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Acossado por manifestações da sociedade brasileira, o velho lobo, imperador do Maranhão, José Sarney, mas eleito pelo Estado do Amapá - uma anomalia histórica da política nacional -, não teve dúvida para enfrentar a chuva ácida de acusações que lhe foram irrogadas. Do plenário do Senado, partiu para o ataque desafiando a todos os "santos" presentes que jogassem a primeira pedra. Velho marinheiro de longas jornadas, sabe como poucos navegar em mar tempestuoso e cheio de tubarões.

Ele conhece bem o presente e o passado da maioria de cada um dos tubarões que navega em águas do Senado. São geralmente tubarões de rabo preso (mansos), acostumados a conviver em águas poluídas, que não teriam coragem de cometer a descortesia de desapontar o "impoluto" senador maranhen..., quer dizer, amapaense com qualquer questionamento da espécie.


Usando dessa estratégia, o senador Sarney cuspiu fogo contra todos aqueles que ele considerou não saber respeitar a vida "exemplar" de um homem público. Bravo! Muito bravo, senador Sarney! Nós, patuleia desvairada, é que somos uns irresponsáveis. Como ousamos cometer injustiças à candidez política de parlamentares brasileiros?

Recentemente, o ex-presidente da Coreia do Sul, Roh Moo Myun, suicidou-se ao ver o seu nome envolvido em escândalo de corrupção. Aqui, ao contrário, o presidente do Senado, José Sarney, por três vezes comandando o estamento nacional, afirma solenemente que não sabia que o salário moradia lhe era creditado mensalmente em sua conta corrente; que os seus netos e demais familiares exerciam funções públicas, sem concurso, em gabinetes de amigos políticos; que desconhecia que não deveria usar cotas de passagens aéreas para fins pessoais, familiares e de amigos; que nunca ouvir falar em falcatruas de diretores do Senado. Será que ele pegou o vírus do presidente Lula, que sempre afirmou não saber de nada que se passa no governo?

Que o senador Sarney se mostre um tanto esquecido de suas responsabilidades e deveres públicos, por sua longeva idade parlamentar, até se releva. Mas vir elevar o seu passado de homem público irreparável, com todo o respeito, a história política do Maranhão certamente não o abonará, assim como a opinião pública brasileira. Ir à tribuna se defender e dizer que mandará apurar os fatos relacionados com os tais atos "secretos" não é o suficiente. Essa prática de postergar as soluções já é conhecida. O que o País precisa saber agora é se os atos secretos serão anulados, e por que os diretores responsáveis ainda não foram afastados.

E nesse episódio, eis que surge (quem diria) o presidente Lula, de forma conciliadora, para falar em política de denuncismo no País, tentando defender o senador Sarney de que ele tem história suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum. Ora, todos são iguais perante a lei, Art.5º da Constituição Federal.

Ademais, durante a gestão presidencial Sarney, conforme registra jornais da época, Lula se esquece que lhe fez desairosas considerações: "Não há diferença entre o governo Sarney e o governo Figueiredo (Fev/1986)". "Qualquer governo, comparado a Sarney, será socialista, tal a mediocridade de sua gestão (Dez/1986)". "Se o governo continuar errando, o que vai sobrar para o Sarney é ser maquinista da Ferrovia Norte-Sul que está tentando construir (Set/1994)".

*Julio César Cardoso, bacharel em Direito e servidor federal aposentado

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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