A gasolina está há quase cem dias com o preço congelado nas refinarias da Petrobras, enquanto o diesel teve o preço elevado pela última vez há 36 dias. Dados da Associação Brasileira dos Importadores e Combustíveis (Abicom) mostram que a defasagem chega a 18% no diesel e de 14% na gasolina frente às cotações dos produtos no mercado internacional.
Com os preços defasados em relação ao exterior, a Petrobras tem sofrido pressão do governo para manter a gasolina e o diesel congelados até as eleições, enquanto o mercado espera que a empresa prossiga com a sua política de preço de paridade de importação (PPI).
Convocada às pressas pelo presidente do conselho, Márcio Weber, e realizada de modo virtual, a reunião demorou pelo menos uma hora para conseguir quórum necessário para começar. O encontro, segundo apurou o Estadão/Broadcast, foi pedido pelos ministros de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Nos últimos dias, o governo já tinha se reunido duas vezes com a diretoria da Petrobras para tentar evitar aumento dos combustíveis. Segundo fontes, o governo teria pedido para a companhia segurar os preços até que as novas regras sobre ICMS surtam algum efeito para o consumidor na hora de abastecer nos postos. Assim, o reajuste seria neutralizado pelo benefício da queda imposto aprovado pelo Congresso.
O presidente Jair Bolsonaro já trocou três presidentes da Petrobras nos três anos e meio de mandato por conta da alta de preços. O atual presidente, José Mauro Coelho, foi a demissão mais recente, e está sendo pressionado a renunciar ao cargo para apressar a troca pelo indicado de Bolsonaro, o secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade. Com a renúncia, Paes de Andrade não teria que esperar a realização de uma assembleia de acionistas, mas Coelho já afirmou algumas vezes que não vai renunciar.
A decisão do reajuste dos combustíveis é tomada por três membros da diretoria: o presidente da empresa, o diretor de Comercialização (Claudio Mastella), e o diretor Financeiro e de Relações com os Investidores (Rodrigo Araújo). Segundo fontes, os dois diretores também serão demitidos depois que Paes de Andrade tomar posse. Apesar da pressão do governo, os executivos têm comentado a pessoas próximas, que não há mais como segurar o reajuste.
Paridade de preços internacionais
Desde 2016, a empresa pratica a política de preços de paridade de importação (PPI), que significa manter os preços alinhados ao mercado internacional. O PPI leva em conta o preço do petróleo e o câmbio – que dispararam esta semana –, somado aos custos de importação, também elevados na esteira da alta do setor.
Se a empresa não seguir essa política, outros importadores não conseguem concorrer com os preços mais baixos da Petrobras no mercado interno.
O Brasil produz entre 70% e 80% do diesel que consome e 97% da gasolina. Sem as importações complementares, o abastecimento pode correr risco no segundo semestre do ano, quando é previsto aumento da demanda interna, devido ao transporte da safra, combinado com aperto da oferta por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Ver todos os comentários | 0 |