João Gilberto, em sua vida privada, era a antítese das atuais celebridades. Neste império das redes sociais, em que artistas de categoria duvidosa arrebatam milhões de seguidores apenas mostrando detalhes de seu dia-a-dia e até de suas mais íntimas atividades, João era uma aberração. Não gostava de aparecer, queria ser amado e compreendido pela sua arte. Quase impossível hoje em dia.
João foi (e continuará sendo) a expressão máxima do "cool", da elegância, do menos é mais, do discreto e do refinado na música e na história dos grandes artistas do Brasil. Difícil imaginar a prevalência de suas ideias nestes tempos de gritaria, verborragia, megatatuagens e veias saltadas em discussões polarizadas. Sim, João foi um radical, mas da beleza, do sutil.
Amarrado às tradições mais arcaicas do samba,inventou a música brasileira moderna para mostrar que bacana mesmo não é imitar os norte-americanos ou os europeus, mas, sim, buscar em nossas raízes a essência da alma brasileira. Com essa receita, deixou o mundo de jazz de joelhos diante de sua técnica refinada.
Com sua morte, João atingiu o ponto máximo de sua obra reclusa e intimista: foi-se o homem, ficou o estilo, a arte.
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