Com a paralisação parcial do governo dos Estados Unidos entrando no 17.º dia, o presidente Donald Trump foi a Camp David ontem para se reunir com sua equipe de governo e tratar da segurança da fronteira e outros tópicos. Pela primeira vez, assessores da Casa Branca reconheceram à imprensa americana que a série de interrupções em agências federais ameaça prejudicar a economia.
Economistas e altos funcionários da Casa Branca disseram ontem ao Washington Post que se a paralisação do governo se estender até fevereiro ameaça congelar o vale-alimentação de 38 milhões de americanos de baixa renda e inviabilizar o pagamento de US$ 140 bilhões em restituições de impostos.
- Foto: APDonald Trump
O governo Trump, que não previa uma paralisação de longo prazo, reconheceu apenas nesta semana a amplitude do impacto. As autoridades disseram que estavam concentradas agora em entender o alcance das consequências e determinar se há algo que possam fazer para intervir.
Milhares de programas federais são afetados pela paralisação, mas poucos causam tanto prejuízo à população quanto o sistema tributário e o Programa de Assistência Suplementar à Nutrição do Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês), responsável pela distribuição de “cupons de alimentação”, vales dados à população de baixa renda.
A paralisação parcial cortou novos recursos para o Departamento do Tesouro e para o USDA, deixando-os em grande parte sem pessoal e prejudicando a capacidade de ambos os departamentos de cumprir funções centrais.
Os cortes potenciais nos cupons de alimentos e a suspensão das restituições de impostos ilustram as consequências combinadas de deixar grandes partes do governo federal sem financiamento indefinidamente – um cenário que se tornou mais provável na sexta-feira, quando o presidente Trump disse que deixaria o governo fechado por meses ou até anos.
A reunião de ontem ocorre um dia depois que o vice-presidente Mike Pence, altos funcionários da Casa Branca e assessores do Congresso terminaram uma reunião sem acordo para o impasse. Pence voltou a se reunir ontem com congressistas democratas e com assessores da Casa Branca para tentar encontrar uma solução para a crise, mas sem resultado.
Trump exige a liberação pelo Congresso de US$ 5,6 bilhões para construir um muro ao longo da fronteira com o México, mas os democratas que controlam a Câmara dos Deputados aprovaram nesta semana um projeto de lei orçamentária para reabrir o governo sem fornecer financiamento para o muro.
Trump diz que não assinará a medida até receber o dinheiro para o muro. Com os dois lados mantendo suas posições, um quarto do governo federal está paralisado há duas semanas, deixando 800 mil funcionários públicos sem remuneração.
Falando a repórteres em frente à Casa Branca ontem, Trump novamente levantou a possibilidade de declarar uma emergência nacional e disse que pode fazê-lo “dependendo do que acontecer nos próximos dias”. Em uma tentativa de forçar os democratas a um acordo, Trump disse que está considerando declarar uma emergência para começar a construção do muro na fronteira com o México mesmo sem aprovação do Congresso. Especialistas afirmaram à imprensa americana que há dúvidas sobre a legalidade da manobra.
A nova presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, afirmou que o objetivo da reunião era acabar com a paralisação do governo e criticou Trump por sugerir que ele possa se mover unilateralmente para construir o muro. “A impressão que você tem do presidente é que ele não só fecharia o governo e construiria um muro, mas também aboliria o Congresso para que a única voz que importasse fosse a dele”, disse Pelosi.
Trump disse que sabe da situação enfrentada por centenas de milhares de trabalhadores federais que não estão recebendo seus contracheques. “Tenho certeza de que essas pessoas que não estão recebendo seus pagamentos farão ajustes; elas sempre fazem”, disse Trump. “Mas muitas dessas pessoas concordam com o que estou fazendo.”
“Mais um mês disso e veremos os funcionários sendo despejados e seus carros serem retomados (pelos credores)”, disse David Borer, conselheiro geral da Federação Americana de Funcionários Públicos, que representa 750 mil funcionários federais. “É assustador, nunca passei por uma situação assim.” A maior paralisação do governo americano até hoje durou 21 dias, entre 5 de dezembro de 1995 e 6 de janeiro de 1996.
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