A crise do Senado é o grande pôquer da política brasileira deste momento. Lá não se joga apenas os destinos da carreira de José Sarney.
Infelizmente, tampouco se busca pra valer o resgate da seriedade, com o retórico restabelecimento da moralidade no comando da Casa. O grande jogo na mesa de discussão, nas refregas de bastidores e principalmente nas páginas de jornais é o comando do país.
A carreira de Sarney, é óbvio até pela idade, espera apenas uma pá de cal. E, pelas cores da crise, pode carregar junto algumas estrelas do mais longevo clã da política nacional. O ataque ao Senado revela mais uma vez o tamanho do desprestígio da classe política e o papel da Casa: alguns já questionam a necessidade da Câmara Alta, há algum tempo transformada no grande centro das negociatas políticas.
E o "resgate da moralidade" é tratado aqui como apenas retórico porque poucos estão realmente preocupados com isso. Inclusive porque se os atos secretos forem olhados a fundo vão alcançar muitos dos ocupantes do Senado. Há 18 anos esses atos vêm sendo praticados, beneficiando gente de diferentes estados e partidos.
Nesse jogo onde o que parece nem sempre (ou raramente) é, o primeiro resultado que vai se evidenciando é o distanciamento entre PMDB e PSDB. Há apenas 4 meses, muitos apostavam numa aliança entre o PMDB e o tucanato, seja através da candidatura de José Serra ou de Aé-cio neves. As refregas desses últimos meses vão transformando uma questão pessoal - os ataques a Sarney - em uma guerra partidária.
Dentro do PMDB, é cada vez maior o número de lideranças que está tomando a seqüência de taques como uma questão partidária. É verdade que o PMDB nunca vai por inteiro para lugar nenhum, e agora não seria diferente. Mas a maior parte do partido está ficando incomodada com a reincidência de golpes. E promete revidar.
Os peemedebistas que perfilam ao lado dos tucanos no ataque ao presidente do Senado são simbolicamente importantes, mas não são tantos nem controlam muita coisa dentro da sigla. E isso pode ter impacto significativo sobre as articulações para 2010.
O PT de Dilma pode ficar muito agradecido a essa crise em torno de Sarney.
A crise do Senado é séria. Muito séria. E mostra o tamanho do descala-bro ético que cerca a política brasileira. A própria chegada de Sarney à presidência da Casa, ladeado com os Collor de Melo e Renan Calheiros da vida, já era um forte indicador das práticas corriqueiras e de onde o Senado estava metido.
Outro sintoma importante: os questionamentos sobre os atos do Senado - sejam eles da gestão Sarney ou não - são sempre tratados como pessoais ("coisas do Agaciel", "coisas do Sarney"), quando de fato revelam procedimentos institu-cionalizados. É aquela história do Poder personalizado, do Poder Público privatizado com fins clientelistas. As práticas não são seriamente questionadas, mas tão somente a figura do senador em fim de carreira. Como se tirar Sarney e colocar outro qualquer seja a solução.
Para mudar, é preciso mudar de nome e de postura.
O pior da crise, mesmo!, não é a crise em si. De fato, o doloroso é saber que as velhas práticas seguem em voga. E que a luta pela moralidade se restringe a mudar um nome por outro. Mais ou menos como entregar os anéis para permanecer com os dedos.
O pior da crise é que ela pode dar em nada. Absolutamente nada. A não ser numa mexida no jogo de forças, em que aliados de ontem podem deixar de ser aliados de amanhã.
Mas, no final das contas do subterrâneo da política, o que importa é isso: quem vai ficar com a faca para se lambuzar com o queijo e definir o tamanho das fatias servidas.
(*) Fenelon Rocha é Jornalista e Cientista Político com Doutorado pela Universidade de Salamanca, Espanha.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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