A Tv Globo realizou na noite desta sexta-feira (28), o último debate do segundo turno entre os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O encontro acontece dois dias antes da votação do segundo turno marcada para o dia 30 de outubro.
O debate foi dividido em cinco blocos, sendo dois com temas livres e outros dois com temas determinados. No último bloco, os candidatos tiveram 1 minuto e 30 segundos cada um para as considerações finais.
O clima entre os dois candidatos foi tenso mesmo antes de começar o confronto e marcado por troca de acusações. Em nenhum momento eles se cumprimentaram e durante o debate várias vezes um virou as costas para o outro.
Os temas mais debatidos durante o encontro foram reajuste do salário mínimo, meio ambiente, pandemia, combate à pobreza, acesso às armas e aborto.
Primeiro bloco
No primeiro bloco foram 30 minutos de debate com tema livre. Cada candidato teve que administrar o tempo de 15 minutos para perguntas, respostas, réplicas e tréplicas.
Ao abrir o debate, Jair Bolsonaro disse que assumiu o governo com "problemas éticos e econômicos", mas que "conseguiu conceder reajuste para os aposentados". Ele falou em aumento para salário mínimo de R$ 1.400 em 2023 e disse que o PT mentiu sobre seu governo não reajustar o mínimo e aposentadoria. Em sua resposta, Lula disse que o salário mínimo hoje é menor do que quando Bolsonaro assumiu e lembrou que, em seu governo, aumentou em 74% o salário mínimo.
Bolsonaro afirmou que o candidato Lula é "mentiroso" e perguntou a respeito das acusações da campanha petista em relação ao salário mínimo. Ele disse que o "sistema está contra ele" e citou o caso das inserções de rádio que, segundo sua campanha, não foram veiculadas em seu favor.
Lula enumerou um conjunto de programas sociais que estabeleceu durante seu governo e afirmou também que, no governo petista, o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescia mais. "Meu adversário parece estar descompensado", disse Lula. Para o petista, Bolsonaro "só tem uma nota", além de ser "mentiroso". "Nos programas de televisão nós conseguimos 60 direitos de respostas contra mentiras contadas por ele nas inserções", completou o ex-presidente.
Bolsonaro voltou a dizer que todos os deputados do PT votaram contra o Auxílio de R$ 600 e Lula, por sua vez, elencou o "conjunto de políticas públicas" criados em seu governo para auxiliar a população pobre. "No meu governo o PIB crescia em média 4% ao ano, no dele cresce 1% ao ano. É uma vergonha", pontuou o petista. Bolsonaro justificou o crescimento do PIB à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Lula acusou os familiares de Bolsonaro de comprar imóveis em dinheiro vivo e declarou que foi "julgado por um juiz mentiroso". "Ganhei 26 anos. Sou um cidadão idôneo, ao contrário de você", afirmou. Já Bolsonaro disse que Lula esconde ex-aliados que foram envolvidos em esquemas de corrupção, e o petista rebateu citando o caso de Roberto Jefferson.
Ao citar a política externa, Bolsonaro disse que Lula é "amigável" a países como Cuba, Venezuela e Nicarágua. Lula relembrou que, durante seu governo, foi chamado para todas as reuniões do G8 e BRICS.
Segundo bloco
No segundo bloco foram 20 minutos de debate com temas determinados, sendo dividido em duas rodadas de 10 minutos. Cada candidato teve direito a escolher um tema que foi definido pela TV Globo. Neste bloco, os candidatos tiveram ainda 5 minutos de fala para cada uma das rodadas.
O candidato Lula começou o bloco perguntando sobre combate à pobreza. "No meu governo, o povo tinha dinheiro para comprar máquina de lavar roupa, geladeira, tinha dinheiro para viajar de avião para dentro e fora do País. Hoje, o Brasil está empobrecido. Gostaria de perguntar para o presidente por que o povo está tão pobre no seu governo?", perguntou Lula.
Bolsonaro afirmou que durante seu governo, a quantidade de pessoas em situação de extrema pobreza diminuiu, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele criticou ainda Lula por dizer que o ex-presidente usa como fonte o jornal Folha de S.Paulo. "Você só chuta números. Nós fizemos reformas sim para abrir caminhos para prosperidade. Para de chutar número Lula", disse Bolsonaro.
Em seguida, Jair Bolsonaro escolheu o tema respeito à Constituição e garantiu que joga dentro das quatro linhas. No entanto, Lula destacou que Bolsonaro "todo santo dia ataca os ministros da Suprema Corte porque não respeita a Constituição", inclusive "ofendendo tudo que é pessoa". Bolsonaro alegou liberdade de expressão e citou a Jovem Pan, que o TSE determinou direito de resposta a Lula.
Bolsonaro questionou Lula sobre as invasões de terra realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST). O petista respondeu que são pessoas que fazem bem pelo Brasil e que estão produzindo alimentos.
No fim do segundo bloco, o tema do aborto entrou em debate. Bolsonaro chamou Lula de "abortista" e disse que não tem "respeito com a vida humana". Lula negou e disse ser contra o aborto.
Terceiro bloco
No terceiro bloco também foram 30 minutos de debate com tema livre. Assim como no primeiro bloco, os candidatos tiveram que administrar o tempo de 15 minutos para perguntas e respostas.
Lula iniciou o terceiro bloco falando sobre saúde. Ele citou o número de mortos pela covid-19 no Brasil e questionou por que Bolsonaro "demorou para agir" na compra da vacina. "O Brasil tem 3x mais do que a média de vítimas da Covid do que a média da população mundial. Por que negligenciamento? Por que a demora de 45 dias para comprar vacina? Por que não atender a questão da Covid com rapidez? Por que tirou dinheiro da Farmácia Popular?", questionou Lula.
Em sua resposta, Bolsonaro disse que o Brasil virou referência em vacinação contra covid-10. "A primeira vacina foi em dezembro de 2020. E a vacinação iniciou em janeiro de 2021 no Brasil, e o país virou referência em vacinação. Se você se vacinou, Lula, agradeça a mim", afirmou o presidente da República.
Bolsonaro perguntou Lula sobre desarmamento e sua ida ao Complexo do Alemão. Lula disse ser o "único presidente da República" que tem coragem de visitar os moradores de periferia e defendeu a política de desarmamento. "Não temos medo de dizer que somos contra a facilitação do acesso às armas", afirmou.
Lula então questionou Bolsonaro sobre corte nas verbas de programas para combater feminicídio. Bolsonaro negou que tenha efetuado cortes em verbas de programas para combater a violência contra as mulheres. "Tratei as mulheres com respeito, diferentemente de você", afirmou o candidato do PL.
O petista disse em seguida que firmou compromisso de isentar o imposto de renda para quem recebe valores abaixo de R$ 5 mil. "A gente assume compromisso e cumpre. Por isso que eu tinha 87% de bom e ótimo na avaliação. Porque o povo acreditava nas coisas que a gente fazia", prometeu.
Logo depois Bolsonaro apontou que seus ministros tiveram sucessos nas empreitadas eleitorais. "Os seus ministros saíram para a cadeia. Eu até posso falar alguns palavrões, me desculpa, mas eu falo palavrão, mas não sou ladrão", garantiu Bolsonaro.
Lula destacou os sigilos de 100 anos impostos pelo governo Bolsonaro em questões como as visitas dos pastores evangélicos no escândalo do MEC. Já o candidato do PL chamou Lula de mentiroso. "Cadê as apreensões da Polícia Federal? Não tem nada. Para de mentir, Lula", disse Bolsonaro.
Em seguida Bolsonaro disse que seu governo conseguiu criar empregos apesar da pandemia e perguntou como Lula pretende criar empregos. Lula disse que mudou a forma como se mede emprego. "Na minha época contava apenas o emprego em carteira assinada", declarou. Ele ressaltou ainda que, caso saia vitorioso, visitará países para buscar investidores internacionais, e em janeiro vai se reunir com os governadores.
Bolsonaro então disse que com a ajuda do parlamento vai fazer o Brasil crescer ainda mais. "No fim do governo PT, Brasil perdeu 3 milhões de empregos e qual foi a crise? Corrupção. Estamos prontos para decolar e temos esse ano o parlamento mais à direita. Vamos crescer mais que a China e temos uma inflação menor do que a Europa", prometeu Bolsonaro.
No fim do terceiro bloco, Bolsonaro disse que seu governo criou o PIX, falou sobre os brasileiros que são MEI, depois citou a água no Nordeste, falou sobre metrô em Minas Gerais e citou diversos feitos de seu governo nos estados do Brasil.
Quarto bloco
Foi realizada uma rodada de 10 minutos com tema definido, sendo que os candidatos tiveram 5 minutos de tempo de fala.
O tema escolhido pelo candidato Lula foi questões climáticas. "Até quando seu governo vai seguir com a política de desmate na Amazônia?", questionou Lula.
Bolsonaro apontou diferenças entre as áreas desmatadas nos governos petistas e no seu governo. "Você se deu mal nessa pergunta no último debate e quer ir de novo?", disse Bolsonaro, que exaltaltou ainda as fontes de energia limpa e prometeu reduzir os índices de desmatamento.
Lula citou Marina Silva, que o acompanha no debate e foi ministra do Meio Ambiente em seu governo, para dizer que, juntos, reduziram o desmatamento na Amazônia "em quase 80%". Disse que combateu o desmatamento "ilegal e clandestino", bem como desarticulou aqueles que agiam à base da ilegalidade. "O Brasil se tornou altamente respeitável na questão ambiental nos meus governos", declarou.
Quinto bloco
Já no quinto e último bloco, os candidatos tiveram direito a 1 minuto e 30 segundos, cada um, para as considerações finais.
Lula agradeceu a Deus pela oportunidade e também aos brasileiros. "Eu quero agradecer a Deus essa oportunidade, a você que está há tempos esperando terminar esse debate. Se você quiser, eu poderei ser o presidente para reestabelecer a harmonia nesse país. O MEC distribuía livros, a Cultura funcionava, a Educação funcionava, o salário mínimo aumentava acima da inflação. E você pode consertar esse país, fazer crescer, distribuir renda e comer bem", declarou.
Bolsonaro agradeceu a Deus e disse estar "pronto para cumprir com mais um mandato de presidente da República". "Eu quero agradecer a Deus pela segunda vida que me deu em Juiz de Fora. Agradeço a missão de comandar esse país em um dos momentos mais difíceis da humanidade. E se for da sua vontade, estou pronto para mais um mandato de presidente da República. Não queremos o aborto, não queremos a liberação das drogas no Brasil, respeitamos a propriedade privada, somos das cores verde e amarela. Deus, Pátria, Família e Liberdade", finalizou Bolsonaro.
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