Diante da crise no setor aéreo em meio a pandemia do coronavírus, as companhias aéreas brasileiras iniciaram nesta quinta-feira uma série de medidas para proteger o seu caixa e evitar uma onda maciça de demissões. Entre as medidas estão o corte de jornada - e, por consequência, de salário - de até 50% e licença não remunerada.
A Gol anunciou que todos os diretores, vice-presidentes e o CEO terão uma redução salarial de 40%, válida para os meses de abril, maio e junho. Já a jornada dos colaboradores internos e aeroviários será reduzida em 35%, assim como as remunerações e benefícios. "Mais uma vez, a companhia ressalta que todos esses movimentos são feitos com as informações atualmente disponíveis, e que futuras revisões não estão descartadas", acrescentou a Gol. A aérea suspendeu todos os seus voos internacionais de 23 de março a 30 de junho e cortou sua malha doméstica entre 50% e 60%.
Na mesma direção, a Azul anunciou uma série de medidas para reduzir o custo fixo - que representa cerca de 40% do total das despesas operacionais da empresa. O plano de contingência abre espaço para a licença não remunerada - com 600 pedidos aprovados até o momento - e prevê a redução de salário de 25% dos membros do comitê executivo até a normalização da situação. A empresa anunciou corte da sua capacidade consolidada de 20% a 25% no mês de março, e entre 35% a 50% em abril e meses seguintes, até que a situação se normalize.
Já a Latam, em nota, afirmou que está em negociação com os sindicatos da classe e tem se esforçado para a manutenção dos empregos. ?Uma das propostas apresentadas, por exemplo, é a implementação da licença não-remunerada?. Confrontada, a Latam não confirmou nem negou cortes na remuneração e jornada dos funcionários. Documentos internos obtidos pelo Broadcast, entretanto, mostram que o corte na remuneração total (considerando também os benefícios) de todos os colaboradores pode chegar a até 50% para os próximos três meses. A proposta ainda deve ser votada pelos sindicatos das categorias.
A crise, entretanto, pode estar apenas começando. Em vídeo interno aos funcionários, o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, relembrou que a empresa reduziu sua operação em pelo menos 70% nos últimos meses. "A gente tem países, como Peru e Equador, aonde toda a operação nossa parou, nos voos domésticos e internacionais. A gente também está se preparando para um cenário parecido, eventualmente, com isso aqui no Brasil", afirmou no vídeo.
Serviço em terra também afetado
Na outra ponta da cadeia, empresas prestadoras de serviço em terra para companhias aéreas - chamadas de ground handling - devem reduzir em até 30% o efetivo total de trabalhadores no País. "A estimativa é baseada na mão de obra obsoleta que temos hoje. Nesse meio teremos férias coletivas, licença não remunerada e rescisão contratual. Tenho 42 anos de transporte aéreo. A gente nunca passou por isso", afirmou o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços Auxiliares do Transporte Aéreo (Abesata), Ricardo Aparecido Miguel, em entrevista ao Broadcast.
O setor emprega diretamente cerca de 40 mil pessoas em todo o País. O principal cliente são as companhias aéreas internacionais, que respondem por cerca de 50% da receita das empresas de ground handling. Somente Guarulhos tem aproximadamente 12 mil profissionais diretamente ligados à cadeia, disse Miguel. A crise está impactando diretamente essas companhias pois muitas delas são remuneradas pelos voos efetivamente atendidos. Uma das principais clientes, por exemplo, é a American Airlines, que recentemente anunciou a suspensão de todos os voos para o País.
As aéreas, assim como praticamente todos os setores da economia, correram para o governo para tentar mitigar as perdas. Nesta semana, em Brasília, a equipe do presidente Jair Bolsonaro anunciou um pacote para acudir o setor. As medidas, entretanto, se limitaram basicamente a postergação de despesas e não tocaram no perdão de alguns tributos. O setor, num primeiro momento, recebeu de forma positiva o pacote, mas muitos pontos ainda precisam ser esclarecidos - como detalhes sobre as linhas de financiamento de capital de giro prometidas pelo governo, por meio de Banco do Brasil, Caixa e BNDES.
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