Unido”, explicou.
A fonte ressaltou também que o processo de desenvolvimento de um imunizante contra a covid-19 tem sido diferente de tudo o que se viu até agora na história da humanidade. “Precisaríamos de uma década para desenvolver uma vacina e agora está indo muito mais rápido. Isso é possível por causa do nível de investimento, que está sendo bem mais alto, mas nenhum país abrirá mão da segurança”, afirmou, acrescentando que esta é uma razão para haver mais otimismo em relação a uma descoberta. Há no mundo 193 vacinas candidatas e 10 estão na fase 3, que é a final. Entre elas, estão a da Astraneca/Oxford e a da Pfizer, ambas no “pacote de apostas” britânico. A coronavac não está na carteira do Reino Unido.
A expectativa é a de que até o fim do ano ou, o mais provável, no início do ano que vem, haja vacinas disponíveis para a população. Mesmo depois de os resultados serem apontados como eficientes pelas farmacêuticas, será preciso que a vacina seja aprovada pelas agências regulatórias. “E isso será algo diferente em todos os países envolvidos”, considerou a fonte. Após a liberação, ainda será preciso contar o tempo de distribuição das doses.
Para o Reino Unido, porém, não basta apenas imunizar sua população. “A pandemia afeta todo mundo, então nenhum país vai ter uma solução até que todos tenham uma solução”, afirmou. “Não existe solução única para um problema tão complexo. Por isso, a atitude cautelosa.”
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