A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou durante uma palestra para alunos das universidades de Harvard e MIT, nos Estados Unidos, neste sábado (7), que a Justiça Brasileira não tem feito a “lei valer para todos”.
"Ela costuma atingir muito rapidamente para os que não podem pagar por advogados, em geral pessoas pobres, presas em flagrante e que ficam encarceradas por longos anos. Todavia, a Justiça atinge, quando atinge, muito lentamente os que têm recursos financeiros para manter um processo aberto e interpor sucessivos recursos, que impedem uma condenação definitiva, ou (impedem) a pena de ser cumprida", avaliou.
- Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Raquel Dodge
Segundo ela, a punição geralmente é mais severa para os mais pobres. "Os mais ricos não têm sido responsabilizados criminalmente pelos crimes de corrupção, e os mais pobres continuam à margem da proteção da lei quando se trata de direitos fundamentais. A maioria são jovens presos por furtos, por tráfico de pequenas quantidades de droga. No entanto, autores de crimes de colarinho branco, os que furtam elevada quantidade de recursos públicos, ou estão soltos, muitos sequer foram investigados e punidos”, ressaltou.
Ainda de acordo com Raquel Dodge, há uma “crescente sensação de impunidade e desconfiança nas decisões judiciais”, que vem sendo alvo de debate nas ruas. "As decisões (judiciais) são muitas, mas pela minha experiência de 30 anos de Ministério Público, posso dizer que são bem fundamentadas", afirmou. "Mas elas não têm produzido esse efeito de fazer a lei valer para todos", completou.
Ver todos os comentários | 0 |