O PT pode ter avaliado mal ao decidir permanecer nos cargos do Governo

A decisão do Partido dos Trabalhadores de permanecer nos cargos que ocupa no Governo do Estado do Piauí pode não ter sido uma das mais consequentes e constrange lideranças internas que preferem esperar o resultado prático da atitude do que sair imediatamente com críticas que podem abalar a imagem da agremiação junto a setores populares mais atentos aos fatos nacionais. Um desses fatos foi a declaração do líder do PSB na Câmara Federal, Beto Albuquerque (RS), que após a entrega dos cargos federais como primeiro passo para o lançamento da candidatura de Eduardo Campos à presidência da República, pediu reciprocidade nos estados que o seu partido Governa, entre eles o Piauí.
O argumento segundo o qual a sigla permanece com os cargos porque ajudou a eleger o governador Wilson Martins não soa muito bem e projeta uma certa imagem de apego ao poder muito parecida com a cena que se verificou pouco antes da eleição de prefeito de Teresina.

Causa ainda constrangimento maior quando se sabe que o senador Wellington Dias está em plena campanha ao Governo e o deputado federal Assis Carvalho, o segundo mais importante nome do partido declara que votará em João Vicente Claudino para o Senado da República, quando todos sabem que Wilson Martins, o chefe maior do Governo em que o PT insiste em ficar, é candidato à mesma vaga de Claudino.
Além do mais, a história política quase não registra situações parecidas, de partidos aliados que seguem caminho eleitoral diferente daquele pelo qual optou a sigla que tem a supremacia do poder.Seria sem dúvida uma situação curiosa se a prática não se encarregasse, ao meu ver, de dar uma sequência lógica a essa situação até o final deste ano.

O PT parece subestimar os constrangimentos pelos quais está passando. Um dos maiores foi a declaração do vereador Rodrigo Martins, presidente da Câmara e do diretório municipal do PSB que, ao responder a queixas feitas por um colega sobre suposta diminuição de recursos numa repartição dirigida por um petista no Estado, ouviu um eloquente "os incomodados que se retirem".
É evidente que Rodrigo Martins tem uma postura altiva, é jovem, entusiasmado, mas já demonstrou seguidas vezes que faz a leitura correta do que pensa o tio governador.Ele jamais faria tal declaração por um simples arroubo de juventude, como quiseram inadvertidamente entender alguns dirigentes do partido de Wellington Dias. Para mim foi um recado oriundo daquele Palácio que fica ao lado da Igreja de São Benedito.

É razoável pensar que Wilson Martins, pelo menos nos meses finais de seu Governo, queira se desvencilhar desse manto petista que lhe cobre o governo, para substituí-lo pela bandeira que exibe uma pomba como símbolo do PSB.

Nada mais consequente e elegante do que deixá-lo bem à vontade nos próximos meses, mesmo que as coisas voltem ao mesmo curso.