Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, biomédicos. Do teste para detecção do novo coronavírus ao lento restabelecimento depois de uma internação hospitalar por causa da covid, cada um desses profissionais tem papel essencial. Após mais de um ano de pandemia, o segmento ganha não apenas reconhecimento da sociedade como vê explodir o número de interessados em tornar-se atuante na área.
Em algumas instituições de ensino superior do País, os processos seletivos registraram um crescimento de mais de 200% em cursos da área da Saúde, em relação a edições anteriores. Foi o que aconteceu, por exemplo, na Faculdade Israelita de Ciência da Saúde Albert Einstein, vinculada ao Hospital Israelita Albert Einstein. O curso de Enfermagem, oferecido em São Paulo, teve aumento de 209% no total de inscritos na seleção de 2021, em relação a 2020.
Em Porto Alegre, na Faculdade de Ciências da Saúde Moinhos de Vento, o curso de Enfermagem registrou um crescimento de 130% nas matrículas realizadas no primeiro semestre de 2021, comparadas ao total no segundo semestre do ano passado.
Ao mesmo tempo em que a procura dos universitários cresce impulsionada pela pandemia, as instituições são desafiadas a formatar seus cursos de forma que preparem os estudantes para este novo contexto. No Moinhos do Vento, o curso começou a ser ofertado em 2019 e no ano passado já passou pela primeira adaptação curricular. “Nas atividades práticas, por exemplo, agora nós temos de lidar com um controle de infecção muito mais exacerbado que antes, com um cuidado muito maior com os alunos em serviço. Nós inserimos tecnologias com sistemas e softwares específicos”, explica Susane Lopes Garrido, diretora da Faculdade de Ciências da Saúde Moinhos de Vento.
O curso da instituição tem como premissa formar enfermeiros com caráter investigador, indo além da prática assistencialista. “Instigamos os alunos a exercerem a autonomia e sua veia científica. Eles têm de buscar o conhecimento, pesquisar fontes de referência, ‘papers’. Desde o início do curso são estimulados a buscar sua iniciação científica para que no terceiro semestre já possam estar aptos a concorrer a bolsas”, conta Susane.
Sem fake news
Foi a pandemia que trouxe a João Pedro Batista de Souza, de 19 anos, a certeza de que seu futuro está na Medicina. Mas engana-se quem pensa que a convicção veio apenas das cenas de médicos exaustos, com as “cicatrizes” das máscaras no rosto após plantões que se mediam pelo número crescente de procedimentos de entubamento. Essa abnegação própria da profissão sempre esteve na mente de João Pedro. Mas o que deu a ele a certeza foi a vontade de ser um médico comprometido com as evidências científicas.
“A pandemia deixou evidente que a Medicina, como qualquer outra profissão, tem profissionais extremamente capacitados, e outros não. O senso comum acha que o médico nunca vai passar uma informação incorreta, e ver que isso pode acontecer deixa a gente chocado”, afirma o estudante.
A fala do jovem faz menção ao “tratamento precoce”, um kit de medicamentos que preveniria a covid e que foi e continua sendo prescrito por muitos médicos, ainda que inúmeros estudos científicos tenham demonstrado que não trazem benefícios nem na prevenção nem no tratamento da doença.
João Pedro está no primeiro semestre do curso de Medicina da Faculdade Israelita de Ciência da Saúde Albert Einstein, instituição ligada justamente ao hospital no qual foi registrado o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, ainda em fevereiro de 2020. Enquanto se preparava para o vestibular, sentiu na pele os efeitos da pandemia.
Sua família inteira, composta pelos pais e dois irmãos, foi contaminada pelo novo coronavírus. “Meu pai ficou em estado mais grave, internado por oito dias. Foi justamente na época das provas, o que mexeu bastante comigo. Mas deu tudo certo e ele se recuperou.”
No futuro, o estudante quer se dedicar à área de Medicina da Família, exatamente a especialidade caracterizada por um olhar mais integral sobre a saúde dos pacientes e o acompanhamento ao longo de todas as fases da vida. No Brasil, a especialidade ganhou força no Sistema Único de Saúde (SUS) e ficou ainda com evidência maior com o programa Mais Médicos.
Em 2020, os vestibulares de fim de ano para Medicina nas universidades públicas já mostravam a tendência de aumento. A graduação na Universidade de São Paulo (USP) registrou 18,8 mil inscritos, um aumento de 19% em relação aos 15,8 mil inscritos de 2019. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o curso de Medicina teve 33,9 mil candidatos em 2020, um crescimento de 18,5%, frente aos 28,6 mil candidatos em 2019.
Uso racional
A corrida às farmácias em busca de vermífugos – o que fez com que se tornasse obrigatória a prescrição médica para alguns medicamentos antes comercializados sem essa exigência – mostra os riscos da automedicação, uma prática bem comum no Brasil. Uma pesquisa do Conselho Federal de Farmácia mostrou que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros. Desses, um quarto consome medicamentos por conta própria todo dia ou ao menos uma vez por semana. Entre as principais fontes influenciadoras para a decisão do uso estão amigos e familiares (25%).
Trabalhar para mudar essa realidade é um dos objetivos do curso de Farmácia oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, que também viu a procura pela graduação aumentar. Entre os processos seletivos do início de 2020 e de 2021, o crescimento foi de 10%. “Temos disciplinas como Atendimento Farmacêutico, na qual o estudante se prepara para dialogar com o paciente, expondo todo seu conhecimento para orientar a correta dispensação de medicamentos”, explica Letícia Cefali, coordenadora do curso.
Isso porque, de modo geral, o currículo prevê formar profissionais aptos a lidar não somente com os processos técnicos que envolvem os medicamentos, mas também com fatores políticos e sociais que dão complexidade ao sistema de saúde. “Tratamos de temas como os problemas da saúde pública e da sociedade, fundamentais para o profissional da saúde. São conhecimentos importantes para o desenvolvimento de novos medicamentos e produção de vacinas”, diz Letícia.
Novos exames dão destaque a profissionais
PCR, teste de antígeno, sorologia, IGG, IGC. Até que o novo coronavírus surgisse, termos técnicos como esses eram desconhecidos da maior parte da população. Pois agora, depois de um ano e meio de pandemia, se ouve sobre eles o tempo inteiro nos noticiários. E também muita gente já precisou realizar um desses testes de detecção da doença.
O diagnóstico laboratorial de cada uma das amostras passa pelo olhar do biomédico, profissional da saúde especializado em diagnóstico laboratorial e de imagem. Ele também tem a possibilidade de atuar em estudo de alimentos e da genética, análises em perícias criminais, estética e vigilância sanitária.
Na Universidade São Judas, a graduação em Biomedicina registrou um aumento de 13% no número de alunos matriculados no primeiro semestre de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020.
Afinal, foi uma biomédica, a baiana Jaqueline Goes de Jesus, que liderou a equipe responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus SARS-CoV-2 em tempo recorde, apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de covid-19 no Brasil.
De Nutrição a Gerontologia
Quem deseja atuar na área da Saúde tem um cardápio amplo e diverso de cursos para escolher. A diversidade fica por conta dos temas, tipo e duração dos cursos.
Dá para estudar de Gerontologia a Nutrição, passando por Educação Física e Radiologia. A duração também é muito variada: há desde bacharelados com seis anos de duração (como Medicina) a cursos de graduação tecnológica (caso de Gestão Hospitalar), com conclusão após dois anos.
De acordo com o Censo da Educação Superior, os cursos da área de Saúde e Bem-Estar podem ser encontrados em mais de 1 mil faculdades pelo País e abrangem atualmente 1,2 milhão de alunos. Todo ano são oferecidas cerca de 900 mil vagas nas mais diversas graduações.
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