A Revista Oeste publicou, na noite dessa quinta-feira (23), uma reportagem com a biomédica Rute Alves Pereira e Costa, mestre em fisiopatologia médica e doutora em ciências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre as medicações de combate à covid-19 recentemente lançadas pelas farmacêuticas Merck Sharp & Dohme (MSD) e Pfizer, além da ivermectina e da hidroxicloroquina.
De acordo com a reportagem, duas agências de saúde estrangeiras deram aval para os novos produtos e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que planeja fabricar ao menos um deles.
O medicamento Paxlovid, da Pfizer, recebeu a autorização de uso emergencial da Agência Europeia de Medicamentos no dia 16 de dezembro e da Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória sanitária dos Estados Unidos, na quarta-feira (22). Quanto ao Molnupiravir, da MSD, ele recebeu aval do FDA na quinta-feira (23), para seu uso emergencial. As autoridades britânicas de saúde também aprovaram o tratamento com ela no começo de novembro e, em outubro, a Fiocruz já havia anunciado que estudava uma parceria para produzir o medicamento em território brasileiro.
Segundo Rute Alves, que também é uma das integrantes da Sociedade Brasileira de Valorização das Especialidades Médicas, todos os quatro medicamentos “funcionam como antivirais” e têm indicação de uso precoce, sendo que a Paxlovid e a ivermectina, inclusive, agem na mesma molécula do vírus.
A especialista destacou que os dois medicamentos lançados são para uso precoce já que agem para impedir o avanço da covid-19. “A indicação dos dois medicamentos é para uso de três a cinco dias de início dos sintomas. Isso faz total sentido em qualquer doença. No caso de um tumor maligno, por exemplo, ninguém espera que ele fique do tamanho de uma laranja para começar a se tratar, trata no início. Se possível, médicos lançam mão de medidas preventivas que impeçam o surgimento da doença. No caso da covid-19 não é diferente. No início, é onde a replicação viral é mais acentuada. Se há uma intervenção já nessa etapa, esse processo é inibido e não há progressão para fases mais avançadas e também mais graves”, afirmou Rute Alves.
Questionada sobre de que maneira a utilização dessas novas medicações se assemelha ao uso da ivermectina e hidroxicloroquina, a biomédica respondeu que todas as quatro drogas são antivirais e devem ser utilizadas nas fases iniciais da doença.
“A hidroxicloroquina previne a entrada do vírus principalmente através do aumento da acidez num compartimento celular chamado endossomo, impedindo assim a replicação viral. Ela é altamente eficaz na redução da replicação viral, sobretudo, por ter uma boa capacidade de penetração em tecidos, em especial, no tecido pulmonar. Um dos principais mecanismos de ação da ivermectina é impedir que o vírus se ligue à célula na região viral 3CLpro, do mesmo jeito que o Paxlovid, da Pfizer, se propõe a fazer. Ou seja: Paxlovid e a ivermectina agem na mesma região do vírus”, explicou Rute Alves.
Em relação às diferenças entre elas, a biomédica Rute Alves argumentou que o Molnupiravir, desenvolvido pela MSD, age causando mutações na proteína que o vírus usa para se replicar e que isso difere das ações da hidroxicloroquina, ivermectina e da droga da Pfizer que, de acordo com ela, não causam mutações em proteínas virais. Já a hidroxicloroquina interfere na acidez dentro da célula e a ivermectina, assim como o Paxlovid, bloqueia uma proteína viral.
A especialista ainda reforçou que todas as quatro medicações foram estudadas com o mesmo rigor científico, ressaltando que existem até mais estudos sobre a ivermectina e hidroxicloroquina. “É importante dizer que, segundo a medicina baseada em evidências, os ensaios clínicos randomizados controlados (ECR) começam a ser, de fato, as evidências mais desejáveis para indicação de tratamento de determinada doença, seguidos das revisões sistemáticas e, por fim, as meta-análises. O que temos até o momento para as drogas da Merck e Pfizer são os ensaios clínicos randomizados de fases II/III. No caso da ivermectina já existem mais de 60 estudos (sendo 31 ECR com mais de 5 mil pacientes). Para a hidroxicloroquina não é diferente. Para ambos, contudo, não há aprovação das agências regulatórias para uso na covid-19”, concluiu.
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