Já estão em vigor as novas taxas no financiamento para a compra de imóvel na Caixa Econômica Federal, que foram reduzidas em até 1,25 ponto porcentual. A expectativa é que esse corte volte a acirrar a concorrência entre os grandes bancos nessa linha de crédito, favorecendo não só o candidato à compra de um imóvel, mas o mutuário que tem o contrato em andamento e pretende mudar de banco pela portabilidade, em busca de juros menores.
Com a medida, ficam mais baixas as taxas tanto de clientes da Caixa quanto de não clientes. O juro mais baixo cobrado de clientes recua de 8,75% ao ano para 8,50% mais a Taxa Referencial (TR). O mais alto, exigido de não correntistas do banco, cai de 11% ao ano para 9,75% mais TR.
Mas nem por isso, a Caixa ocupará a dianteira de juro mais baixo para compra da casa própria, segundo comparativo feito pela Melhortaxa, maior plataforma digital especializada em crédito imobiliário do País: atualmente o Bradesco tem as menores taxas.
“O Bradesco vinha se destacando com a taxa mais atrativa, de 8,3% e podendo chegar a 8,1%. O Itaú reagiu recentemente, pareando a sua taxa e voltando a brigar por carteira. A queda nas taxas de juros pode impulsionar ainda mais o movimento de portabilidade dos empréstimos imobiliários, que teve um crescimento de 146% em 2018 em relação a 2017?, avalia Rafael Sasso, cofundador da fintech.
Por enquanto, não há nenhuma previsão de que os demais bancos, principalmente os privados, venham a baixar ainda mais os juros, como resposta à decisão da Caixa. Mas na opinião do especialista, “a tendência é que voltemos a ter uma pressão concorrencial maior neste mercado, o que pode abrir espaço para mais reduções nos grandes bancos, que vão precisar reagir”.
No gráfico abaixo vai o levantamento feito pela Melhortaxa, de 2014 a 2019, com um comparativo dos juros cobrados pelos cinco maiores bancos do mercado – Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander –, em contratos efetivamente assinados e não os anunciados no balcão.
Como explica o cofundador da Melhortaxa, Rafael Sasso, os juros dos contratos fechados fornecem uma dimensão mais precisa das taxas efetivamente cobradas pelos bancos, já que durante as negociações para o financiamento eles podem resultar em níveis diferentes dos anunciados ao grande público.
“A Caixa tinha, no passado, um papel histórico de fomentar a concorrência nesse setor, liderando a redução das taxas de crédito imobiliário”, avalia Sasso. No entanto, explica ele, em 2017, com a falta de recursos para essa linha de crédito, a Caixa deixou de exercer esse papel sem ter a preocupação de ajustar os juros do financiamento para uma Selic bem mais baixa, em 6,50% ao ano atualmente.
Em 2018, quando a CEF voltou a reduzir suas taxas, relata o executivo, a reação foi imediata entre os grandes bancos. Com um movimento inicial e significativo puxado pelo Santander, que cortou sua taxa para um dígito e foi seguido pelos demais. “ O movimento da última semana dá um fôlego para a Caixa de se reaproximar das ofertas dos concorrentes”.
Embora a redução seja positiva para o consumidor, para saber qual a melhor taxa, é preciso comparar não só a taxa anunciada pelo banco, mas o Custo Efetivo Total, que inclui outras despesas administrativas e seguros. “A Caixa, por exemplo, possui um dos custos de seguros mais altos do mercado”, alerta ele.
Outras condições
A redução do juro na Caixa valerá para os financiamentos em todas as modalidades para a compra de imóveis novos, usados, terreno, para construção e reformas. Tanto para os contratos regidos pelo SFH como pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).
O SFH financia a compra de imóvel avaliado até R$ 1,5 milhão com recursos da caderneta e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O SFI financia a compra de imóvel com valor de avaliação acima de R$ 1,5 milhão com recursos captados com letras de crédito e títulos imobiliários.
Por ter custo de captação de recursos, o chamado funding, mais elevado que o da caderneta e o do FGTS, fonte de recursos do SFH, o SFI tem como foco o financiamento de imóveis de valor mais elevado, por custos também mais altos, já que seguem as taxas livres de mercado.
À primeira vista, em termos porcentuais, uma redução como a promovida pela Caixa parece pouco em termos de impacto sobre o valor da prestação ou como economia no fim do contrato. Especialistas em crédito imobiliário lembram, contudo, que, como o financiamento habitacional se estende por longo prazo, podendo chegar a 30 e até 35 anos, o impacto no resultado final é significativo para o bolso do mutuário.
Portabilidade
A redução dos juros vai beneficiar também quem já tem um financiamento, mas fechou seu contrato em períodos em que os juros estavam bem mais altos do que os atuais. Esses compradores têm agora a possibilidade de transferir sua dívida com juros mais baixos para outro banco que queria assumir o seu contrato pelo processo de portabilidade.
Rafael entende que a troca de instituição financeira nos contratos de financiamento imobiliário ganhe agora ainda mais estímulo. Ele lembra que em 2018 o total movimentado pela portabilidade alcançou R$ 5,06 bilhões, com crescimento de 146% em relação ao ano anterior.
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