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Saúde

Pessoas com câncer têm maior probabilidade de morrer por coronavírus

Estudo indica probabilidade três vezes maior nestes casos e determinadas doenças podem agravar a letalidade pela covid-19.

Pacientes com câncer - em especial aqueles que apresentam tumores no sangue ou nos pulmões, ou tumores que se espalharam pelo corpo - têm um risco mais alto de morrer ou desenvolver complicações graves por causa do coronavírus, se comparados a pacientes com outros tipos de câncer, de acordo com estudo publicado na terça-feira, 28.

A pesquisa, envolvendo 14 hospitais da província de Hubei, na China central, onde a pandemia teve início, incluiu 105 pacientes com câncer e 536 pacientes sem câncer, todos da mesma idade e infectados pela covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.


Os coautores, da China, de Cingapura e dos Estados Unidos, descobriram que pacientes com câncer que contraíram a covid-19 tiveram mortalidade quase três vezes superior em decorrência do vírus do que os 2 a 3% observados na população em geral. Pacientes com câncer também apresentaram maior probabilidade de vivenciar “eventos extremos", como internação na terapia intensiva e a necessidade de ventilação mecânica, em relação aos pacientes sem câncer.

Os fatores de risco incluem não apenas a idade, mas também o tipo de câncer, seu estágio de desenvolvimento e o tratamento usado. “São descobertas indicando que os pacientes com câncer são uma população muito mais vulnerável durante a atual epidemia da covid-19", concluíram os autores.

O estudo foi divulgado na reunião anual virtual da Associação Americana de Pesquisa do Câncer e publicado na revista da associação, Cancer Discovery. O único estudo anterior de pacientes com câncer e covid-19 incluía apenas 18 pacientes.

J. Leonard Lichtenfeld, vice-diretor médico da Associação Americana do Câncer, que não participou do estudo, descreveu-o como "importante", acrescentando que “reflete algo que já tínhamos ouvido antes - pacientes com câncer são mais suscetíveis ao vírus, o desenvolvimento da infecção é pior, e o resultado final, também". Ele disse que o estudo ainda era relativamente pequeno, e seria necessário analisar milhares de outros pacientes.

A aparente alta no risco de morte e outras complicações graves decorrentes do vírus estão entre os perigos enfrentados pelos pacientes com câncer enquanto eles tentam sobreviver em meio a uma pandemia que provocou atrasos em alguns tratamentos, o fechamento de muitos testes clínicos para novos pacientes e a escassez de analgésicos essenciais, disse Howard Burris, diretor médico e diretor executivo do Instituto de Pesquisa Sarah Cannon, em Nashville, Tennessee, e presidente da Associação Americana de Oncologia Clínica (ASCO).

“Enfrentamos grandes desafios para oferecer aos pacientes o melhor cuidado", disse ele em coletiva de imprensa da ASCO na semana passada. Ele destacou que alguns hospitais “passaram a considerar todas as cirurgias de câncer como eletivas", exigindo o seu adiamento. Ainda que atrasos desse tipo sejam toleráveis para pacientes cuja doença se encontra em fase inicial, a demora pode ser devastadora para "pacientes com câncer em desenvolvimento acelerado ou difícil de tratar", alertou ele.

Mais de 1,8 milhão de novos casos de câncer devem ser diagnosticados nos EUA em 2020, de acordo com a Sociedade Americana do Câncer, e mais de 606.000 pessoas devem morrer da doença.

Lichtenfeld disse esperar que alguns sistemas de saúde comecem a tratar mais pacientes sem covid-19 nas próximas semanas e meses. “Não será igual em todas as partes do país", disse ele, “mas estamos começando a avançar. Isso não significa que não estamos mais em situação difícil, mas os sistemas de saúde estão tentando descobrir a melhor maneira de relaxar as restrições a algumas cirurgias eletivas".

O estudo recém-publicado envolvendo pacientes com câncer e covid-19 mostrou que pacientes com leucemia, linfoma e mieloma - doenças nas quais o câncer ataca o sistema imunológico - estavam entre aqueles que apresentaram mais complicações graves. Pacientes com câncer gastrointestinal e de pulmão também apresentaram alto risco de um desfecho ruim.

Além disso, pacientes com câncer que passaram por cirurgia como parte do tratamento apresentaram maior probabilidade de um resultado ruim do que os operados sem câncer, e aqueles submetidos a radioterapia tiveram resultado parecido. Pessoas com a doença nos estágios iniciais - tumores malignos localizados - tiveram resultado semelhante ao dos pacientes sem câncer.

Para Deborah Silverman, de 29 anos, estudante de doutorado no Centro MD Anderson para o Câncer, em Houston, a epidemia teve um impacto direto no seu tratamento. Diagnosticada no ano passado com um dos tipos de câncer de mama mais agressivos, ela passou por quimioterapia, cirurgia e radiação, e agora voltou à quimioterapia. Ainda assim, Deborah tem resíduos da doença e uma chance de recorrência de 50% a 60%. Para reduzir o risco, ela planejava entrar em um teste clínico de imunoterapia, que estimula o sistema imunológico para que ataque o câncer.

Mas o teste, como muitos em todo o país, não está recebendo novos participantes como resultado da pandemia, o que a obriga a prolongar o regime de quimioterapia. Um dos efeitos colaterais são as bolhas nos pés e dedos, que tornam dolorosas atividades como a ioga ou mesmo andar.

Deborah espera logo mudar para a imunoterapia, que tem menos efeitos colaterais do que a quimioterapia. “É o único teste disponível no momento para alguém na minha posição", disse ela. “Queremos todas as chances possíveis".

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