Deusval Lacerda de Moraes *
Em recente rodada de bate-papo com amigos alguns reafirmaram que o governo do udenista José da Rocha Furtado (1947-1950), que simbolizou a redemocratização do Piauí que desde o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) os piauienses eram governados por interventorias federais, foi historicamente o pior governo do Piauí. Entre outras interventorias efêmeras daquele ciclo, destacam-se as do médico Leônidas de Castro Mello (pela longevidade) e do major José Vitorino Correia (pela truculência) que assim foram sintetizados os seus governos pelo médico, jornalista e político Eurípides Clementino de Aguiar no seu artigo Ajuste de Contas: “Leônidas Mello, galináceo ditador, de vôo curto e caráter coloidal, está hoje atirado num posto subalterno, aprovando humildemente, sem tugir nem mugir, as arbitrariedades do atual Interventor (Vitorino Correia), que não raro, desfazem as falcatruas por ele próprio perpetradas, quando de posse do poder” (Jornal O Piauí de 14 de agosto de 1946).
Restabelecida as eleições diretas em todos os níveis no País pela Constituição Federal de 1946, os próceres udenistas Eurípides de Aguiar e Matias Olímpio de Melo queriam retornar ao governo do Piauí. Devido ao impasse, foi sugerido o nome do médico José da Rocha Furtado, de excelente formação moral, de alto nível intelectual e cultural e muito querido como cidadão. Tanto que inicialmente declinou do convite, por achar que a política não fazia parte da organização da sua vida. Ao aceitar o encargo, impôs as seguintes condições: absoluta liberdade na escolha dos seus auxiliares; rigorosa imparcialidade nas eleições municipais; não aumentar o funcionalismo estadual; não fazer injustiça com quem quer que fosse; procurar todos os meios para pacificar o Estado; moderação e elegância na campanha, que devia ser conduzida sem retaliações pessoais. E, de pronto, todas foram aceitas (Livro Eurípides de Aguiar: Escritos Insurgentes, de Genu Moraes e Kenard Kruel, 2011).
No pleito eleitoral Rocha Furtado sufragou o general Jacob Manoel Gaioso e Almendra, candidato do PSD (dos mandonistas). Mas a Assembléia Legislativa do Piauí foi composta por 17 deputados do PSD, 14 da UDN e 1 do PTB. Rocha Furtado disse: “governei contra o Tribunal de Justiça (TJ), a maioria da Assembléia Legislativa, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o Tribunal de Contas do Estado (TCE), a maioria dos oficiais da Polícia Militar e de grande parte do funcionalismo público, todos remanescentes da interventoria federal no Piauí” (em entrevista aos jornalistas Zózimo Tavares e Carlos Augusto de Araújo Lima, em 1990, à TV Clube). Além da resistência ferrenha do governo do presidente-general Eurico Gaspar Dutra, do PSD.
Ainda segundo a obra dos autores supracitados, o governo Rocha Furtado enfrentou um dos períodos mais tumultuados da história política do Piauí. As paixões desenfreadas, os ódios acumulados, a linguagem baixa e infamante usada na campanha eleitoral repetiu-se no seu governo. A Assembléia impôs uma Constituição eivada de heresias e excrescências inconstitucionais, que tinha como objetivo garrotear ainda mais o governador do Piauí. Enfim, em razão dos atos institucionais que restringiam os poderes governamentais, Rocha Furtado estava atado pelos pés e pelas mãos, pois a oposição queria levá-lo à ingovernabilidade.
Encerrado o seu governo, Rocha Furtado passou a residir em Fortaleza e foi Secretário de Saúde do governo Plácido Castelo (1967-1970) recebendo o título de cidadão cearense em reconhecimento da sua gestão e dos seus relevantes serviços prestados na medicina (Livro Política e Políticos: eleições 86, José Lopes dos Santos, 1988).
Não obstante, uma coisa é certa: afora as disenções políticas do período não há um ato desabonador da conduta do governador Rocha Furtado. Na época de exceção, incêndio era nas casas de taipas com coberturas de palha da população pobre da periferia de Teresina, e nunca descobriram realmente quem foram os incendiários. Agora, incêndio é na Secretaria de Saúde e não se sabe também a sua origem. O Tribunal de Contas era contra Rocha Furtado, agora o governador indica a sua esposa para conselheira da Corte. Filhos de Rocha Furtado nunca foram aprovados em concurso público do seu governo. A Assembléia Legislativa era acintosamente contra o governo Rocha Furtado, e hoje é totalmente a favor do governador, até com a complacência da oposição. Na educação, ora está parada a UESPI ora a rede estadual de ensino. Até agora o governante do Piauí não disse ainda a que veio sobre as realizações estruturantes para o Estado, então, por sabotagem permanente da classe política tradicional e das instituições ao governo Rocha Furtado (somando-se à sistemática propaganda da elite dominante), cabe a desapaixonada indagação: qual realmente o pior governo do Piauí? A resposta fica a critério de cada um dos piauienses.
* Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito
Em recente rodada de bate-papo com amigos alguns reafirmaram que o governo do udenista José da Rocha Furtado (1947-1950), que simbolizou a redemocratização do Piauí que desde o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) os piauienses eram governados por interventorias federais, foi historicamente o pior governo do Piauí. Entre outras interventorias efêmeras daquele ciclo, destacam-se as do médico Leônidas de Castro Mello (pela longevidade) e do major José Vitorino Correia (pela truculência) que assim foram sintetizados os seus governos pelo médico, jornalista e político Eurípides Clementino de Aguiar no seu artigo Ajuste de Contas: “Leônidas Mello, galináceo ditador, de vôo curto e caráter coloidal, está hoje atirado num posto subalterno, aprovando humildemente, sem tugir nem mugir, as arbitrariedades do atual Interventor (Vitorino Correia), que não raro, desfazem as falcatruas por ele próprio perpetradas, quando de posse do poder” (Jornal O Piauí de 14 de agosto de 1946).
Restabelecida as eleições diretas em todos os níveis no País pela Constituição Federal de 1946, os próceres udenistas Eurípides de Aguiar e Matias Olímpio de Melo queriam retornar ao governo do Piauí. Devido ao impasse, foi sugerido o nome do médico José da Rocha Furtado, de excelente formação moral, de alto nível intelectual e cultural e muito querido como cidadão. Tanto que inicialmente declinou do convite, por achar que a política não fazia parte da organização da sua vida. Ao aceitar o encargo, impôs as seguintes condições: absoluta liberdade na escolha dos seus auxiliares; rigorosa imparcialidade nas eleições municipais; não aumentar o funcionalismo estadual; não fazer injustiça com quem quer que fosse; procurar todos os meios para pacificar o Estado; moderação e elegância na campanha, que devia ser conduzida sem retaliações pessoais. E, de pronto, todas foram aceitas (Livro Eurípides de Aguiar: Escritos Insurgentes, de Genu Moraes e Kenard Kruel, 2011).
No pleito eleitoral Rocha Furtado sufragou o general Jacob Manoel Gaioso e Almendra, candidato do PSD (dos mandonistas). Mas a Assembléia Legislativa do Piauí foi composta por 17 deputados do PSD, 14 da UDN e 1 do PTB. Rocha Furtado disse: “governei contra o Tribunal de Justiça (TJ), a maioria da Assembléia Legislativa, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o Tribunal de Contas do Estado (TCE), a maioria dos oficiais da Polícia Militar e de grande parte do funcionalismo público, todos remanescentes da interventoria federal no Piauí” (em entrevista aos jornalistas Zózimo Tavares e Carlos Augusto de Araújo Lima, em 1990, à TV Clube). Além da resistência ferrenha do governo do presidente-general Eurico Gaspar Dutra, do PSD.
Ainda segundo a obra dos autores supracitados, o governo Rocha Furtado enfrentou um dos períodos mais tumultuados da história política do Piauí. As paixões desenfreadas, os ódios acumulados, a linguagem baixa e infamante usada na campanha eleitoral repetiu-se no seu governo. A Assembléia impôs uma Constituição eivada de heresias e excrescências inconstitucionais, que tinha como objetivo garrotear ainda mais o governador do Piauí. Enfim, em razão dos atos institucionais que restringiam os poderes governamentais, Rocha Furtado estava atado pelos pés e pelas mãos, pois a oposição queria levá-lo à ingovernabilidade.
Encerrado o seu governo, Rocha Furtado passou a residir em Fortaleza e foi Secretário de Saúde do governo Plácido Castelo (1967-1970) recebendo o título de cidadão cearense em reconhecimento da sua gestão e dos seus relevantes serviços prestados na medicina (Livro Política e Políticos: eleições 86, José Lopes dos Santos, 1988).
Não obstante, uma coisa é certa: afora as disenções políticas do período não há um ato desabonador da conduta do governador Rocha Furtado. Na época de exceção, incêndio era nas casas de taipas com coberturas de palha da população pobre da periferia de Teresina, e nunca descobriram realmente quem foram os incendiários. Agora, incêndio é na Secretaria de Saúde e não se sabe também a sua origem. O Tribunal de Contas era contra Rocha Furtado, agora o governador indica a sua esposa para conselheira da Corte. Filhos de Rocha Furtado nunca foram aprovados em concurso público do seu governo. A Assembléia Legislativa era acintosamente contra o governo Rocha Furtado, e hoje é totalmente a favor do governador, até com a complacência da oposição. Na educação, ora está parada a UESPI ora a rede estadual de ensino. Até agora o governante do Piauí não disse ainda a que veio sobre as realizações estruturantes para o Estado, então, por sabotagem permanente da classe política tradicional e das instituições ao governo Rocha Furtado (somando-se à sistemática propaganda da elite dominante), cabe a desapaixonada indagação: qual realmente o pior governo do Piauí? A resposta fica a critério de cada um dos piauienses.
* Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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