A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, encerrou com leve alta de 0,02%, aos 100.297,91, pontos, após ser pressionada nesta terça-feira, 15, pela fala do presidente Jair Bolsonaro de que daria um "cartão vermelho" a quem propuser congelar aposentadorias para financiar o Renda Brasil. Além das questões locais, o movimento de desaceleração de ganhos vindo do mercado acionário de Nova York também fez crescer o sentimento de cautela do investidor brasileiro. Nesse cenério, o real teve pouca vantagem ante o dólar, que fechou com leve alta de 0,26%, a R$ 5,2890.
O debate em torno da criação do Renda Brasil começou a ganhar destaque em agosto, quando Bolsonaro disse que não tiraria de pobres a para dar a paupérrimos, após a equipe econômica sugerir o fim do abono salarial para financiar o programa. Com a ideia rejeitada, a equipe de Guedes considerou o congelamento de aposentadorias e pensões, medida que abriria espaço nas contas públicas - mas a ideia também foi desconsiderada pelo presidente, que cancelou o programa. "Até 2022, no meu governo, está proibido falar a 'palavra' Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final", disse.
O fato de o governo desistir do programa não é mal visto pelo mercado. Ao contrário, diante da dificuldade em se encontrar uma fonte de receitas é considerado até um alívio. "Ao tirar o Renda Brasil da mesa acredito que abra espaço para a discussão de temas mais urgentes da agenda legislativa e isto pode ser mais eficiente", disse o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.
O problema, como já notado em outras ocasiões, é a forma como isso foi divulgado. "A parte positiva é que o governo parece que não vai fazer programa assistencial maior a qualquer preço. Mas a forma de Bolsonaro se comunicar é negativa", endossou o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
Guedes tentou colocar panos quentes - "o linguajar, os termos do presidente são sempre muito intensos" - em participação "Painel Tele Brasil 2020", no qual ainda afirmou que o "cartão vermelho" de Bolsonaro não foi direcionado a ele. "O mercado entendeu que o alvo é o Waldery, que ontem falou sobre isso em entrevista", disse o estrategista de Mercados da Harrison Investimentos, Renan Sujii, referindo-se ao secretário especial de Fazenda do Ministério, Waldery Rodrigues.
Nesse cenário, o novo impasse entre Bolsonaro e Guedes fez crescer a cautela no investidor e impactou diretamente em outros ativos - as ações On da Eletrobrás caíram 3,70% , com receio de que os desentendimentos entre o presidente e o ministro da Economia interfiram diretamente na questão da privatização da estatal. No Ibovespa, principal índice de ações do mercado brasileiro, também caíram Itaú e Santander, com baixa de 1,33% e 0,66% cada. Vale subiu 1,11%, enquanto Petrobrás On subiu 0,23%, mas a Pn caiu 0,05% - hoje, o contrato futuro do WTI para outubro terminou em alta de 2,74%, a US$ 38,28 o barril, enquanto o Brent para novembro subiu 2,32%, a US$ 40,53 o barril.
Câmbio
No câmbio, analistas apontam que o foco dos investidores esta semana será a reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que, se confirmar uma postura por mais estímulos, pode deixar o dólar sob pressão. No entanto, os acontecimentos locais ainda preocupam , apesar de Guedes ter conseguido acalmar as mesas de operação.
"Uma das maiores preocupações com o Brasil é a consolidação fiscal em 2021, principalmente após a grande disparada de gastos fiscais deste ano", avalia o economista para América Latina em Nova York do banco Natixis, Benito Berber. Ele observa que o trabalho de Guedes para ajustar as contas públicas é cada vez mais difícil e por isso sempre aparecem dúvidas sobre sua permanência no cargo.
Berber ressalta que para conseguir controlar a situação fiscal ruim, Guedes vai ter que controlar o aumento de gastos e tentar cortar despesas. O economista projeta o dólar pressionado no Brasil pela frente, em meio às preocupações fiscais, ficando na casa dos R$ 5,40 pelos próximos 6 meses e em R$ 5,20 daqui a 9 meses. Mesmo em um período mais longo, em 18 meses, o dólar acima estará em R$ 5,00. Hoje, o dólar para outubro encerrou com alta de 0,09%, a R$ 5,2780.
Bolsas do exterior
No cenário externo, o clima vindo do mercado acionário de Nova York também não convenceu e a perda de fôlego dos índices americanos no final do pregão, após a modesta reação do mercado aos produtos apresentados pela Apple, ajudaram a segurar os ganhos da B3. Por lá, Dow Jones fechou estável, com ganho de 0,01% e o S&P 500 teve alta de 0,52%, enquanto o Nasdaq avançou a 1,21%.
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