Ao me deparar com a noticia e carta de demissão de Marcelo Evelin e todo Núcleo do Dirceu, questiono mais uma vez qual a função do estado e em especifico a de uma Secretaria de Cultura que não seja incentivar, promover, difundir e zelar pelo bem cultural. Função esta, que a meu ver, necessita não só respeitar as tradições de um povo, como também sua diversidade, sua capacidade de produzir novos conhecimentos e estéticas, e, sobretudo sua liberdade de expressão.
Há poucos anos fiquei estarrecida com a demissão da talentosa artista piauiense Lina do Carmo da curadoria e produção do Festival Interartes na Serra da Capivara, como também do término de seu trabalho educativo com as crianças da região. Este projeto pioneiro que em menos de dois anos foi reconhecido nacional e internacionalmente foi interrompido bruscamente por diversidades estéticas e conceituais, desrespeitando o trabalho de uma piauiense que mesmo radicada no exterior, fez de sua arte corporal a difusão de nossas riquezas culturais. Perdemos nós, os piauienses, a sociedade local, os artistas e a mídia mundial que voltavam seus olhares para o nosso Piauí e nosso maravilhoso Parque Nacional que tanto necessita de apoio que lhe são sonegados.
É. A cena novamente parece se repetir com a demissão de outro artista piauiense, Marcelo Evelin, que num ato de coragem e dedicação abriu mão de sua posição e destaque profissional na Holanda, para colaborar e desenvolver arte contemporânea em sua terra natal.
Em três anos, Marcelo e o Núcleo do Dirceu, trabalharam e produziram pesquisas e espetáculos incansavelmente, levando o nome do nosso estado aos mais renomados festivais do País e do exterior. No Teatro João Paulo II, desenvolveram oficinas para a comunidade além de promoverem diversos intercâmbios culturais.
Concordar ou não com a estética, filosofia e conceitos artísticos desenvolvidos por Marcelo e seu núcleo, não é justificativa para falta de diálogo que viabilizassem entendimentos com o objetivo de preservar a continuidade deste projeto cultural, tão importante para nosso estado e para uma nova vertente da dança contemporânea piauiense.
Como relata nosso querido Professor Santana, “os artistas piauienses há muito estão num mundo sem fronteiras.” Partimos em busca de mais conhecimento e profissionalização, mas não deixamos de lado, nossas memórias e riquezas culturais. O próprio Marcelo Evelin, amigo e parceiro de muitas jornadas, me afirmava com seu jeito maroto : “a gente sai do Piauí, mas o Piauí não sai da gente”. Muitos de nós regressaram como o talentoso Arimatan Martins, e mais recentemente o músico Luisão Paiva, se somando aos que ficaram para o desenvolvimento de nossa arte.
No caso de Lina do Carmo e Marcelo Evelin, não deveria ser diferente. Tenho certeza que a atitude de ambos também era e é, somar e colaborar com a cultura piauiense.
Se parabenizei e vibrei com a iniciativa da criação do Núcleo do Dirceu, hoje, lamento profundamente sua continuidade comprometida. A diversidade é cadeira cativa não só nas políticas culturais, mas em toda e qualquer proposta democrática.
O desfecho de mais um projeto cultural impossibilitado em nosso país, nos faz refletir novamente, sobre os caminhos ainda a trilhar, para que nossa sociedade, dirigentes políticos e empresas privadas, reconheçam na arte uma forte aliada nas transformações sociais e educativas.
*Lenora Lobo
Uma artista Piauiense
ALAYA ARTE DO MOVIMENTO CIA DE DANÇA
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
Ver todos os comentários | 0 |