*Por Arthur Teixeira Júnior
"Fui relotado, mais uma vez, desta feita no arquivo morto desta repartição. Folheio alguns empoeirados processos e eis que encontro esta pérola acostada aos autos. Trata-se de uma certidão feita por um Oficial de Justiça, que realizou uma frustrada diligência para intimar uma parte em um processo. Nomes e números foram omitidos ou alterados para não violar o segredo profissional.
Atendendo solicitação desta Secretaria de Vara, dirigi-me ao endereço constante na inicial, com o intuito de intimar a autora do processo em epígrafe para comparecer a audiência de conciliação, conforme agendamento.
Chegando ao local, constatei ser um imóvel de vários cômodos, com uma circulação de usuários acima do normal, um cochichar constante, odores de perfume barato por todo o ambiente. Concluí tratar-se de uma casa de facilitação, onde meninas boas de famílias ruins encontram-se com meninos ruins de famílias boas.
Fui atendido pela alcoviteira, uma enorme e tosca figura, que caminhava lentamente arrastando os pés inchados, vestida por uma blusa apertada com um enorme buraco na axila esquerda, por onde saia um chumaço de grossos e enrolados cabelos que exalavam um forte cheiro de algo estragado. Notei que sua longa saia era confeccionada do mesmo tecido das cortinas, que tentavam dar ao ambiente um ar mais leve, mas eram de uma estampa fúnebre e desbotada. Um chinelo de tiras de couro com solado de pneu completava o repugnante figurino.
Os olhos da atendente não acompanhavam o eixo nasal, afligindo o interlocutor que nunca saberia se a dita estava conversando com ele ou com alguém imaginário postado metros à direita. Mascava um enrolado de folhas que, além de manchar-lhe o bigode, provocavam um chuvisco gosmento a cada palavra pronunciada, que, fatalmente, obrigava este servidor a dar um passo atrás a cada frase, que era acompanhado por um passo à frente da entrevistada, tanto que iniciamos a conversa na sala e a terminamos do outro lado da rua. Seus dentes lembravam um código de barras.
Questionada sobre se conhecia a autora já referida, a mesma afirmou que houve sim uma profissional com aquele nome na casa, mais conhecida como “Suzy saca-tampas”, alcunha conquistada por uma incrível e erótica habilidade que desenvolveu para abrir garrafas de cerveja sem o uso de qualquer ferramenta, somente com a utilização de um músculo periférico. Deixamos de descrever em detalhes tal habilidade por de pouca relevância ter aos autos, além de ser um tanto quanto nojenta.
Relatou ainda que a intimada deixou o estabelecimento em meados do ano de 2.007, após sofrer um grave revés no exercício de suas atividades profissionais, ocorrido mais ou menos como descreve-se a seguir: atendia o Prefeito da época, com a utilização de um equipamento exclusivo que fazia a sensação do local, na qual a autora era perita. Tratava-se de uma cadeira erótica vibratória, carinhosamente apelidada de Deliriuns Tremis, desenvolvida a partir de uma máquina de pilar arroz pelo mecânico da cidade, conhecido como Matias Gambiarra. O prefeito de então adorava tal procedimento, que era acompanhado pela postura adicional proporcionada pela profissional, conhecido como “fio terra”, o qual não entendi bem como funcionava, mas que certamente era com a utilização do dedo médio da operadora.
Ocorre que em certo momento, o dispositivo controlador de vibrações (um barbante que segurava uma manivela) rompeu-se e os movimentos oscilatórios da cadeira ficaram incontroláveis, aumentando exponencialmente, tanto em amplitude como em frequência. Em consequência, o casal foi arremessado, ainda abraçado e com o fio terra posicionado, pela janela do cômodo que ocupava, indo estatelar-se junto ao meio fio defronte ao estabelecimento para delírio dos transeuntes, mas para a indignação da ex primeira dama que por lá passava naquele momento (cidade pequena é uma merda!). Se foram graves os ferimentos provocadas pela queda, em nada se comparam com aqueles proporcionados pela carametade do alcaide, que encheu o desnudo casal de poderosos pescoções.
A autora a ser intimada foi vista pela última vez em desabalada carreira pela BR 343 em direção a Picos, vestindo somente um saco de estopa providencialmente arrebatado do posto vizinho ao imóvel visitado.
Quanto ao prefeito, hoje o extinto empresta seu nome à rua onde desenrolaram os fatos aqui narrados.
O referido é verdade e dou fé
Teresina, 23 de maio de 2.008."
*Arthur Teixeira Júnior é articulista e escreve para o GP1
Imagem: ReproduçãoArthur Teixeira Júnior
"Fui relotado, mais uma vez, desta feita no arquivo morto desta repartição. Folheio alguns empoeirados processos e eis que encontro esta pérola acostada aos autos. Trata-se de uma certidão feita por um Oficial de Justiça, que realizou uma frustrada diligência para intimar uma parte em um processo. Nomes e números foram omitidos ou alterados para não violar o segredo profissional.
Atendendo solicitação desta Secretaria de Vara, dirigi-me ao endereço constante na inicial, com o intuito de intimar a autora do processo em epígrafe para comparecer a audiência de conciliação, conforme agendamento.
Chegando ao local, constatei ser um imóvel de vários cômodos, com uma circulação de usuários acima do normal, um cochichar constante, odores de perfume barato por todo o ambiente. Concluí tratar-se de uma casa de facilitação, onde meninas boas de famílias ruins encontram-se com meninos ruins de famílias boas.
Fui atendido pela alcoviteira, uma enorme e tosca figura, que caminhava lentamente arrastando os pés inchados, vestida por uma blusa apertada com um enorme buraco na axila esquerda, por onde saia um chumaço de grossos e enrolados cabelos que exalavam um forte cheiro de algo estragado. Notei que sua longa saia era confeccionada do mesmo tecido das cortinas, que tentavam dar ao ambiente um ar mais leve, mas eram de uma estampa fúnebre e desbotada. Um chinelo de tiras de couro com solado de pneu completava o repugnante figurino.
Os olhos da atendente não acompanhavam o eixo nasal, afligindo o interlocutor que nunca saberia se a dita estava conversando com ele ou com alguém imaginário postado metros à direita. Mascava um enrolado de folhas que, além de manchar-lhe o bigode, provocavam um chuvisco gosmento a cada palavra pronunciada, que, fatalmente, obrigava este servidor a dar um passo atrás a cada frase, que era acompanhado por um passo à frente da entrevistada, tanto que iniciamos a conversa na sala e a terminamos do outro lado da rua. Seus dentes lembravam um código de barras.
Questionada sobre se conhecia a autora já referida, a mesma afirmou que houve sim uma profissional com aquele nome na casa, mais conhecida como “Suzy saca-tampas”, alcunha conquistada por uma incrível e erótica habilidade que desenvolveu para abrir garrafas de cerveja sem o uso de qualquer ferramenta, somente com a utilização de um músculo periférico. Deixamos de descrever em detalhes tal habilidade por de pouca relevância ter aos autos, além de ser um tanto quanto nojenta.
Relatou ainda que a intimada deixou o estabelecimento em meados do ano de 2.007, após sofrer um grave revés no exercício de suas atividades profissionais, ocorrido mais ou menos como descreve-se a seguir: atendia o Prefeito da época, com a utilização de um equipamento exclusivo que fazia a sensação do local, na qual a autora era perita. Tratava-se de uma cadeira erótica vibratória, carinhosamente apelidada de Deliriuns Tremis, desenvolvida a partir de uma máquina de pilar arroz pelo mecânico da cidade, conhecido como Matias Gambiarra. O prefeito de então adorava tal procedimento, que era acompanhado pela postura adicional proporcionada pela profissional, conhecido como “fio terra”, o qual não entendi bem como funcionava, mas que certamente era com a utilização do dedo médio da operadora.
Ocorre que em certo momento, o dispositivo controlador de vibrações (um barbante que segurava uma manivela) rompeu-se e os movimentos oscilatórios da cadeira ficaram incontroláveis, aumentando exponencialmente, tanto em amplitude como em frequência. Em consequência, o casal foi arremessado, ainda abraçado e com o fio terra posicionado, pela janela do cômodo que ocupava, indo estatelar-se junto ao meio fio defronte ao estabelecimento para delírio dos transeuntes, mas para a indignação da ex primeira dama que por lá passava naquele momento (cidade pequena é uma merda!). Se foram graves os ferimentos provocadas pela queda, em nada se comparam com aqueles proporcionados pela carametade do alcaide, que encheu o desnudo casal de poderosos pescoções.
A autora a ser intimada foi vista pela última vez em desabalada carreira pela BR 343 em direção a Picos, vestindo somente um saco de estopa providencialmente arrebatado do posto vizinho ao imóvel visitado.
Quanto ao prefeito, hoje o extinto empresta seu nome à rua onde desenrolaram os fatos aqui narrados.
O referido é verdade e dou fé
Teresina, 23 de maio de 2.008."
*Arthur Teixeira Júnior é articulista e escreve para o GP1
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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