O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entrou na mira do governo, da oposição e do mercado financeiro após protagonizar uma das maiores crises do governo atual por conta da medida provisória da Receita Federal que determinava que fintechs e operadoras repassassem ao Fisco dados das transações via Pix e cartões.
O governo atribuiu o desgaste a fake news sobre a taxação da ferramenta, mas o argumento não convenceu as críticas. Com isso, a Receita foi obrigada a revogar a medida em um recuo que consolidou o desgaste do ministro no governo.
Em reunião na segunda-feira (20), sem citar Haddad, Lula reclamou do episódio e proibiu os ministros de editarem novas portarias sem consultar a Casa Civil. “Daqui para frente nenhum ministro vai poder fazer portaria que crie confusão para nós sem que essa portaria passe pela Presidência da República através da Casa Civil”, disse o mandatário a seus ministros.
“Muitas vezes a gente pensa que não é nada, mas alguém faz uma portaria, faz um negócio qualquer, e daqui a pouco arrebenta e vem cair na Presidência da República”, completou.
Lula também disse que vai conversar individualmente com cada ministro sobre as ações programadas para as pastas. A fala foi vista como aviso sobre possíveis substituições, amplificando especulações sobre a reforma ministerial.
O presidente teria dito que a bronca não era endereçada ao ministro da Fazenda. Rui Costa, chefe da Casa Civil, adversário de Haddad em disputas internas, minimizou o ocorrido e disse, após a reunião ministerial, que o ministro saiu mais forte do episódio. “Haddad não saiu enfraquecido. O que se montou foi uma notícia facciosa, mentirosa para tentar aterrorizar a população. O governo já afirmou que, em hipótese alguma, foi pensado taxar o Pix. Às vezes, um episódio como esse acende que é preciso estar afinado, então saímos mais fortes, o ministro Haddad saiu mais forte”, argumentou.
Para os analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a situação do ministro piorou ainda mais com uma entrevista dada à CNN, na ocasião, Haddad driblou as perguntas sobre a alta da trajetória da dívida pública, minimizou a crise de confiança do mercado financeiro e atribuiu à crise do Pix a fake News sobre a taxação da ferramenta.
Na mesma entrevista, Haddad acusou o partido de Jair Bolsonaro, o PL, de estar por trás do vídeo de Nikolas Ferreira. O ex-presidente afirmou que irá processar o ministro, que também acusou o governo anterior pelo desequilíbrio das contas públicas, ampliando a repercussão negativa. O ministro também atacou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pelo episódio das “rachadinhas” em seu gabinete, numa alusão à necessidade de controle da Receita Federal sobre as transações. "Então não adianta esse pessoal que comprou mais de 100 imóveis com dinheiro de ‘rachadinha’ ficar indignado com o trabalho sério que a Receita está fazendo. O Flávio Bolsonaro, em vez de criticar o governo, deveria se explicar, como que ele, sem nunca ter trabalho, angariou um patrimônio espetacular.”
Após o episódio, Flávio Bolsonaro apresentou queixa-crime contra o ministro no Supremo Tribunal Federal (STF) por calúnia, injúria e difamação. A Justiça do Rio de Janeiro arquivou a denúncia contra o senador em 2022. Flávio também entrou com uma ação por danos morais no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) pedindo indenização e o pagamento das custas processuais. Na última terça-feira (21), o ministro do STF André Mendonça deu 15 dias para Haddad se manifestar no processo.
Ainda segundo a CNN, Haddad também estará na mira dos influenciadores da direita porque a oposição avalia que o presidente Lula pode não se candidatar à reeleição e o ministro da Fazenda seria o mais provável substituto. Sergio Praça não acredita nessa possibilidade. “Haddad não teria apoio do PT nem dos partidos do Centrão”, explicou.
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