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Rio de Janeiro - Rio de Janeiro

Professor brasileiro-congolês recebe título Honoris Causa na UFRJ

Kabengele Munanga é professor aposentado da USP. A cerimônia acontecerá nesta terça-feira (25), às 15h

Nesta terça-feira (25) a Universidade Federal do Rio de Janeiro deve entregar em Cerimônia o título de Doutor Honoris Causa ao professor Kabengele Munanga. A celebração acontecerá às 15h, através do canal de webTVURFJ.

O antropólogo de 79 anos, é de origem congolesa, natural da cidade de Bakwa-Kalonji. É graduado em Antropologia Social e Cultural pela Universidade Oficial do Congo (1964 – 1969) onde foi professor assistente. Em 1969 fez seus estudos de pós graduação na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica e foi pesquisador no Museu Real da África Central, em Tervuren, Bruxelas. Radicou-se no Brasil em 1975 e em 1977 concluiu seu doutoramento na Universidade de São Paulo, onde se tornou professor titular do Departamento de Antropologia Social. Atualmente, é aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).


Foto: Divulgação/UFRJProfessor Kabengele Munanga recebe título de Doutor Honoris Causa da UFRJ
Professor Kabengele Munanga recebe título de Doutor Honoris Causa da UFRJ

Após desenvolver trabalhos nas áreas de Antropologia da África e da População Afro-Brasileira, com ênfase em temas como o racismo. Kabengele Munanga foi um dos principais articuladores sobre a temática das cotas raciais, promulgada através da Lei 12. 711 de 2012

O Conselho Universitário da URFJ realizará a entrega do título. Em 2 de junho (próxima quarta-feira), Munanga ministrará a aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Direitos Humanos (PPDH), às 18h30.

A cerimônia está atrasada em um ano. A mesma seria realizada em 20 de março de 2020 e teve de ser cancelada, devido à pandemia de Covid-19. A proposição do título foi feita em fevereiro de 2019.

Professor Munanga em Teresina: "pessoa calada, e sempre sorridente e disposta a ensinar".

Em 2017, Kabengele Munanga este presente em Teresina, na Universidade Estadual do Piauí para realizar o encerramento do África Brasil, evento organizado através no Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro. O evento, que realizou sua VI edição, é reconhecido internacionalmente e tem como coordenadora a professora a Dra Iraneide Soares da Silva, do Departamento de História da instituição.

Iraneide, que estuda a obra do autor há mais de 20 anos, conversou com o GP1 sobre a relevância e necessária contribuição do docente na construção do pensar do negro na sociedade brasileira. Descrito como uma pessoa calada, porém sorridente e que sempre se mostrou disposta a ensinar e aprender.

“Eu conheci em 2003, quando trabalhava no Ministério da Educação, e o professor sempre esteve presente conosco nos eventos. Nossa aproximação se deu a partir desse momento e, sempre querendo aprender com os conhecimentos por ele disseminados”, descreve a professora.

Antes do alastramento do coronavírus, em 2020, a professora teve a oportunidade de se encontrar com o homenageado, em São Luís do Maranhão. Neste período, participaram da banca para professor titular na Universidade Federal do Maranhão.

Foto: Reprodução / Arquivo pessoalProfessora Iraneide Soares e professor Kabengele Munanga, na UFMA.
Professora Iraneide Soares e professor Kabengele Munanga, na UFMA.

“Hoje merecidamente o professor recebe o título na UFRJ e para nós é um título merecido e honroso. Eu e todo meu coletivo estamos nos sentindo honrados e reafirmamos sempre que, pela contribuição dado por ele ao pensamento negro brasileiro, estamos em comemoração”, disse a professora sobre a honraria recebida hoje.

Um respiro para as gerações que virão

Para Victor Cantuaria, bacharelando em Dança e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisar Etnomusicológicos Negô, associado ao Laboratório de Etnomunicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Munanga é descrito como um “respiro”. Jovem, Victor utiliza o corpo através da dança para criar imagens, localizar o ser e estar enquanto existência preta na Diáspora.

Para ele, pensar a permanência no espaço da universidade e a ausência de diálogo entre as bibliografias quando se diz respeito à forma de tratamento dos saberes das pessoas negras, que são, acima de tudo, plurais.

“Sou de um campo no qual a gente pensa sobretudo sobre o ser e sobre o estar, sobre criar imagens a partir do corpo, que é a dança. Dentro de um cenário no qual o corpo docente geral da instituição é supremacistamente branco, ter o professor Kabengele recebendo essa titulação é para o corpo discente um respiro dentro de tantas necessidades nossas enquanto alunes”, disse o estudante.

Foto: Reprodução / Arquivo pessoalVictor Cantuária, estudante de Dança na UFRJ e pesquisador
Victor Cantuária, estudante de Dança na UFRJ e pesquisador

Reconhecer este mais velho é um caminho a ser seguido em detrimento das convencionais disciplinas ministradas.

“O reconhecimento dele e das discussões as quais ele aborda aponta pra nós um caminho que está diretamente ligado aos debates que hoje eclodem com a entrada "massiva" de alunes negres por meio das ações afirmativas e parece ser sim um grande ganho para nós que temos sempre cânones brancos (brancos mesmo, homens) como referenciais bibliográficos”.

Cerimônia ocorre na celebração do Dia da África

No mesmo 25 de maio, 30 dos 32 Estados africanos Independentes assinaram em 1963 a carta que fundou a Organização de Unidade Africana (OUA). A cerimônia ocorreu em Addi Abeba, na Etiópia. Hoje, a instituição denominada União Africana foi responsável por oficializar a luta contra o colonialismo e o apartheid. A data foi reconhecida em 1972 pela Organização das Nações Unidas, quando foi estabelecido o Dia da África.

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