O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira, 18, na cerimônia de comemoração do Dia do Exército, em São Paulo, que a imprensa é essencial para a democracia. Ele sinalizou que quer uma relação mais amistosa com jornalistas.
"Em que pese alguns percalços entre nós, precisamos de vocês (profissionais da imprensa) para que a chama da democracia não se apague", afirmou, no Comando Militar do Sudeste. O presidente disse ainda que espera que "pequenas diferenças fiquem para trás".
O discurso conciliador foge do padrão demonstrado desde que o presidente tomou posse. Levantamento publicado no mês passado pelo Estado mostrou que, em média, Bolsonaro usou o Twitter uma vez a cada três dias para publicar ou compartilhar mensagens nas quais critica, questiona ou ironiza o trabalho da imprensa brasileira.
- Foto: Fátima Meira/Futura Press/Estadão ConteúdoJair Bolsonaro
Também em março, o presidente endossou no Twitter tese levantada pelo site Terça Livre, que falsamente atribuiu a uma jornalista do Estado a declaração de que teria “intenção” de “arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”. A postagem de Bolsonaro expôs uma foto da profissional, que a seguir foi alvo de uma onda de ataques nas redes sociais.
A conduta do presidente foi criticada em nota conjunta da Associação Nacional de Jornais (ANJ), da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner). "Abert, ANER e ANJ assinalam que a tentativa de produzir na imprensa a imagem de inimiga ignora o papel do jornalismo independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas".
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmaram em bota que o episódio mostrou "descompromisso com a veracidade dos fatos" por parte do presidente. As entidades criticaram o uso da posição de poder do presidente para "tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas".
Na curta fala da cerimônia desta quinta-feira, de menos de seis minutos, Bolsonaro relembrou a formação dele no Exército nos anos 1970, período que classificou como "momento conturbado de nossa nação". Ele voltou a dizer que o Exército "sempre esteve ao lado da vontade popular".
Selfie e 'afago'
O presidente Jair Bolsonaro quebrou o protocolo na cerimônia de comemoração do Dia do Exército, no Comando Militar do Sudeste, na zona sul de São Paulo. Depois de fazer o discurso, que durou seis minutos, Bolsonaro saiu da tribuna em que fez a fala e começou a se direcionar para o carro em que chegou. No caminho, porém, retornou no pátio e foi em direção à banda do Exército.
Neste momento, brincou de reger a banda e tirou selfies. Os músicos, aliás, tocaram um trecho do hino do Palmeiras, clube para o qual ele torce.
A cerimônia ocorreu no pátio Sargento Mário Kozel Filho, no Comando Militar do Sudeste. O militar, morto em serviço em 1968, é comumente citado por Bolsonaro em discursos como um das "vítimas da esquerda" durante a Ditadura Militar. Na fala de hoje, ele disse que Kozel morreu "pelas mãos daqueles que não defendem nem a liberdade nem a democracia".
Antes da incorporação da bandeira, no começo do evento, os cerimonialistas destacaram que Kozel foi um "militar morto vítima de um atentado em um período crucial de nossa história".
No texto, os cerimonialistas disseram ainda que o Exército estava "presente em 1964 e no Vale do Ribeira".
Foi na época da guerrilha do Vale do Ribeira, no início dos anos 1970, que o hoje presidente se aproximou do Exército, que no local buscava o guerrilheiro Carlos Lamarca.
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