O presidente Jair Bolsonaro poderá repetir a ex-presidente Dilma Rousseff e quebrar uma tradição no Exército se decidir nomear como próximo comandante do Exército o general Marco Antonio Freire Gomes. Comandante militar do Nordeste, Gomes é o nome mais cotado nos bastidores do governo para substituir o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, que deverá deixar o cargo após a demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva.
Nesta terça-feira, 30, o ministro Braga Netto, que assume a Casa Civil, vai se reunir com os comandantes das três forças: Exército, Marinha e Aeronáutica. Todos eles conversaram nesta segunda-feira, 29, com Azevedo e Silva logo após ele deixar o gabinete de Bolsonaro demitido do Ministério da Defesa.
O encontro de Azevedo com Bolsonaro durou três minutos. O tom foi seco. "Preciso do seu cargo”, disse o presidente ao então ministro da Defesa. Auxiliares do general dizem que ele já desconfiava estar na berlinda por ter sido contrário à tentativa de Bolsonaro de substituir Pujol, o comandante do Exército.
Desde a semana passada, Azevedo vinha sendo cobrado por demonstrações de mais apoio político a Bolsonaro. O presidente queria um sinal claro do Exército e não recebeu. Oficiais militares ouvidos pelo Estadão dão agora como certa a saída de Pujol. Em conversas reservadas, dizem que Azevedo perdeu o Ministério da Defesa porque se opôs à ofensiva de Bolsonaro. O Estadão apurou que o comandante do Exército se recusou a politizar as Forças Armadas. Agora, portanto, há caminho livre para a troca no Comando do Exército.
A expectativa nas Forças Armadas é de uma renúncia coletiva. Na hierarquia militar, todos os atuais comandantes estariam acima do novo ministro da Defesa, Braga Netto, pelo critério de antiguidade. Diante disso, caso permaneçam nos cargos, terão de se subordinar a ele. No Exército, a tradição da escolha dos comandantes obedece à antiguidade dos generais de quatro estrelas, ou seja, quem tem mais tempo no topo da carreira. Em 2015, a então presidente Dilma ignorou isso e escolheu de uma lista tríplice o general Eduardo Villas Bôas, que à época era comandante de Operações Terrestres. Villas Bôas era o terceiro na ordem.
Segundo militares que acompanham a negociação, para nomear Freire Gomes Bolsonaro teria de “aposentar” seis generais mais antigos que ele. Isso porque eles passam à reserva se um oficial mais "moderno", com menos tempo de Exército, for alçado ao comando.
Ao escolher Freire Gomes, Bolsonaro pode escapar ainda de outro nome que está prestes a se tornar o mais antigo entre os generais de quatro estrelas: o atual comandante de Operações Terrestres, general José Freitas. À frente dele estão apenas os generais Décio Schons e César Augusto de Nardi, que passarão oficialmente à reserva em abril e já foram substituídos no Alto Comando.
José Freitas teria, por tradição, a preferência para assumir o comando. Ele é apontado por deputados, senadores e militares como alguém que se opõe às mais recentes investidas políticas de Bolsonaro na caserna. Assim, estaria alinhado aos generais Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa, e ao comandante Pujol. A escolha de Freitas é considerada pouco provável por generais.
Em abril de 2018, ele apoiou a manifestação no Twitter do ex-comandante Villas Bôas, que gerou pressão sobre o Supremo Tribunal Federal às vésperas do julgamento de um recurso que poderia evitar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Villas Bôas afirmou que o Exército compartilhava o "anseio dos cidadãos de bem de repúdio à impunidade" e se mantinha "atento às suas missões institucionais".
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, questionou Villas Boas. Em seu perfil no Twitter, Freitas compartilhou a mensagem. "Mais uma vez o comandante do Exército expressa as preocupações e anseios dos cidadãos brasileiros que vestem fardas. Estamos juntos, comandante Villas Bôas", escreveu ele, na ocasião.
Neste ano, o episódio do tuíte voltou à tona com a revelação de Villas Bôas, em depoimento a um livro da Editora FGV, de que teve aval do Alto Comando para publicar aquela mensagem. Esta versão provocou manifestações de repúdio de ministros do Supremo. Após a anulação da condenação de Lula, neste mês, os militares preferiram o silêncio.
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