A internet 5G está virando realidade no Brasil e poderá causar uma revolução no setor produtivo brasileiro, permitindo a adoção de novas soluções tanto na indústria quanto no setor de saúde. Mais do que garantir maior velocidade de internet, a tecnologia permite acelerar projetos de automação de processos, assim como reduzir distâncias por meio da comunicação sem os atrasos associados a conexões 4G e Wi-Fi.
Os principais benefícios do 5G são a menor latência (diferença de tempo entre um envio e uma resposta de comando dado online), a maior velocidade máxima de transmissão de dados e a quantidade de dados enviados por segundo. Além disso, o 5G também torna possível a conexão de centenas de eletrônicos em uma mesma rede e viabiliza o uso de algoritmos de inteligência artificial para automatizar atividades, exigindo menos da capacidade computacional do dispositivo que fica nas mãos do usuário.
De olho nesses benefícios, empresas como a Weg, a Huawei e a Gerdau já têm projetos para o uso do 5G em suas operações, gerando ganhos de eficiência que chegam a 25%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o impacto do uso do 5G no Brasil será de até R$ 80 bilhões até 2030. Segundo levantamento da consultoria Frost & Sullivan, a adoção da rede ultrarrápida deve elevar o faturamento global do mercado de automação de US$ 3,5 bilhões em 2021 para US$ 5 bilhões em 2026.
A fabricante de equipamentos elétricos Weg faz testes com a tecnologia desde o fim de 2020. Carlos Grillo, diretor de negócios digitais na empresa, afirma que o 5G tem aplicações nítidas em aparelhos móveis que precisam de comunicação com a internet. Esse é o caso de veículos de transporte autônomos, que andam por uma fábrica, levando peças de um lugar ao outro, e já são parte do dia a dia da gigante catarinense.
Para Eduardo Polidoro, diretor de internet das coisas da Claro, a experiência feita com a fabricante pode inspirar novos projetos. “A aplicação do 5G na Weg é voltada à indústria e poderia ser replicada em outras empresas. Foram testados robôs de transporte de peças ou produtos”, diz.
Em busca de mais produtividade, a Gerdau fechou acordo com a Embratel para implementar uma rede 5G privativa na sua planta industrial de Ouro Branco (MG). A rede levará conexão de internet estável e livre de cabos aos 8,3 milhões de metros quadrados da sede da produtora de aço. O plano da Gerdau é utilizar o 5G para conectar máquinas, veículos e câmeras.
O monitoramento em vídeo será uma das principais aplicações do 5G, para detectar problemas de segurança na operação e interromper o processo industrial automaticamente quando necessário. “Poderemos monitorar uma locomotiva e evitar paradas no processo produtivo. Também poderemos rastrear empilhadeiras e veículos de movimentação interna”, diz Gustavo Franca, diretor da área digital e tecnologia da Gerdau.
A chinesa Huawei já aplica soluções ligadas ao 5G no interior de São Paulo. Na fábrica de Jundiaí (SP), a empresa usa a rede para aumentar sua eficiência com o uso de câmeras com inteligência artificial para monitorar a produção, evitando erros. Já no centro logístico de Sorocaba, a companhia utiliza o 5G para utilizar robôs autônomos de transporte. Lá, os ganhos de produtividade ligados ao uso do 5G chegam a 25%, segundo a empresa.
Na saúde, o Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas FMUSP (InovaHC) está entre os primeiros do País a fazer testes de uso do 5G na medicina. As experiências começaram com a transmissão de exames de ultrassom, mas possibilidades mais ambiciosas estão no radar. “A expectativa é levar acesso de qualidade à medicina e com um custo mais acessível”, diz Marco Bego, diretor do InovaHC.
Outras empresas de grande porte como Vale e Petrobras já possuem redes privativas de conexão 4G em parceria com a Vivo em suas operações, com infraestrutura que permite a migração para o 5G. No entanto, ainda não há previsão de quando as empresas farão esse movimento.
Retorno
De acordo com pesquisa da consultoria IDC neste ano, a falta de entendimento sobre o real potencial do 5G pode gerar uma grande limitação às companhias no que se refere à evolução digital no Brasil. Mais de 80% das empresas brasileiras vislumbram somente oportunidades de conectividade, que é uma pequena parte do poder transformacional do 5G. O uso da tecnologia para controlar veículos autônomos, por exemplo, é apontado por menos de 30% dos empresários brasileiros no levantamento.
Marcela Carvalho, assessora de assuntos estratégicos na Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), conta que o órgão trabalha junto às empresas para criar uma equação de retorno sobre os investimentos feitos em 5G. No entanto, a executiva ressalta que a limitação em relação ao vislumbre das potenciais aplicações dessa rede ainda adiam os investimentos na modernização das operações.
“A internet 5G é habilitadora para outras tecnologias da indústria 4.0. O maior ganho será para o setor produtivo. Não só a indústria, mas também a saúde e o agronegócio”, afirma. “Ainda não temos ideia de quais são todas as aplicações do 5G. Sabemos que ele pode permitir, por exemplo, análise de imagens de uma câmera em tempo real para identificar erros em peças em uma fábrica, economizando tempo e recursos humanos que podem representar valores significativos.”
Apesar das iniciativas, o Brasil chega atrasado à corrida pelo 5G no mundo. Na China, segundo a consultoria ABI Research, em 2021, as empresas envolvidas na implantação do 5G geraram US$ 1,2 bilhão em receita com redes privadas que atendem empresas e governos, cerca de um terço do total global e mais do que a receita gerada na Europa e América do Norte juntas.
Em um projeto da Huawei com a China Mobile, uma rede 5G subterrânea foi implementada na Mina de Carvão Xinyuan, em Shanxi. Com isso, a mina já ganhou velocidade ao ter inspeções remotas e a automação da atividade de mineração, com equipamentos que são operados por controle remoto. A planta siderúrgica da chinesa Xiangtan Iron & Steel conta com rede similar.
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