Imagem: Foto: DivulgaçãoUm dos produtos que mais sofrem aumento com a alta do dólar é o pãozinho de padaria
Para sentir os graves efeitos da valorização do dólar não é preciso ir para a Disney. Em uma reação em cadeia, a moeda americana tem impacto direto e indireto sobre o preço dos produtos cotidianos, do pão francês à aspirina, do milho ao desodorante, da carne ao celular.
Um bom exemplo desse fenômeno é a padaria, que 95% do custo de produção do pão vêm da farinha de trigo, importada de países como Argentina, Uruguai e Paraguai, mas que utilizam a moeda americana para transação de negócios.
Assim, com a alta do dólar, que na semana passada bateu o recorde desde que o real foi criado, tudo na padaria aumenta o preço. Desde pão doce à salgadinho, tudo o que é comercializado pelo pequeno comerciante, será repassado aos consumidores.
Segundo Claudio Zanão, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), o Brasil consome mais ou menos 10 milhões de toneladas de trigo por ano e apenas metade é da produção é nacional. E a farinha nacional não pode ser usada sozinha, por ser considerada de qualidade inferior e deve ser misturada com a estrangeira para manter a qualidade que o cliente procura.
A Abimapi, de acordo com este último salto do dólar, calcula 5% de aumenta no preço oferecido às redes supermercadistas – de fevereiro a março já havia ocorrido um aumento de 8%, também por influência do cambio nos reajustes nas contas de água e energia.
“Cada empresa faz seu planejamento. Algumas têm produto em estoque e demoram mais para repassar o preço para ganhar mercado. Outras, que comem da mão para a boca, precisam repassar o aumento com mais urgência para não quebrar”, afirma o presidente.
Tudo mais caro
O mesmo raciocínio das padarias pode ser aplicado para outros setores da economia, como os de produtos eletrônicos, agrícolas, remédios e cosméticos. No caso do setor agrícola, o dólar tem peso significativo e os produtos vão parar na mesa do consumidor ainda mais caro. Entre os itens que mais sofrem com a alta do dólar, estão o milho, soja, arroz, batata, tomate e cebola.
De acordo com Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Indústria e da Pecuária (CNA), para o cultivo desses produtos, metade do orçamento é gasto com fungicidas, inseticidas, fertilizantes, sementes e royalties pelas sementes que são exportadas do Canadá, Estados Unidos e Rússia.
Em relação às carnes, um dos principais produtos de exportação brasileira, os suplementos e medicamentos aplicados nos animais também vêm do exterior. Mas nesse caso, com o câmbio mais atrativo, os exportadores preferem exportar a abastecer o comércio local. Desse modo, seguindo a lei da oferta e da demanda, menos carnes nas prateleiras as deixarão ainda mais caras.
Preços abusivos
Para os produtos importados que não são matéria-prima, como é o caso de fertilizantes e remédio de gado, o impacto é bem mais forte. Em poucos meses, o preço de vinhos, peixes, chocolates e balas triplicaram.
Os produtos importados já subiram 30% em 2015 e devem sofrer mais um reajuste, de 10%. De acordo com Humberto Barbatto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abiee), a tributação de vinhos e bebidas quentes passa a valer a partir de dezembro.
“Isso vai nos pegar justamente no Natal, quando as vendas são maiores. Nós estamos trabalhando para pelo menos adiar essa medida. Já prevemos que os preços podem subir a mais de 30%”, disse.
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