A informação de que a vacina desenvolvida pela farmacêutica Pfizer e a empresa de biotecnologia BioNTech apresentou eficácia de mais de 90% contra o novo novo coronavírus, na comparação com pessoas que receberam placebo, foi classificada como "animadora" por especialistas em epidemiologia, infectologia e virologia ouvidos pelo Estadão. Eles destacam, porém, que ainda é necessário esperar o fim dos estudos e que o resultado apresentado não significa que as demais vacinas ficaram para trás na corrida por um imunizante para frear a covid-19.
"É uma boa notícia, sem dúvida, porque a gente estava com uma expectativa de proteção em torno de 50%. Claro que são resultados iniciais e temos de esperar até o final de novembro para ver se isso realmente se confirma. Essa tecnologia pode servir de modelo para outros laboratórios", avalia Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, dos Estados Unidos, Denise Garrett pondera que ainda é necessário esperar os dados sobre 164 casos confirmados para seja conhecida a real eficácia da vacina. Segundo ela, é "animador", mas "isso não é o resultado final, ainda é uma análise preliminar."
Outro ponto é que ainda é preciso aguardar dois meses após os voluntários terem tomado a segunda dose da vacina para verificar se houve algum episódio de efeito colateral grave. O Brasil não tem um acordo firmado com a Pfizer para compra do imunizante, mas o Ministério da Saúde informou que "tem trabalhado em diversas frentes para alcançar com agilidade e segurança uma solução efetiva para a cura da covid-19 no Brasil" e que todas as vacinas com estudos avançados no mundo estão sendo analisadas, inclusive a do laboratório Pfizer".
Segundo Raquel, a vacina desenvolvida pelo laboratório demandaria uma logística que pode ser considerada difícil para um país com as dimensões e desigualdades como o Brasil. "É uma vacina difícil, porque deve ser mantida a -80 ºC e isso traz grandes dificuldades ao se pensar em vacinação em larga escala. Em um País continental como o nosso, que não tem freezer em todas as salas de vacina. É uma logística difícil. Ainda não se sabe quanto o Brasil poderá se beneficiar com ela. Talvez fosse necessário suporte da própria indústria para viabilizar (o processo)."
Virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio da Fonseca ressalta a relevância da notícia, mas diz que ela não quer dizer que a vacina da Pfizer é a mais avançada. "Apesar de a empresa ter liberado os dados agora, os testes de fase 3 estão sendo conduzidos ao mesmo tempo e não tem como acelerá-los. Ela liberou os dados preliminares antes das outras empresas, mas não quer dizer que está na frente."
Fonseca diz que os trabalhos dos demais laboratórios vão continuar e que é fundamental que o mundo conte com mais de um imunizante diante da situação da pandemia. "Nenhum laboratório hoje tem condições de produzir a quantidade de vacinas para toda a população mundial. Vamos precisar de mais de uma vacina."
Em São Paulo, o Instituto Butantã vai produzir a Coronavac, imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac Life Science. Na noite de segunda-feira, porém, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mandou suspender os testes, após registro de evento adverso grave. A previsão do Butantã era de 13 mil voluntários e participação de 16 centros de estudo.
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