Pela segunda vez, a permanência do delegado Maurício Leite Valeixo na diretoria-geral da Polícia Federal (PF) gera uma crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Moro já avisou a Bolsonaro que vai deixar o governo caso o presidente imponha um novo nome no comando da PF. O Estado apurou que o ministro não aceita que essa troca venha de “cima para baixo”, e defende o direito de fazer a escolha.
Valeixo é especialista em combate ao narcotráfico internacional e em ações de inteligência policial. Com mais de 20 anos de corporação, o escolhido pelo ministro Moro atuou nos dois maiores casos da carreira do ex-magistrado, a Operação Banestado e a Operação Lava Jato. Então superintendente da Polícia Federal no Paraná, Valeixo compartilha com Moro as raízes paranaenses.
Natural de Mandaguaçu, cidade de cerca de 20 mil habitantes na região de Maringá, Valeixo é um dos três filhos do desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná Octávio Jorge de Cesar Valeixo (que morreu em 2003, aos 68 anos de idade).
Ex-chefe da Inteligência da PF, ex-diretor de combate à corrupção e duas vezes superintendente da PF no Paraná, Valeixo é considerado um quadro técnico, mas com fortes ligações com o ex-diretor-geral Leandro Daiello – que comandou a corporação por 6 anos nos governos da ex-presidente Dilma Rousseff.
Sob o comando de Daiello, Valeixo foi o número 3 na hierarquia da corporação, como diretor da Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor), área considerada chave para a gestão de Moro no governo Bolsonaro. Permaneceu no cargo entre 2015 até o fim de 2017.
O diretor-geral assumiu o posto com a missão de fortalecer a PF, com foco no combate à corrupção e ao crime organizado, livrando-a de ingerências políticas e estabelecendo autonomia para investigar quem quer que seja.
“A Polícia Federal não está para atender ao governo, ela está para atender o Estado brasileiro, para atender a sociedade brasileira”, afirmou Valeixo, em palestra dada em em 2018, em Curitiba. O delegado defendia a necessidade de instituições “fortes, independentes e republicanas” ao explanar sobre o papel da PF.
O passado de Valeixo
Formado em Direito pela PUC do Paraná, a relação de Valeixo com o ex-juiz da Lava Jato é antiga. Em 2003, era ele que comandava o inquérito da força-tarefa do Caso Banestado, primeiro grande trabalho das recém-criadas varas especializadas de lavagem de dinheiro no País – uma delas a de Curitiba, comandada por Moro.
Em 2009 assumiu a Superintendência da PF no Paraná pela primeira vez, cargo que ocupou até 2011, quando foi levado para Brasília para ser diretor-geral de Pessoal. Passou em seguida para a direção de Inteligência.
Em 2013, Valeixo foi para os Estados Unidos como adido policial em Washington. No retorno ao Brasil, em 2015, assumiu o posto de Diretor de Combate ao Crime Organizado (Dicor) – ano de início da Lava Jato.
Em 2018, Valeixo assumiu pela segunda vez o posto de superintendente no Paraná. Durante sua gestão, foi fechada a delação premiada do ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e executada a prisão do ex-presidente Lula, em abril.
Foi Valeixo quem decidiu seguir as ordens de Moro em 8 de julho, que contrariam despacho do desembargador plantonista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) – a segunda instância da Lava Jato – Rogério Favreto para soltar Lula. Favreto expediu duas decisões que foram posteriormente derrubadas pelo presidente da Corte, Thompson Flores, e pelo relator da Lava Jato, João Pedro Gebran Neto.
Valeixo foi delegado da Polícia Civil e integrou o Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre) antes de entrar para a PF.
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