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Compra de imóveis: atrativos para inglês ver


Thomaz Assumpção*

Em tempos de economia racional, muito se fala em compra consciente. É necessário analisar bem qualquer produto e a real necessidade de possuí-lo a fim de evitar aquisições por impulso que deixam o consumidor com um rombo na conta e um bem sem uso. Mas na hora de comprar um imóvel essa realidade é infinitamente mais preocupante.

A economia nacional ainda em desenvolvimento permite que o brasileiro compre, em média, apenas dois imóveis ao longo a vida. Portanto, assinar um contrato de compra e venda de uma casa ou apartamento deve ser uma decisão baseada no máximo de informações possível.

Infelizmente, as ofertas do mercado imobiliário ainda estão na pré-história. Na hora de vender, incorporadoras, construtoras ou imobiliárias tentam captar a atenção do consumidor com deflagradores emocionais que podem levar a compras precipitadas e malsucedidas.

Uma novidade que envereda por esse caminho é o uso de estrangeirismos para batizar novos conceitos nos empreendimentos. Salão de festas, sala de ginástica e piscina estão no limbo imobiliário. O mercado atual abusa do inglês para nomear diferenciais com o objetivo de conquistar o comprador. Prédio bom é o que tem “fitness”, “gourmet lounge”, além de “child care” e “pet care”, creches para crianças e animais de estimação. Mas o pior é que, na tentativa de oferecer um empreendimento mais atrativo que o do concorrente, as empresas passaram a usar expressões idiomáticas que não existem na gramática inglesa.

Um edifício residencial na região nobre do Itaim Bibi, zona oeste de São Paulo, vende “style homes”no lugar de apartamentos. A zona de lazer é “top”: conta com “dance hall” (o bom e velho salão de festas), “smart control, stand alone” (controle remoto para luz e ar-condicionado) e “personal line” (decorador).

Outro empreendimento do Panamby, também na zona oeste paulistana, troca o velho apartamento por “living space”. Além da clássica “wash lounge” (lavanderia), tem “garage band”, um estúdio para os moradores ensaiarem com seus instrumentos musicais.

O engraçado é que o público jovem é o alvo desses empreendimentos. Acostumados com a economia mais estável, sem lembranças dos tempos da inflação, brasileiros com menos de 35 anos são os que mais financiam a compra de imóveis: de acordo com Caixa Econômica Federal, atualmente 56,9% dos financiamentos são assinados por eles. Justamente esses jovens são mais conectados a tecnologias que podem ajudar na pesquisa pelo imóvel ideal. É mais fácil para eles encontrar informações concretas e realizar uma análise relacional entre os dados coletados.

Se, na hora de comprar, o consumidor reunir o máximo de informação antes de ceder a estímulos “fashion”, mostrará às empresas que elas só têm a ganhar quando são transparentes e oferecem dados reais que possam valorizar um imóvel. O mercado imobiliário vai ficar mais racional, característica sempre bem-vinda em todo negócio em que grandes somas estão envolvidas.

*Thomaz Assumpção é presidente da Urban Systems, empresa especializada em análise de dados demográficos em mapas digitais para dimensionamento de tendências em mercados e cidades.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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