Missa especial foi celebrada nessa quinta-feira (13), das 18h30 às 20h30, na Igreja Católica de Nossa Senhora de Lourdes, localizada na Vermelha em Teresina. A solenidade religiosa teve como objetivos comemorar o dia de Santa Luzia e o aniversário de 106 anos do consagrado e imortal sanfoneiro Luiz Gonzaga, Gonzagão (Rei do Baião). O ato religioso e comemorativo foi presidido pelo pároco, Pe. Antônio Cruz.
Dezenas de músicos nordestinos, especialmente piauienses, das mais diversas faixas etárias se apresentaram durante o ato religioso em homenagem ao Rei do Baião, a Santa Luzia e ao Dia Nacional do Forró.
- Foto: Jacinto Teles/Gp1Pe. Antônio Cruz, sob o ritmo dos sanfoneiros
Gonzagão nasceu no dia 13 de dezembro de 1912. Há anos o Piauí presta suas homenagens ao sanfoneiro que tão bem representou a vida do nordestino, em especial do sertanejo, seja por meio de Asa Branca, Triste Partida..., tendo o baião com sua marca registrada.
Há aproximadamente uma década, a Colônia Gonzaguiana de Teresina composta de músicos e pesquisadores, realiza essa homenagem especial em respeito e veneração a toda a obra de Luiz Gonzaga.
- Foto: Jacinto Teles/Gp1Sanfoneiros inspirados em Gonzagão trouxeram mais luz no Dia de Sta. Luzia
Como a maioria dos seus fãs, admiradores e sobretudo apreciadores de sua bela e sensível musicalidade são católicos, nada poderia ter acontecido de forma mais perfeita do que como ocorreu nessa quinta-feira (13), na Igreja da Vermelha, sob a coordenação do Pe. Antônio Cruz, que, visivelmente transbordava de alegria pela celebração do evento multirepresentativo.
- Foto: Jacinto Teles/Gp1Lázaro, uma das representações vivas de amor a Gonzagão
Dentre os consagrados músicos presentes, estava Lázaro do Piauí, que não escondia a emoção e satisfação de mais uma vez reverenciar Gonzagão no dia do seu natalício. Ao falar com este colunista acerca do evento festivo, no momento da Procissão, o cantor, compositor e sanfoneiro, Lázaro do Piauí, disse:
“Olha, uma festa como essa, uma comemoração dessa: 106 anos de Luiz Gonzaga, no Dia de Santa Luzia... representa uma homenagem a essa Santa querida e a esse homem que foi um divisor de águas no nosso País... dos grandes camponeses deste Brasil. Foi um dos maiores músicos deste País, que criou o maior número de ritmos deste Brasil e que nunca cobrou um royaltie, e defendeu o nosso Estado e o nosso Nordeste como ninguém”; declarou o gonzaguiano piauiense.
- Foto: Jacinto Teles/Gp1Nossa Sra. de Lourdes lota em homenagem à Santa Luzia e a Luiz Gonzaga
No contexto do fato
Com a devida vênia aos nossos importantes leitores, retrato aqui uma lembrança permanente sobre a musicalidade de Luiz Gonzaga que me marca profundamente, por que foi fato marcante na história do meu genitor, que, como Gonzagão, nasceu no sertão Nordestino no mesmo ano, ou seja, 1912. Luiz Gonzaga só não teve a coragem que o meu pai teve, qual seja: ter 20 filhos sem se afastar do sertão, e eu sendo privilegiado de ter sido o derradeiro. Enfim, vamos ao fato...
Interessante relembrar neste momento, parte da letra da música “triste partida”, do poeta popular Patativa do Assaré, imortalizada na voz de Luiz Gonzaga. Essa música toca o coração da maioria esmagadora dos sertanejos nordestinos até hoje, que, aliás, meu pai de saudosa memória, Manoel Rodrigues Coutinho (Seu Didício como era mais conhecido), sempre a ouvia em pleno silêncio.
Ele (sertanejo do semiárido de Jaicós do Piauí), sempre que ouvia “triste partida”, permanecia em reflexão profunda, pois, me dizia que revivia em sua memória toda sua história de grandes desafios vivenciada no sertão.
E lembrava como se os olhos estivessem vendo (como ele mesmo assim falava), do final de 1958, quando teve que bater em retirada do seu torrão natal e andar por 100 km, da localidade Fazenda Data Peixe interior de Jaicós (hoje Município de Massapê do Piauí) para o Município de Caldeirão Grande (Região de Marcolândia do Piauí), tocava alguns jegues de que ainda dispunha, que carregava seus filhos, sua esposa (Adelina Teles de saudosa memória) e alguns pertences, tentando fugir da seca que ameaçava de morte a todos que lutavam pra sobreviver.
E o velho sertanejo, quando terminava de ouvir "os eternos oito minutos de [triste partida]”, obviamente em outras datas, quando já havia retornado do “retiro forçado”, dizia-me: "se eu com Adelina (esposa) e seus irmãos (pois eu sequer havia nascido), que fomos como retirante bem praqui em Caldeirão Grande -, sofremos tanto, imagina quem foi pra São Paulo e que até hoje não retornou”?...
Tudo ocorreu em nome de uma grande causa: garantir que sua família não passasse fome, em decorrência da seca que atormentou o sertanejo em 1958 naquela região do semiárido...
Veja aqui a primeira estrofe dessa “triste partida”, mas que traz muita satisfação em ver e ouvir.
- Foto: Jacinto Teles/Gp1Nesta casa, meu pai criou mais de uma dezenas de filhos, graças a Deus nenhum se tornou bandido
“Meu Deus, meu Deus. . .
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai.” [...].
- Foto: Jacinto Teles/Gp1Momentos de inspiração e luz durante celebração
Ao término da celebração tive um breve diálogo com Pe. Antônio Cruz, assim como descrito:
JT: Qual o significado e importância de uma celebração numa data importante como essa?
Antônio da Cruz: olha, nós somos nordestinos, nós ainda dependemos da chuva, e, na nossa cultura dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, é um dia que precisa chover... os nossos ancestrais já faziam isso, embora hoje nós temos irrigação, mas não se compara à chuva vindo das alturas molhando nosso chão... e esse cantar nosso aqui é uma forma de dizer assim... ‘mesmo que não tenha chovido ainda, mais vai chover’... por que nós acreditamos é naquele que está de posse de todo o Poder. Então celebrar essa festa de Santa Luzia, é celebrar a Potência de Deus em nossas vidas, as nossas vidas está nas mãos de Deus, e de maneira bonita! Porque nós somos nordestinos, então o forró está na nossa alma. É..., o chapéu de couro dos nossos ancestrais... e nós continuamos aqui: eternos peregrinos”.
- Foto: Jacinto Teles/Gp1Oscar de Barros, presente ao evento, ao lado do Pe. Antônio Cruz
JT: E Luiz Gonzaga...?
Antônio Cruz: E Luiz Gonzaga... pelo seguinte: como é que alguém que vem lá do Exú... num é? Consegue se tornar o Rei? É porquê... o seguinte: mexeu no nosso coração. O Hino Nacional, o Hino do Nordeste é a “Asa Branca”... “Que falta eu sinto de um bem”... Que falta me faz um chodó... então são coisas muito nossas. Aí, então, nós celebramos com alegria o Dia de Luiz Gonzaga, o seu nascimento.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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