As falhas de comunicação sobre os dados de eficácia começaram dentro do governo paulista, dias atrás. Enquanto a expectativa do governador João Doria (PSDB) era de alto índice de eficácia, pesquisadores do Instituto Butantan e servidores técnicos do governo paulista já esperavam que a taxa poderia ficar abaixo da anunciada pela americana Pfizer (95%).
Eles se baseavam em questões técnicas. São poucos os imunizantes que atingem 90% de eficácia - o da gripe, por exemplo, tem desempenho médio de 40% a 70%. Além disso, vacinas que usam vírus inativados, como a Coronavac, não costumam provocar uma resposta imune tão contundente, embora apresentem menos eventos adversos e sejam mais seguras.
Mesmo com o tom de cautela dos pesquisadores, que só receberam os dados finais da análise feita por um comitê independente de especialistas um dia antes da coletiva, integrantes do alto escalão da gestão João Doria chegaram a vazar para a imprensa que a eficácia era superior a 90%. A informação foi negada pelo Butantan e, nos bastidores, causou revolta entre os pesquisadores do instituto, que, reservadamente, zombaram que o autor do vazamento só poderia ter acesso a esse dado se fosse vidente.
A ausência de João Doria nesta quarta-feira foi uma forma de poupá-lo de eventual desgaste. Ele também não participou de coletivas recentes em que o endurecimento da quarentena foi anunciado. Por outro lado, esteve presente em coletivas para anúncio do início da produção da Coronavac e na recepção do carregamento de doses no aeroporto de Guarulhos. O resultado de que o índice mínimo de eficácia foi superado virou motivo de alívio para pesquisadores, mas criou frustração na ala do Palácio dos Bandeirantes que esperava um resultado que desse ainda mais força à vacina diante das disputas com o presidente Jair Bolsonaro.
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