Embasados nos ensinamentos do mundo animal, os primeiros homens tribais demarcavam os seus territórios, não pela ambição desmedida da posse de terras mas, apenas, para explorarem e proteger a área de que necessitavam para beber e caçar. Essa demarcação era medida da seguinte maneira: os homens válidos, fortes, guerreiros, saíam de suas cavernas para caçar, mas iam somente a um ponto do qual pudessem voltar a tempo, com a luz do sol, para que o animal caçado não chegasse putrefeito. Era, pois, aquele ponto a linha de limite natural do seu território. Nunca iam além daquela cerca imaginária e quando retornavam encontravam as mulheres, os velhos e as crianças à espera da leva de caçadores, que tinham o privilégio de comerem as melhores partes da batalha do dia. Os velhos, que também já tinham sido caçadores, eram respeitados, adorados, estimados e tidos como mestres e conselheiros incontestes dos mais jovens.
Pois bem, é preciso que preservemos o espólio que herdamos dos velhos guerreiros, alguns já ausentes de nós e que deixaram lições imorredouras a serem seguidas pelos que permanecem ativos. Em boa hora percebi a lição dos nossos ancestrais de cavernas.
A velhice e os traumas das noites mal dormidas, no enfrentamento de feras predadoras e dos ratos multiplicados, em nossos celeiros, me fizeram um homem amargo e intransigente, nervoso e austero, a ponto de ferir, involuntariamente, amizades que sempre estimei e de que tanto preciso. Agora, quero assumir minha velhice digna e sentar-me no terreiro de minha caverna para reaver meus amigos a quem, mesmo sem querer, posso ter magoado e ensinar aos mais jovens a esperar a sua parte nas caçadas dos valentes guerreiros, que deixaram entre nós o mais edificante exemplo de lealdade, de honradez e de verticalidade moral e funcional.
Mas para que tenha direito a uma velhice digna e respeitada não posso deixar de seguir as pegadas dos meus antecessores, como frisado, muito dos quais já no plano superior.
No curso de minha longa e cansativa caminhada, fiz muitos amigos, tanto no Judiciário a que pertenço, quanto na Polícia Civil do Piauí, de que me considero um produto espiritual. Dentre esses amigos, está o atual Presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, Sebastião Ribeiro Martins em quem, há dois anos, tive o prazer de votar para presidir ao mais do que centenário Tribunal de Justiça do Piauí. Agora, sinto-me no dever de aplaudi-lo, no momento em que ele está chegando, exitosamente, a essa maratona de lutas, tantas vezes mais ingratas do que reconhecedoras e gratificantes.
Faço-o, por várias e intercorrentes motivações: Primeiro, porque já passei por essa missão e sei o quanto ela é difícil e desafiadora e mais: somente depois dela é que ficamos conhecendo, no mais profundo sentido, a qualidade humana daqueles que estiveram ao nosso redor, estimulando-nos e dando-nos o apoio de que necessitamos.
No curso do seu biênio administrativo, esse ilustre e valente colega, pelo que sabemos, reafirmou aquilo que os seus amigos e familiares mais íntimos já sabiam, ou seja, aquelas qualidades que são apanágio das personalidade bem formadas: ser aquele homem calmo, generoso, honrado, pacífico, produtivo, conhecedor do seu ofício e que mostrou, com sobejos exemplos, o seu talento e o seu compromisso com essa árdua missão, de que todos nós estamos encarregados.
Mesmo enfrentando um momento universalmente estarrecedor de mortes e desesperos, corporificado nesta terrível pandemia, que ameaça o Brasil e todos os países do mundo, o Desembargador Sebastião Ribeiro Martins, com o apoio incondicional do seu Vice-Presidente, Desembargador Haroldo Oliveira Rehem, do Corregedor Geral da Justiça, Desembargador Hilo de Almeida Sousa, do Vice-Corregedor, Desembargador Oton Mário José Lustosa Torres, dos seus secretários, dos juízes auxiliares, do Ministério Público e de todos os magistrados, de primeiro e de segundo graus, com a firmeza necessária e com a possível produtividade, soube ser o guardião intransigente da nossa dignidade e da tradição do Judiciário piauiense que, segundo o ínclito mestre e imortal piauiense, Arimathéa Tito Filho, de saudosa memória, sempre lembra instantes de coragem, de sacrifício e de heroísmo espiritual.
Reconhecer o trabalho e o valor moral e profissional dos que exercem quaisquer parcelas de poder está, para mim, entre os deveres éticos de que não poderemos abrir mão.
Com esta desinteressada manifestação, dou o meu testemunho sincero de amigo e companheiro, pelo momento, merecidamente triunfal, do término de sua reconhecidamente exitosa administração.
Desembargador Edvaldo Pereira de Moura
Diretor da Esmepi e Professor da Uespi
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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