Em recado ao Palácio do Planalto, o encarregado de negócios da Ucrânia em Brasília, Anatoliy Tkach, pediu nesta terça-feira, dia 1º, que todos os países rompam os laços comerciais com a Rússia, por ter deflagrado uma guerra contra seu país. Para ele, essa seria uma forma de isolar Moscou e fazer pressão para encerrar a agressão militar em Kiev.
“Apelamos a todos que cortem os laços comerciais com a Rússia, todos os laços. Fazer negócios com a Rússia agora significa financiar agressão, crimes de guerra, desinformação, ataques cibernéticos e até mesmo o líder russo, Vladimir Putin”, disse o chefe da representação diplomática ucraniana no Brasil.
O apelo ucraniano vem depois de Bolsonaro expressar preocupações com o fornecimento de fertilizantes para o Brasil, um dos principais produtos da balança comercial com Moscou e que abastece o agronegócio nacional. Além da Rússia, outro grande fornecedor do País é Belarus, aliado de Putin e que segundo a Ucrânia já envolveu tropas na guerra.
Até agora, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que manterá uma posição de “neutralidade”, questionada até por seus aliados na diplomacia, como o ex-chanceler Ernesto Araújo. Essa posição desagrada os Estados Unidos e os países europeus.
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse que o Brasil terá uma posição de “imparcialidade” e “equilíbrio”, condizente com a tradição da política externa brasileira. Ao explicar a declaração de Bolsonaro, ele se manifestou contra “sanções seletivas”. O termo vem sendo usado pelos diplomatas brasileiros para mostrar preocupação com o impacto na produção de alimentos e no comércio, por causa da reação econômica do ocidente à Rússia.
Na tentativa de sensibilizar Brasília, Anatoliy Tkach lembrou que países tradicionalmente neutros começaram a ajudar a Ucrânia, como Suécia, Finlândia, Noruega, Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), Áustria e Suíça. “Todos que preservaram a neutralidade se uniram para preservar o sistema de segurança e paz no mundo”, afirmou o diplomata.
O encarregado de negócios também disse que não entende como é possível o Brasil ser imparcial diante de uma agressão clara e não provocada, iniciada por Putin. “Não sei o que seria essa imparcialidade. Sabemos quem é o agressor, não está se escondendo. Imparcialidade a respeito do agressor? Nós sabemos quem é o agressor e quem é a vítima, não entendo como podemos aplicar imparcialidade nessa situação”, disse o encarregado de negócios ucraniano.
Tkach revelou que não teve, até o momento, nenhuma reunião ou conversa com o chanceler Carlos França, mas que vem mantendo diálogo com outras autoridades do Itamaraty. Ele reiterou o pedido de conversa entre o presidente Bolsonaro e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, embora o brasileiro tenha dito que não tem o que conversar. Eles não mantiveram nenhum contato. “Ele poderia começar com uma palavra de solidariedade”, disse Tkach. “Gostaríamos de manter contato no mais alto nível.”
O diplomata agradeceu a possível acolhida a refugiados ucranianos no Brasil, sinalizada pelo presidente Bolsonaro, mas disse que não tem ideia ainda de quantos imigrantes poderiam buscar o País. “É um gesto de hospitalidade, agora os ucranianos têm mais um lugar para onde ir.” Ele disse que recebeu manifestações de acolhida dos governos estaduais de São Paulo e do Paraná. Um pedido de ajuda humanitária protocolado pela embaixada, para além dos vistos, porém, segue sem resposta da chancelaria brasileira, segundo o chefe da embaixada.
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