Após o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, se sentir incomodado com vaias que recebeu em ato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com sindicalistas e militantes, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) agiu para tentar atrair o apoio do dirigente partidário à terceira via e a uma eventual candidatura do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) ao Palácio do Planalto.
O deputado organizou um encontro entre Leite e Paulinho nesta segunda-feira, 18, em São Paulo. “Tivemos uma boa conversa. O Paulinho queria conhecer um pouco mais de perto as ideias do Eduardo”, disse Aécio ao Estadão/Broadcast. “O Solidariedade esteve conosco em 2014 e, por mais que tenha se aproximado nesta campanha da candidatura do Lula, existe sempre a possibilidade, se houver realmente uma única terceira via, de atrairmos outras forças. Foi uma primeira conversa, mas positiva”, emendou.
De acordo com Aécio, Leite vai intensificar a articulação política nos próximos dias. Nesta segunda-feira, 18, o deputado também se reuniu com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB), em São Paulo, para discutir as perspectivas de uma candidatura da terceira via à Presidência.
“Não é hora mais de vaidade, de projetos pessoais, é hora de termos responsabilidade com o País. Eu tenho defendido o nome do Eduardo, mas, se surgir outro com melhores condições, que seja ele. Mas não tenho visto isso no cenário hoje”, disse Aécio.
No Twitter, Paulinho publicou uma foto em que aparece ao lado de Aécio e Leite. “Estive hoje com o meu amigo e deputado Aécio Neves e com o ex-governador Eduardo Leite (RS). Leite me explicou sobre o seu trabalho para ser candidato a presidente da República pela terceira via”, escreveu. O gaúcho também registrou o encontro na rede social, mas ocultou Aécio da foto.
Vaias
Na semana passada, o presidente do Solidariedade cancelou um ato que havia marcado para 3 de maio, quando anunciaria apoio oficial da legenda à pré-candidatura de Lula ao Palácio do Planalto. A decisão ocorreu após ele ser vaiado em encontro do petista com as principais centrais sindicais do País na última quinta-feira, 14.
“Eu fiquei bastante incomodado porque, em nenhum momento a direção do PT, nem o Lula, nem a Gleisi, foram ao microfone dizer que tinha de fazer uma aliança mais ampla, que envolvesse não só o Solidariedade, mas também outros partidos de centro”, disse Paulinho, ao Broadcast Político, na última sexta-feira, 15. Um dia depois, o dirigente partidário descartou, contudo, apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O PT tenta evitar que o apoio do Solidariedade migre para outro candidato. Neste sábado, 16, Lula replicou no Twitter uma mensagem da presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, em que ela exalta Paulinho e seu partido. “Todos juntos para restituir o diálogo, o respeito, os direitos dos trabalhadores e a democracia”, escreveu Lula.
Ao Estadão/Broadcast, Gleisi atribuiu as vaias a Paulinho a disputas no movimento sindical. O presidente do Solidariedade também comanda a Força Sindical. “[A vaia] Foi de um pequeno grupo e não tem nada a ver com o PT. A maioria da nossa militância entende como importante o apoio e presença do Solidariedade e dele [Paulinho] na coligação com Lula", disse a deputada na última sexta-feira, 15.
Alguns petistas costumam lembrar que o presidente do Solidariedade votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. No palco, ao lado de Lula, contudo, estava também o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), anunciado como vice na chapa do petista e que também apoiou, à época, a destituição de Dilma.
Terceira via
O Solidariedade é um dos poucos partidos de centro dispostos a apoiar Lula já no primeiro turno da eleição. O grupo formado por União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania, por exemplo, fechou um acordo para anunciar, até 18 de maio, um candidato único da terceira via ao Palácio do Planalto. O objetivo é acabar com a polarização entre o petista e Bolsonaro, que lideram as pesquisas de intenção de voto - Lula aparece na frente, mas o presidente tem recuperado terreno.
Na última quinta-feira, 14, o União Brasil anunciou a pré-candidatura à Presidência do deputado Luciano Bivar (PE), presidente da sigla. Nos bastidores, porém, ele é apontado como um candidato a vice na eventual chapa da terceira via. Além de Bivar, estão oficialmente na disputa a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que enfrenta a oposição da ala “lulista” de seu partido, e o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB). Alguns tucanos, como Aécio, contudo, tentam emplacar o nome Eduardo Leite.
Sem perspectiva de recursos para sua campanha presidencial no Podemos, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, por sua vez, decidiu migrar para o União Brasil, mas a ala do partido liderada pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto não tem interesse em lançá-lo ao Planalto. No fim, o partido optou pelo nome de Bivar, embora o próprio Moro não tenha desistido da ideia de concorrer a presidente e venha dizendo nos últimos dias que ainda está “no jogo presidencial”.
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