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Como integrante do Grupo de Trabalho-GT, criado pelo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para realizar um diagnóstico sobre a Serra Vermelho, sou testemunha do jogo sujo de interesses políticos e econômicos montado para garantir a permanência da empresa JB Carbon na área, bem como de outros grupos empresarias, que visam muito dinheiro às custas de uma floresta extremamente rica do ponto de vista biológico. Para se ter uma ideia, existe ali o maior número de espécie de aves da caatinga do Nordeste bem como a maior riqueza vegetal da região, além de ser uma área de recarga hídrica importante para o Piauí.


Contrariando ao cargo que exerce o Secretário de Meio Ambiente do Estado, Dalton Macambira, articulou uma manobra em abril passado, organizando uma audiência pública no município de Bom Jesus e enchendo a Câmara de Vereadores daquela cidade de empresários do agronegócio e prefeitos interessados no grande tesouro, para dizerem que não querem a criação de uma unidade de proteção. Em nenhum momento Danton Macambira se manifestou favorável a proteção do lugar, muito pelo o contrário, apresentou uma série de restrições para evitar a conservação, entre elas, deixar o projeto Energia Verde e outras ocupações irregulares, dentro da Serra Vermelha. Até mesmo lugares de extrema beleza cênica, formada por cânions, morros, serras e uma vegetação deslumbrante não foi poupada pelo projeto do secretário, grande defensor do agronegócio.

Após a vistoria da área os representantes do ICMBio/MMA constataram irregularidades de toda ordem, uma delas, uma briga judicial da empresa JB Carbon com a Associação Serrana da Serra Vermelha I e II, ambas se dizem donas de mais de 20 mil hectares de terras públicas. Infelizmente, este não foi o único caso encontrado de áreas sobrepostas, o mesmo acontece com o Condomínio Novo Horizonte, de 11.800 hectares, Cajunorte de 40 mil hectares. Sobreposição de áreas é um fato comum na história da grilagem de terras no Sul do Estado, fato este de conhecimento do Tribunal de Justiça do Piauí-TJ, que já constatou através de correição mais nada fez para arrecadar as terras públicas.

Ao final, os técnicos deixaram claro que é de extrema importância preservar e conservar uma área de aproximadamente 400 mil hectares, incluindo a Área de Proteção Ambiental do Estado-APA do Rangel, onde a Semar já expediu licença para a exploração do agronegócio. Para criar uma unidade de conservação na Serra Vermelha eles se baseiam em leis, entre elas a Lei 11.428/2006 da Mata Atlântica que se faz representar na região, bem como o Cerrado e a Caatinga.

Conheça os tesouros biológicos da Serra Vermelha

A Universidade de São Paulo-USP, através do seu Departamento de Zoologia, realizou em 2006 uma pesquisa no Parque Nacional Serra das Confusões, no limite com a Serra Vermelha. Segundo o coordenador da pesquisa, professor doutor Hussam Zaer, as amostras também servem para a área da Serra Vermelha. Os estudos realizados por 14 pesquisadores sobre a diversidade da fauna concluiu que a região abriga a fauna de um ecótono, incluindo até mesmo elementos das dunas do rio São Francisco e da fauna amazônica. Em termo de biodiversidade o estudo aponta tratar-se de "caráter único". Foram registradas 221 espécies de aves, 58 de mamíferos, 43 de répteis, 16 de anfíbios, perfazendo um total de 338 espécies de vertebrados.

Em relação às espécies da ave fauna, o estudo aponta que é nessa região onde se encontra o maior número de aves do Nordeste, inclusive abrigo de inúmeras espécies que estão na lista de animais em extinção ou mesmo extintos. De acordo com o ornitólogo responsável pela pesquisa, Marcos Pérsio, existe a possibilidade de existir na Serra Vermelha a ararinha azul, símbolo de animal extinto no Brasil.

Situada sobre um planalto que foi erodido a milhares de anos, a região tem uma beleza cênica de tirar o fôlego. São cânions, cuestas e chapadas em meio a uma floresta exuberante. Se não bastasse, existem inúmeros sítios arqueológicos semelhantes as do Parque Nacional Serra da Capivara, no município de São Raimundo Nonato.

*Tânia Martins, jornalista ambiental

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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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