O Uber anunciou nesta quinta-feira, 6, que vai descontinuar no Brasil o serviço de delivery de restaurantes no Uber Eats. Segundo a empresa, a plataforma vai trabalhar por aqui, agora, somente com a função de supermercado, por meio da Cornershop, e de entregas corporativas. O serviço de entrega de restaurantes vai funcionar até 7 de março — os clientes foram informados do encerramento do serviço por e-mail nesta tarde.
O encerramento das atividades seria parte de um processo de reestruturação da empresa, que tem sofrido com a baixa de serviços durante a pandemia de coronavírus — mesmo com o mercado de delivery crescendo no período. Uma das explicações para a falta de sucesso recente do app no Brasil pode ser a grande fatia do setor ocupada pelo iFood, que lidera os serviços de entrega de restaurantes no País — um indício disso é que a saída do delivery de restaurantes ocorrerá apenas no Brasil.
A decisão chega quase um ano depois de reclamações no setor por um possível monopólio do mercado de delivery no Brasil por parte do iFood. Em março do ano passado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) proibiu que o iFood firmasse novos contratos de exclusividade com restaurantes, após uma denúncia do Rappi em relação à restrição de concorrência.
Até então, a acusação era de que o iFood estaria usando a plataforma para buscar contratos exclusivos em restaurantes considerados 'chave' na atração de clientes para apps de comida. “As exclusividades estariam sendo firmadas, inclusive, mesmo após a abertura do procedimento de apuração no Cade”, afirmou o órgão.
Em julho do ano passado, outro movimento deflagrou a dominância do app da Movile no mercado de entregas: empresas como Outback, Giraffas, Bob’s e Rei do Mate entraram com um pedido no Cade para a criação de uma plataforma própria de delivery, por considerarem as taxas cobradas pelo iFood muito altas. A intenção era, além de se livrar de gastos, aumentar a concorrência no setor.
O Uber afirmou ao Estadão, porém, que a estratégia consiste em focar no serviço de entregas corporativas, o Uber Direct, que tem crescido na plataforma. De acordo com a companhia, a troca de nichos é um negócio mais "assertivo" dentro do que o Uber quer operar no País.
"O Uber vai alterar sua estratégia de delivery no Brasil, desativando o serviço de intermediação de entrega de comida de restaurantes. A partir de agora, a empresa vai trabalhar em duas frentes: com a Cornershop by Uber, para serviços de intermediação de entrega de compras de supermercados, atacadistas e lojas especializadas; e de entrega de pacotes pelo Uber Flash", afirmou a empresa em comunicado.
App não vai sair do ar
O aplicativo do Uber Eats vai continuar funcionando normalmente, mas não será possível encontrar a opção de restaurantes. Para compras de supermercado, a plataforma vai continuar utilizando a aba da Cornershop que já existe entro do app. Outras opções de delivery, como lojas especializadas, pet shops, floriculturas, lojas de bebidas e outros artigos, segundo a empresa, continuarão disponíveis para pedidos. Principal aposta no app a partir de agora para consumidores diretos, a Cornershop é uma startup chilena de supermercados, comprada pelo Uber em 2019. Por aqui, as operações começaram em meados de 2020, já em conjunto com a empresa de mobilidade.
A empresa também informou ao Estadão que alguns setores, como de papelaria e objetos em geral, já estão entrando no app, mas que devem aumentar a presença ao longo dos meses. Na prática, é como se o Uber estivesse aproximando o seu serviço de uma operação mais semelhante à colombiana Rappi e se distanciando do iFood. Outros serviços focados em entregas corporativas com o Uber Direct também já têm grande parte das operações da plataforma.
"A partir de agora, vamos concentrar nossos esforços para oferecer a melhor experiência aos usuários na intermediação de entrega de itens de conveniência e mercado", disse a empresa no e-mail que enviou aos seus clientes, para comunicar a mudança na plataforma.
Se no mercado de delivery de refeições o Uber Eats encontrava um mercado gigante de opções, no setor de entrega de produtos mais duráveis, a competição também não é pequena. A maior empresa no segmento por aqui é a startup Rappi, que funciona com entregas desde alimentos e refeições até farmácias, lojas de utilidades domésticas e itens sob demanda.
Desde o início da pandemia, o Uber já demitiu mais de 3 mil funcionários em todo o mundo, para cortar gastos da empresa, que ainda não opera com lucro expressivo desde sua fundação. No Brasil, em meados de 2020, cerca de 150 pessoas foram afetadas pelas demissões da empresa.
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