George R.R. Martin viu os comentários e leu os e-mails.
Desde que Game of Thrones, a inovadora série de fantasia da HBO, saiu do ar em maio de 2019, ele está bem ciente da reação contra a temporada final. Martin - o homem que criou meticulosamente o universo de Thrones nas últimas três décadas por meio de seus muitos livros e que ficou à margem das temporadas finais da série de TV - se pergunta se alguns espectadores vão dispensar House of the Dragon, o primeiro spin-off de Thrones. A série fará sua tão esperada estreia na HBO e HBO Max em 21 de agosto.
“As pessoas dizem: ‘para mim chega de Game of Thrones, nem vou assistir a essa nova série - não vou assistir a nenhuma das novas histórias’”, disse Martin recentemente.
A questão, disse ele, é quanto da audiência essas pessoas representam?
“Quer dizer, estamos falando de um milhão de pessoas?”, perguntou ele. “Ou estamos falando de mil? Gente que não tem nada para fazer a não ser twittar o dia inteiro? Não sei”.
Martin e HBO estão prestes a descobrir.
Três anos após o fim da série mais popular da história da HBO, a busca por uma sucessora finalmente acabou. Foi preciso muito esforço para chegar aqui. Várias prequelas de Thrones foram colocadas em desenvolvimento, e um episódio piloto para outro spinoff chegou a ser filmado, mas depois foi cancelado. Dezenas de milhões de dólares foram investidos no vencedor, House of the Dragon.
As apostas são altas. O sucesso de House of the Dragon garantiria aos executivos da HBO que os espectadores querem mais histórias de Thrones e que vale a pena gerar muitas outras séries ambientadas em Westeros. Além desta série, a HBO tem pelo menos cinco outros projetos Thrones em desenvolvimento.
“O truque aqui é que você não pode só refazer a série original”, disse Casey Bloys, diretor de conteúdo da HBO. “Você precisa fazer uma série que tenha a ver e honre a original, mas que também seja independente. É uma franquia muito importante para nós”.
Mas, se a primeira a sair não conseguir encontrar uma audiência, isso pode levantar dúvidas sobre o Universo Cinematográfico Thrones: será que é mesmo a mina de ouro de propriedade intelectual que os executivos da HBO esperam que seja?
Exibida entre 2011 e 2019, Thrones foi a série mais assistida da história da HBO. O controverso episódio final atraiu quase 20 milhões de espectadores na noite em que estreou - número impressionante na era fragmentada do streaming. Thrones também foi um deleite para a crítica e ganhou mais Emmys do que qualquer outra série na história da TV, incluindo quatro prêmios de melhor drama.
A série mudou a televisão de tantas maneiras - orçamentos generosos, feitiçaria técnica, um escopo cinematográfico que antes era raro para a tela pequena - que talvez seja fácil ignorar a base incrivelmente forte que construiu para os spin-offs.
“Acredito que é mais uma narrativa de internet do que uma coisa da vida real”, disse Bloys sobre a reação à temporada final. “Temos os dados de quem está assistindo, e Game of Thrones está consistentemente entre as top dez que as pessoas assistem na HBO Max em todo o mundo. À medida que nos aproximamos da estreia, estamos vendo gente voltando e registrando um aumento na audiência da HBO Max para a série principal”.
House of the Dragon se passa quase duzentos anos antes dos eventos de Game of Thrones. A série segue a família Targaryen - a turma dos dragões e cabelos prateados, aquela que Emilia Clarke (Daenerys Targaryen) deixou famosa na série original - no momento em que está prestes a se romper, com consequências terríveis para o reino.
E, no episódio de estreia, há elementos que parecerão familiares aos espectadores de Thrones, com muito sangue, vários dragões e um Trono de Ferro, além de nudez. E uma orgia.
Foram mais de cinco anos até chegar a este ponto. Em maio de 2017, com a penúltima temporada de Game of Thrones prestes a estrear, a rede anunciou que tinha quatro potenciais spinoffs em andamento. Um ano depois, um candidato foi escolhido: uma prequela que aconteceria cerca de mil anos antes dos eventos da série original.
Não durou muito. Em 2019, depois da filmagem do piloto, a rede cancelou o projeto.
“Assim que vi o primeiro piloto, sabia que não era a série a ser lançada”, escreveu por e-mail Bob Greenblatt, ex-presidente da WarnerMedia Entertainment, onde supervisionava a HBO. Greenblatt disse que o piloto não era “expansivo ou épico o suficiente”.
Felizmente, a rede tinha outro projeto em desenvolvimento, um projeto que Martin vinha promovendo desde algum tempo: a história da ascensão e queda dos Targaryen, sobre a qual ele havia escrito extensivamente em seus livros. House of the Dragon é adaptado de Fogo & Sangue, de Martin, o primeiro de dois volumes planejados de uma crônica das façanhas e conflitos da família.
“Ele era muito apaixonado por essa história em particular”, disse Miguel Sapochnik, veterano da série original e showrunner de House of the Dragon.
A rede procurou dois escritores antes de Martin pedir ajuda a um velho amigo: o escritor Ryan Condal, criador da série de ficção científica Colony.
Condal conversava periodicamente com Martin durante jantares e eventos e eles se divertiam falando sobre as obras de outros fantasistas como Robert E. Howard, J.R.R. Tolkien e Ursula K. Le Guin. “Quando nos encontrávamos, conversávamos como dois fanboys”, disse Martin. Martin pediu a Condal para começar a escrever uma prequela sobre os Targaryen.
Os executivos da HBO gostaram do que viram em Condal, que assinou contrato como criador (junto com Martin) e como showrunner. Depois que Sapochnik, que dirigiu alguns dos maiores episódios do original, também concordou em ser showrunner, a HBO seguiu com o projeto da série de House of the Dragon.
“O que me atraiu foi que é um drama familiar”, disse Bloys. “Qualquer pessoa que tenha padrastos ou irmãos ou meios-irmãos, ou tenha brigas entre lados da família - acho que todas as famílias americanas já lidaram com alguma versão disso”.
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